País gastaria pelo menos seis anos para ter produção de gás que importava da Bolívia, diz professor
2006-05-08
O professor da pós-graduação do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), Célio Bermann, avalia que o Brasil não tem uma solução imediata para a substituição do gás boliviano.
"Os investimentos e o tempo necessários para que possamos atingir, na produção doméstica, o mesmo percentual hoje utilizado por meio da importação do gás boliviano é de algo em torno de US$ 1,5 bilhão e de pelo menos seis anos. Isso para aqueles campos que mostraram ser bastante promissores, principalmente a Bacia de Santos", afirmou, em entrevista à Agência Brasil.
Após a nacionalização das reservas naturais de gás e petróleo da Bolívia, a nova medida a ser tomada pelo presidente Evo Morales deverá ser o aumento no preço do gás exportado. De acordo com o professor, o gás que chega hoje ao Brasil tem um custo de US$ 3,5 por milhão de BTU - medida utilizada para quantificar financeiramente o gás natural. Com a nacionalização, a perspectiva é que aumente para US$ 5,3 por milhão de BTU.
"Isso vai encarecer, no mercado interno brasileiro, a utilização do gás natural. Se a gente leva em consideração o preço do gás natural no mercado internacional, ainda é um valor inferior, já que está na ordem de US$ 6 a US$ 7 por milhão de BTU", ponderou.
Bermann explicou que o custo hoje no Brasil é o que as concessionárias pagam pela aquisição do gás natural, que é extraído na Bolívia e depois transportado pelo gasoduto até o lugar em que é recebido pela concessionária, sendo depois distribuído para o consumo.
A etapa mais cara da importação, segundo ele, é a do custo de exploração. "A recuperação do gás natural exige um investimento na prospecção, na avaliação e, depois, em equipamentos que permitam a recuperação do gás natural", disse. "Esse último investimento, particularmente, foi feito pelas empresas que até o 1º de maio [quando Morales anunciou a nacionalização] exploravam o gás natural. Além da Petrobras, a espanhola Repsol e a britânica British Gas", disse.
Na opinião do professor, o importante agora é viabilizar o uso do gás natural no mercado interno sem que punir diretamente o consumidor final. "De qualquer forma, vejo que a situação de um possível aumento do preço do gás natural vai exigir, da parte do consumo brasileiro, uma série de medidas que garantam maior eficiência no aproveitamento deste gás", observou.
Custo da energia a partir do gás vai se aproximar da hidroeletricidade, segundo especialista
Custo de geração de energia termelétrica a partir do gás é mais alto do que o das hidrelétricas, mas existem vantagens em se investir nessa fonte. A avaliação é do professor de pós-graduação em energia, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), Célio Bermann. Uma delas é a tendência a médio prazo do custo das duas formas de produção se aproximarem.
Segundo o especialista, o custo de geração de hidroeletricidade atualmente é da ordem de US$ 38 a US$ 42 o megawatt/hora. Já o da termoeletricidade é de cerca de US$ 60. "Na medida em que os custos com a gestão adequada dos reservatórios e com o ressarcimento das populações que normalmente são atingidas e deslocadas de forma compulsória para a formação dos reservatórios entrarem na composição do investimento, o custo da hidroeletricidade a médio e longo prazo será cada vez maior", explicou.
De acordo com Bermann, a própria disponibilidade de recursos hídricos para a formação de novos reservatórios e os custos com o transporte da energia também devem influenciar essa alta do preço. Pelo menos dois terços do potencial hidrelétrico brasileiro estão localizados na Amazônia e os principais mercados consumidores de energia, no centro-sul do país.
O gás natural também é um combustível alternativo menos poluente do que outras fontes, como as derivadas de petróleo (óleo diesel, óleo combustível e a própria gasolina) e o carvão mineral. Atualmente, cerca de 1 milhão de veículos automotores são movidos a gás natural. Outra utilidade do gás, ainda usada em pequena escala no país, é como substituto do gás liquefeito de petróleo (GLP), conhecido como gás de cozinha. Grande parte do GLP utilizada no Brasil é importada.
(Radiobras, 05/05/06)