Gás boliviano abastece 1,2 milhão de casas no Brasil
2006-05-08
O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, garantiu anteontem que, apesar da crise entre Brasil e Bolívia, não faltará gás natural no País. Isso é o que esperam 1,24 milhão de famílias brasileiras que trocaram o gás de botijão pelo gás natural canalizado nos últimos anos, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), o contingente de consumidores residenciais. A troca ajudou a impulsionar o crescimento anual do mercado brasileiro de gás. Mas a expansão anual supera 15% e é fonte de preocupação de especialistas, que alertam para o descompasso atual entre a demanda (das residências, inclusive) e a oferta.
O consumo residencial em relação à demanda do País é pequeno. Em março, segundo a Abegás, o consumo residencial diário de gás foi de 583,3 mil m3 por dia - na indústria, o consumo foi de 24 milhões de m3 por dia no mesmo mês. A área residencial equivale a apenas 1,36% do consumo de gás no País. É pouco em volume, mas é representativo em número de clientes. Rio de Janeiro e São Paulo são as duas cidades que mais consomem gás natural em residências. Segundo a CEG, concessionária da Região Metropolitana do Rio, a área na qual opera tem 701,2 mil consumidores residenciais, o que lhe garante a condição de maior distribuidora do País nesse mercado.
Responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, do Vale do Paraíba, Baixada Santista e região administrativa de Campinas, a Comgás é a segunda no ranking. Até março, a concessionária paulista - maior em volume de venda de gás do Brasil - tinha 483,5 mil clientes residenciais. Segundo a empresa, em abril o total já chegava a meio milhão.
Consumidores
Wagner Tomazzini, professor universitário, é um desses consumidores. Há 15 anos é usuário de gás natural e nunca teve uma queixa do produto. Usa gás só para o fogão. O edifício onde mora é antigo e não dispõe de infra-estrutura para usar gás no aquecimento de água para chuveiro ou torneiras.
O consumo mensal, de 7m3 a 11m3, garante uma conta de R$ 20 a R$ 25. Nunca avaliou se esse valor é mais caro ou mais barato em relação ao botijão. E nem se dá conta de que é abastecido por um produto que viaja mais de 3 mil quilômetros. De todo o gás distribuído em São Paulo, 74% vem da Bolívia. O restante vem das bacias de Santos e de Campos.
Wagner lembrou que é consumidor de gás natural dias atrás, quando viu o ex-cocaleiro e hoje presidente da Bolívia Evo Morales anunciar na televisão a nacionalização dos ativos petrolíferos no país. Não se preocupou muito, confessa.
A dona de casa Marisa Chiaparini também ouviu o zunzum sobre a crise do gás. Não entendeu tudo, mas preocupa-se apenas com o risco de faltar o produto. "Nunca faltou."
(Estado de São Paulo, 8/5)