PNUD tenta comprovar que cidades menos desenvolvidas são mais afetadas pela desertificação
2006-05-05
Indicadores do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
tentar comprovar uma realidade que já era de conhecimento da sociedade.
As cidades com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são
afetadas pelos efeitos da desertificação. Entre as 1 mil cidades com menor
IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), 715 estão nessas
regiões. Dos 1.482 municípios localizados em regiões classificadas como
semi-áridas, sub-úmidas secas e arredores, 915 apresentam condições de vida
piores que as da Namíbia, na África, cujo IDH é de 0,627, e apenas 51
estão em situação melhor que o Vietnã (0,704). Em só cinco deles o
indicador fica igual ou acima do índice do Brasil (0,766).
Segundo reportagem do PNUD Brasil, os municípios nas regiões
semi-áridas são os mais defasados no que se refere ao desenvolvimento humano.
Eles são quase 40% dos 1 mil de menor IDH. Os que ficam em áreas subúmidas
secas - que são o segundo grau na escala do índice de aridez -
representam pouco menos de um quinto do grupo dos piores. As cidades que ficam
nos arredores das regiões áridas e sofrem sua influência correspondem a
quase 13% dos 1 mil com menor IDH.
A relação dos municípios com alto índice de aridez - que abrange todos
os Estados nordestinos e o norte de Minas Gerais e Espírito Santo - foi
elaborada pelo meteorologista José Ivaldo Brito, professor da
Universidade Federal de Campina Grande. Segundo ele, não há uma forte relação
entre IDH e desertificação. "Pode ser que a dificuldade de acesso à água
atrapalhe o desenvolvimento de algumas áreas", ressalta. "Mas o clima,
mesmo influenciando os fluxos migratórios e a produtividade no campo,
não é o único determinante", ressalta.
O professor aponta duas cidades na Paraíba que contrariam a regra.
"Caraíbas, que está numa região semi-árida, apresenta condições de vida bem
melhores que Gado Bravo, que tem um índice pluviométrico maior e está
numa área sub-úmida seca", compara. O IDH dos municípios são 0,682 e
0,527, respectivamente. "E Cabeceiras é melhor que muitos outros
municípios dos arredores, apesar de ser mais árido", completa.
Outro indicador que pode contrariar a ligação entre desertificação e
desenvolvimento humano é que os Estados com maior proporção de municípios
com alto índice de aridez não são necessariamente os que têm mais
cidades na lista dos 1 mil piores IDHs. No Ceará, por exemplo, todos os
municípios estão em regiões semi-áridas, sub-úmidas secas e arredores, mas
menos de 30% deles estão na relação. No Piauí, entretanto, onde 94% das
cidades estão em áreas com índice de aridez elevado, 70% estão no grupo
de baixo IDH.
No Brasil, as regiões semi-áridas, subúmidas secas e arredores se
estendem por quase 16% do território nacional (1,3 milhão de quilômetros
quadrados) e abrigam mais de 31,6 milhões de pessoas (18,6% da população),
segundo o Ministério do Meio Ambiente.
(Adital, 04/05/06)