Rio de Janeiro já tem mais ciclistas que usuários do metrô e dos trens
2006-05-05
No enervante trânsito do Rio de Janeiro, um contingente cada vez maior de
cidadãos dá um show ecologicamente correto. São os usuários de bicicletas, que
ultrapassam – em número e condicionamento físico – a clientela dos trens e do
metrô. O Rio conta com 140 quilômetros de ciclovias, a maior rede do Brasil e a
segunda da América Latina, só superada por Bogotá. Desde 1991, quando o então
prefeito Marcello Alencar lançou o projeto Rio-Orla, a cidade do Rio investiu
R$ 28 milhões em ciclovias. O maior desafio agora é reeducar a população para
uma convivência harmoniosa entre veículos, pedestres e ciclistas.
Uma pesquisa da prefeitura detectou que, de 1994 a 2004, o número dos que usam
a bicicleta como meio de transporte saltou de 69 mil para 220 mil. Na região
metropolitana, chega a 650 mil viagens por dia, contra 400 mil dos trens e 440
mil do metrô. Só os empresários é que não acordaram para o fenômeno. Não há
investimentos em bicicletários ou vestiários próximos às estações de metrô ou
terminais de ônibus. Há projetos de construção de dois complexos no centro, até
com academia de ginástica, mas nada sai do papel. O centro é ligado à zona sul
por ciclovias emolduradas pela Baía de Guanabara, mas quem pedalaria 20
quilômetros sob o calor carioca para chegar ao trabalho sem tomar um banho?
“São perguntas para as empresas, que não constroem vestiários, e aos
empresários, que poderiam fazer bicicletários. Nosso esforço é para alterar a
mentalidade que manda investir tudo no automóvel, usado só por 15% da população,
mas não se muda uma cultura da noite para o dia”, diz o coordenador do Grupo
de Trabalho do Planejamento Cicloviário, Roberto Ainbinder. Para Carolina Souza,
27 anos, formada em turismo e aluna de educação ambiental, falta muito para o
Rio ser o paraíso dos ciclistas. Ela faz tudo pedalando entre sua casa, no Largo
do Machado, o estudo, no Jardim Botânico, e o trabalho, em Laranjeiras. Depois
de um assalto, ela adotou uma regra que repassa a todos: não comprar bicicleta
com aparência que desperte a ambição dos ladrões. Outro “inimigo” é o que ela
chama de “família unida”: pais e filhos que, em dias de lazer, invadem as
ciclovias, atrapalhando a passagem. Ela critica os bares e lojas que não
possuem bicicletários e revela a mais grata de todas as surpresas que teve ao
transformar a bicicleta em meio de transporte: a balança. Perdeu três quilos em
dois meses.
(IstoÉ, 03/05/06)