Argentina aciona Uruguai em Haia e abala Mercosul
2006-05-05
Uruguai e Argentina chegaram às vias de fato diplomáticas na chamada "guerra das papeleiras". O ministro argentino de Relações Exteriores, Jorge Taiana, anunciou ontem (04/05) a abertura de um processo contra o vizinho na Corte Internacional de Justiça de Haia por conta da construção de duas indústrias de produção de celulose às margens do Rio Uruguai.
Taiana disse que a construção das fábricas viola o Estatuto do Rio Uruguai - legislação que regulamenta o manejo do rio desde 1975 - e que, por isso, o governo argentino quer a suspensão imediata das obras.
- A Argentina está plenamente convencida de seus direitos nessa controvérsia e continuará ampliando todos os esforços para assegurar a proteção do meio ambiente - declarou o chanceler em coletiva na cidade de Puerto Iguazú, onde acompanhava uma reunião entre os presidentes do Brasil, Argentina, Bolívia e Venezuela.
Taiana classificou de "unilateral e ilícita" a autorização do Uruguai para a instalação das fábricas e afirmou terem sido frustrados os "esforços promovidos em todos os níveis para alcançar uma solução bilateral".
A futura produção das indústrias é estimada em 1,5 milhão de toneladas de
celulose por ano, dentro de um complexo industrial considerado pelo governo
argentino "um dos maiores do mundo". Ao ser indagado se a atitude argentina não poderia comprometer as relações entre os países no âmbito do Mercosul, Taiana fez somente um gesto negativo com a cabeça, finalizando abruptamente entrevista coletiva.
Presidente uruguaio reuniu-se com Bush na Casa Branca
O processo foi apresentado um dia antes de o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, liderar um ato em defesa do meio ambiente com a presença da maioria dos governadores do país, na cidade de Gualeguaychú, na fronteira com Fray Bentos, onde estão sendo construídas as fábricas.
Enquanto o ministro argentino divulgava a decisão de seu governo em Puerto Iguazú, o presidente uruguaio Tabaré Vázquez se reunia com George W. Bush na Casa Branca. Havia expectativa de que anunciasse avanços no seu plano de alinhavar um acordo de livre comércio com os EUA, o que não ocorreu. Vázquez chegou a dizer no início da semana que considerava abandonar o Mercosul como sócio pleno caso fosse proibido de fechar acordos comerciais com países de fora do bloco.
- O Uruguai integra um processo na região do qual é sócio pleno. Dissemos aos EUA que não renunciamos a trabalhar no Mercosul, mas também que Uruguai
defenderá seu direito de levar adiante intercâmbios bilaterais com outros
países ou regiões - afirmou Vázquez.
(ZH, 05/05/06)