Fabricante de cerâmica estuda voltar ao carvão mineral
2006-05-05
A Eliane, uma das maiores fabricantes de cerâmica do Brasil, poderá
acelerar a implantação de novos projetos de geração de energia, dependendo
do rumo das negociações do governo brasileiro com a Bolívia. A
empresa, muito dependente do gás boliviano, estuda o retorno ao carvão mineral
ou um processo de co-geração, com uso de gás e energia elétrica.
"São estudos, mas é certo que em um curto espaço de tempo vamos ter de
decidir por algum deles", diz Otmar Müller, superintendente industrial
da Eliane. O carvão voltaria às etapas iniciais de queima da cerâmica.
Não seria usado em todas as etapas, porque é um retrocesso ambiental se
usado sem uma tecnologia especial, hoje importada, e porque envolveria
uma mudança grande nos fornos.
Já a co-geração levaria a um aumento do consumo do gás hoje usado pela
empresa, mas geraria excedente, e ela poderia compensar esse uso maior
com a venda de energia no mercado livre.
Ambos os projetos são estudos e diminuiriam a dependência do gás
natural, embora continuasse sendo utilizado. Müller diz que os planos
envolvem gás natural, porque a empresa não está preocupada com a interrupção
do abastecimento, mas com a pressão de preços que pode ocorrer.
Uma elevação do preço do gás, que representa 20% dos custos de
produção, chegaria em momento complicado para o setor, que é exportador e sofre
com a valorização do real. O aumento mais forte também entraria em
choque com o principal motivo que levou a empresa a passar a usar o gás
natural - a economia na comparação com o gás liquefeito de petróleo
(GLP).
A Eliane optou pelo gás natural em 2000, em substituição ao GLP, usado
a partir da década de 80. Atraída pela economia de 80% em relação ao
GLP, a direção da empresa investiu R$ 2 milhões para construir uma rede
interna de gás natural e comprar queimadores para os fornos. Houve
cautela para não se converter, num primeiro momento, 100% do parque
industrial em Santa Catarina, mas apenas 15% das operações. Com regularidade
do fornecimento, em dois anos a empresa passou a ser abastecida com gás
natural e os tanques de GLP foram aposentados.
O gás natural já era usado com sucesso pelas fabricantes de cerâmica da
Europa e a distribuidora SCGás ofereceu atrativos, como o congelamento
de preços (feito até 2003). "Durante seis meses depois da conversão
mantivemos a instalação do GLP para eventuais problemas, porém com a
regularidade no fornecimento e a experiência boa dos europeus, tivemos mais
confiança", diz Müller.
Uma volta ao GLP não é estudada, porque a empresa não prevê problemas
de abastecimento, e porque o GLP pode continuar mais caro que o gás
natural. Hoje, diz ele, a distância de 80% se mantém.
(Valor Online,
04/05/06)