Em ato contra "Papeleiras" no Uruguai, Kirchner reafirma compromisso de todo país com a questão
2006-05-08
Comprando de vez a briga com o Uruguai, o presidente argentino Néstor
Kirchner liderou na sexta-feira (05/05) um ato que reuniu 40 mil
pessoas em Gualeguaychú, na província de Entre Ríos.
Essa cidade fronteiriça foi palco das maiores manifestações contra a
instalação de duas fábricas de celulose no município uruguaio de Fray
Bentos, na disputa conhecida como guerra das papeleiras. - Entre Ríos e a cidade de Gualeguaychú não estão sozinhas na luta por
esse direito (de preservar o meio ambiente). Toda a Argentina está
comprometida em resolver essa controvérsia - disse Kirchner.
O ato ocorreu 24 horas após a Argentina ter apresentado uma queixa
contra o Uruguai no Tribunal Internacional de Haia por descumprir
tratados bilaterais - no caso, o Estatuto do Rio Uruguai. Na ação,
pede que o tribunal ordene a interrupção da construção das fábricas -
uma pertencente à empresa finlandesa Botnia e a outra à espanhola Ence
- em Fray Bentos, do lado oriental do rio, na frente de Gualeguaychú.
Mais do que um ato em defesa do meio ambiente, o presidente argentino
deu uma demonstração de força política ao reunir 19 governadores,
prefeitos, deputados e sindicalistas à beira do Rio Uruguai:
- Esta é uma questão ambiental que afeta as cidades uruguaias e
argentinas e que a República Argentina assume como um problema seu.
Temos razão, a lei está do nosso lado.
Em resposta às críticas do colega Tabaré Vázquez, presidente do país
vizinho, Kirchner admitiu os problemas ambientais enfrentados pela
Argentina, mas argumentou que toda a produção anual de celulose
argentina não chega à "metade do que produziriam por ano, em um único
lugar, as usinas de Fray Bentos".
Estima-se que as fábricas da Ence e da Botnia, distantes apenas cinco
quilômetros uma da outra, produzirão 1,5 milhão de toneladas de
celulose por ano. Um total de US$ 1,8 bilhão deve ser investido nessas
fábricas, o que representa o maior investimento estrangeiro da história
do Uruguai.
Um apedido publicado ontem em jornais uruguaios pelo movimento
ecologista Greenpeace procurou evidenciar ainda mais o caráter
político da preocupação ambiental de Kirchner. "Há mais de uma dezena
de papeleiras que hoje contaminam os rios argentinos, e você não possui
nenhuma política para detê-las. O Greenpeace tem um plano para regular
essas plantas e evitar a contaminação que delas se origina", afirma o
comunicado, acompanhado de uma montagem de Kirchner com um nariz de
Pinóquio.
(ZH / CP, 06/05/06)