Ouro negro brota em meio a Amazônia
2006-05-08
A Amazônia é uma região que desperta interesse de todo o planeta, graças a sua rica fauna e abundante flora, além da maior bacia hidrográfica do mundo e da mais extensa rede fluvial, com 80 quilômetros de rios navegáveis. Não bastasse tanta beleza natural, é justamente nessa região que se extrai petróleo de alta qualidade - o mais leve entre os processados em refinarias do País e a segunda maior produção brasileira. Em meio a floresta, a 650 quilômetros de Manaus, fica Urucu. Um complexo industrial com produção diária de 60 mil barris de petróleo, e que responde ainda por 10 milhões de metros cúbicos de gás natural e 1.500 toneladas de gás de cozinha (GLP), o equivalente a 115 mil botijões de 13 quilos.
No local, uma infra-estrutura com condições de trabalho, segurança, saúde, habitação, alimentação, lazer e transporte foi montada. Atualmente, vivem em Urucu 905 pessoas - destas, apenas 130 são empregados da estatal, o restante são funcionários terceirizadas. Urucu existe há 20 anos. E é na base Geólogo Pedro Moura que a Petrobrás se orgulha de consegue explorar petróleo no meio de um dos maiores santuários ecológicos do mundo, e ainda realizar uma ocupação responsável, gerando conhecimento e promovendo o desenvolvimento sustentado.
O complexo industrial de Urucu abastece os Estados do Pará, Amazonas, Rondônia, Maranhão, Tocantins, Acre, Amapá e parte do Nordeste. Antes de ser descoberta, a província petrolífera era apenas um campo de estudos, pesquisas e tentativas de exploração de petróleo na região Amazônica.
As primeiras tentativas de encontrar tipos de combustíveis na Amazônia datam do início do século. O primeiro poço foi perfurado em 1917, através do Serviço Mineralógico do Brasil (SMG), órgão do governo federal criado em 1905 para localizar jazidas de carvão e outros combustíveis. Em 1925, o SMG inaugurou na cidade de Itaituba, no Pará, a primeira cidade com iluminação pública a gás natural, mas foi apenas em 1948 que se iniciaram os primeiros levantamentos sísmicos na Amazônia com o objetivo de encontrar especificamente gás natural e petróleo.
A instalação da companhia se deu em 1954, e um ano depois a Petrobrás começou a descobrir as primeiras reservas de petróleo na região, mais precisamente nos municípios amazonenses de Nova Olinda, Autaz Mirin e Maués, localizados na Bacia do Amazonas. Em março de 1955 o primeiro poço perfurado na imensidão amazônica começou a produzir petróleo. A primeira descoberta significativa, porém, se deu apenas na década de 70, quando foram intensificadas as pesquisas na Bacia do Solimões.
Em 1986 foram descobertos óleo e gás em níveis comerciais na região localizada próximo ao rio Urucu. Nascia então a Província Petrolífera de Urucu. Hoje, a base de Urucu dispõe de um aeroporto, dois portos e 120 quilômetros de estradas, sendo 71 deles pavimentadas. A estrutura consome diariamente 11 mil metros cúbicos de gás natural, já que tudo é movido a gás, até mesmo os veículos. A repórter viajou a convite da Petrobras.
Lixo e esgoto são tratados para evitar qualquer dano à natureza
Na Província Petrolífera de Urucu o meio ambiente é o xodó. Há um parque de tratamento de resíduos onde é feita a reciclagem, compostagem, tratamento de água e esgoto e tudo o que for preciso para evitar qualquer dano à natureza. São cerca de 164 toneladas de lixo, ou 1,73 quilo de resíduos por habitante/dia. Os restos de alimentos são transformados em adubo para reflorestamento. O material que não pode ser reaproveitado é incinerado num processo que elimina gases tóxicos e resulta em fumaça limpa. O incinerador chega a queimar entre 70 e 100 quilos de resíduos por hora. As cinzas são depositadas em aterros inertes, sob uma camada de barro onde é feito o plantio de grama.
