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2006-05-08
Os 120 mil moradores de Bagé, na região da Campanha, vivem uma situação comum às distantes regiões nordestinas. A seca no município já dura cinco meses e causa sérios transtornos à população.

O problema é antigo, mas este ano a falta de chuvas mudou a rotina de Bagé. A distribuição da água está racionada desde dezembro de 2005. Nestes últimos dias a situação se complicou, com o abastecimento em apenas seis horas diárias. Em abril, choveu 80 milímetros no município, enquanto a média histórica é de 223 milímetros.

Esta é a pior seca desde 1989. Apesar disso, alguns moradores experimentam uma situação, no mínimo, curiosa. A cabeleireira Eliane Narciso vive os dois lados da moeda.

- Como o pessoal não tem água em casa, muita gente vem lavar os cabelos aqui. O movimento aumentou muito. E o gasto com xampu também - brinca Eliane.

Ao mesmo tempo em que comemora o aumento na procura do salão, lamenta a falta de água em casa:

- A água chega na minha casa na hora em que estou trabalhando. Lavar roupas, só uma vez por semana.

Na zona leste da cidade, a funcionária pública Rosa Maria Arevalo toma banho de balde porque a água não chega até o chuveiro.

- A gente muda toda a rotina por causa desta seca. E todos os anos é a mesma coisa - reclama.

Apenas uma das barragens distribui água na cidade
Bagé ficou refém de apenas três opções: as barragens do Piray - abastecida por um arroio e que está com seis metros abaixo do nível normal -, da Sanga Rosa - que só armazena água da chuva e está quase seca- e a Emergencial, construída para casos de urgência e hoje responde pela água distribuída na cidade. A prefeitura decretou situação de emergência para tentar conter o consumo e evitar o desperdício, que segundo a prefeitura é responsável pela atual situação.

- Temos um consumo igual ao de uma cidade de 200 mil - diz Estefania Damboriarena, diretora do Departamento de Água e Esgotos de Bagé (Daeb).

Segundo ela, 70% das residências não têm hidrômetros, o que causaria um consumo desenfreado. Pelo menos 145 consumidores foram advertidos e seis multados por causa do desperdício. Entre estes, uma empresa do Centro, que deixou uma caixa- dágua vazando à noite. Além disso, a cidade sofre com a inadimplência - de cada 10 moradores, quatro não pagam as contas.

- Fizemos uma experiência em um bairro onde não existia a medição de consumo. Depois da instalação dos hidrômetros, o gasto baixou 40% - revela Estefania.

Para permitir que todos os moradores tenham acesso à água, a cidade foi dividida em três setores. Além disso, quatro caminhões-pipa percorrem as zonas mais críticas para garantir o abastecimento. Muitos reclamam do programa. Para Sérgio Munhoz, que mora na zona norte, o problema é grave.

- Já fiquei 48 horas sem água. Nunca vi caminhão-pipa aqui no meu bairro - desabafa Sérgio.

Apesar de todo o transtorno, há quem se mobilize para ajudar a diminuir o consumo. Na Escola Estadual de Ensino Médio Justino Quintana, por exemplo, dos quatro chuveiros, agora apenas um é usado para banho após a educação física. A recomendação é de que os estudantes tomem banho em casa.
(ZH, 06/05/06)

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