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2006-05-05
A indignação com a empresa estatal Furnas, a empreiteira Odebrecht e a prefeitura de Porto Velho, deu o tom dos discursos realizados na tarde de abertura do encontro "Viva o Rio Madeira Vivo", realizada na capital rondoniense na última quarta-feira (03/05). A estatal é acusada de limitar o debate e tentar licenciar o empreendimento na surdina: "Furnas não aparece para discutir o projeto em nenhum evento que não seja deles", afirma Artur Moret, doutor em energia e professor da Universidade Federal de Rondônia, integrante da coordenação do encontro.

O evento, que se estende até a próxima sexta-feira, reúne lideranças indígenas, seringueiros, representantes de movimentos sociais, pesquisadores e ambientalistas de diversas regiões do país com o objetivo de gerar e difundir informações a respeito de empreendimentos energéticos na região do rio Madeira. A organização busca, desta forma, capacitar as lideranças dos movimentos a discutir a construção de obras que podem causar grande impacto na região, como o complexo energético no rio Madeira, proposto por Furnas e Odebrecht.

Evento paralelo
Apesar do evento ser aberto ao público, a estatal não confirmou presença nas discussões previstas para quinta e sexta-feira (05/05). Ao invés disso, enviará seu diretor de construção, César Vaz de Melo, ao encontro "Usinas do Rio Madeira em debate", planejado, organizado e anunciado pela prefeitura de Porto Velho em tempo recorde, e estranhamente agendado em data coincidente ao "Viva o Rio Madeira Vivo", marcado há semanas. O evento paralelo foi decidido em reunião realizada na quarta-feira e a prefeitura distribuiu convites pela cidade durante o dia de ontem (04/05).

Segundo o convite, além de Furnas, estarão presentes diretores da Odebrecht, o coordenador Telton Correa,do Grupo Interministerial de Trabalho (GTI) Usinas do Rio Madeira vinculado à Presidência da República, e um representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

"Cinismo"
"È uma posição muito cínica organizar [o evento] no mesmo dia em que já é realizado um com os mesmo propósitos", declarou Glenn Switkes, diretor da International Rivers Network.

Diversos líderes indígenas discursaram, representando suas delegações, e suas falas foram posteriormente traduzidas."Nós estamos aqui para dizer para o governo que nós não queremos que sejam alagadas nossa terra, nossa história, nossos parentes enterrados", afirmou Antônio Papá Gavião.O líder indígena teve sua fala traduzida por Heliton Gavião, cuja etnia habita o igarapé Lourdes, no rio Machado, em Ji- Paraná.

Para Wesley Ferreira Lopes, 26, coordenador regional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a prática da empresa é cínica, desonesta e falsa. "Eles estão fugindo do debate real, estão pegando as pequenas comunidades, como Jaci-Paraná, tentando cooptá-las oferecendo benesses, buscam iludi-los, em troca do apoio à obra, necessário para garantir o licenciamento ambiental".

O outro lado do Governo
Telton Correa, do GTI da Presidência da República integrará a mesa da discussão paralela ao mesmo tempo em que Moema Sá do Ministério do Meio Ambiente (MMA) discursa sobre licenciamento ambiental no evento "original". O MMA promove, por meio de uma parceria com o Grupo de Trabalho de Energia do Fórum Brasileiro de ONG s e Movimentos Sociais (FBOMS), as oficinas de capacitação popular.

Mais de 120 participantes estiveram presentes à abertura hoje, realizada no auditório do Centro Arquidiocesano Popular, localizado às margens da BR-364, catorze quilômetros distante do centro de Porto Velho.
(Informações do site Amazonia.org, 04/05/06)

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