Já o material reciclável é prensado, embalado e enviado em balsas para Manaus, onde é comercializado. A viagem entre Urucu e Manaus leva uma semana. Há ainda a estação de tratamento de efluentes domésticos, depósito de produtos recicláveis, galpão de produtos perigosos e as áreas de prensagem, pesagem, trituração e incineração. Por toda a base, a coleta seletiva é incetivada. Oito tipos de recipientes, num total de 506 unidades, são distribuídos pela província.
A estação de tratamento de efluentes domésticos conta com nove tanques com capacidade para tratamento de 240 mil litros de esgoto. Diariamente, são produzidos na base entre 40 e 50 mil litros. Ao final do processo, a água sem contaminação volta para os rios. Além da preocupação com o meio ambiente, o cuidado com a saúde dos trabalhadores é permanente. A base oferece um treinamento para evitar acidentes e, semestralmente, todos passam por exames de saúde.
Todo o projeto ambiental iniciou quando Urucu era apenas uma clareira aberta na mata, com poços e alojamentos, e um grupo de cientistas desembarcou na região para estudar as medidas que reduzissem o impacto ambiental da exploração e da produção de petróleo. Era 1988, dois anos após a descoberta da reserva. As sugestões foram reunidas num documento elaborado pela equipe formada por médicos, biólogos, botânicos, geólogos, geógrafos, ecólogos e engenheiros.
As sugestões, que foram obedecidas à risca, tratavam desde o destino dos resíduos na produção de petróleo até a abertura de estradas e o reflorestamentos. A transformação da clareira numa cidade-indústria, quase 20 anos depois, com níveis de impacto ambiental controlados, chama a atenção de ambientalistas que visitam a base. "Todos esses cuidados adotados nas operações de produção, processamento e transporte de óleo e gás em Urucu, associados às normas rígidas de segurança, seguidas por toda a força de trabalho, tornaram as atividades da Petrobras na Amazônia um exemplo de sustentabilidade e conciliação da exploração dos recursos naturais com a preservação ambiental", afirma o diretor da base, José Maria Cardoso.
Viveiro garante reprodução de espécies nativas
Outro trabalho desenvolvido na base é o viveiro de mudas monitorado por profissionais especializados. "No viveiro existem quatro tipos de luminosidade para que as plantas possam germinar. Muitas delas, ao atingir 30 ou 40 centímetros, acabam transferidas para locais onde o viveiro fica a céu aberto, evitando a mortalidade das mudas, que chega a obter índice zero", explica o técnico agrícola Vanderlan Camilo de Souza. "O trabalho de reflorestamento é feito há 10 anos, e pelo menos 97% das áreas degradadas por causa da construção de poços de petróleo estão reflorestadas", garante.
No total, 23 pessoas trabalham no projeto. Destaque para o mateiro Clóvis Lima da Silva e para o trepador, especiaista em escalar árvores, Moacir Nonato da Silva: dupla fundamental para o orquidário e o viveiro de mudas. Moacir desenvolveu agilidade na hora de escalar as árvores. São pelo menos 15 árvores por dia, de onde recolhe sementes seguindo a orientação do mateiro, a quem cabe indicar a localização das espécies. O viveiro conta com aproximadamente 86 mil mudas de espécies nativas da região amazônica. São 60 espécies diferentes e, para algumas delas, a multiplicação em viveiro é obtida em larga escala. A escolha das espécies está baseada na reprodução, já que elas florescem a céu aberto, gerando sombra e criando condições ambientais para o crescimento de outras espécies nativas.
Em cada clareira aberta para a perfuração de poços petrolíferos é feito um cuidadoso trabalho de recomposição da cobertura florestal, mantendo-se apenas uma pequena área para os equipamentos de produção de petróleo e gás natural. Tudo feito rigorosamente conforme procedimentos documentados, previamente estabelecidos por especialistas, e revisados sistematicamente para garantir técnicas cada vez melhores e resultados em constante evolução.(A Notícia, 08/05/06)