Tecnologia agrícola para reduzir queimadas na Amazônia é testada em Roraima
2006-05-05
A região do chamado Arco-do-Fogo de Roraima será o cenário para colocar em teste um sistema alternativo de cultivo agrícola que elimina a utilização do fogo no preparo de área para a agricultura familiar. Nesta sexta-feira, 5 de maio, será a primeira vez que agricultores, estudantes, técnicos e autoridades terão a oportunidade de assistir, em Roraima, o funcionamento da Tritucap, um equipamento que utiliza um trator adaptado, para cortar e triturar a capoeira, permitindo o plantio direto sobre o material triturado. Com a implantação dessa tecnologia, as queimadas na Amazônia poderiam ser reduzidas significativamente.
A demonstração da tecnologia será feita pela Embrapa Roraima (Boa Vista-RR), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. A apresentação, com palestras e demonstração da máquina em funcionamento, será das 10h às 12h, de sexta-feira, na vicinal 7 do Apiaú,Km 33. Outras demonstrações práticas e unidades de observação serão feitas neste mês em até 15 propriedades de agricultura familiar selecionadas na Vila do Apiaú e Samaúma (Projeto de Assentamento Vila Nova), ambas no município de Mucajaí (RR), na região do Arco-do-Fogo de Roraima. Cada área selecionada corresponde a meio hectare.
O método tradicional de preparo das áreas, usado pela maioria dos agricultores em toda a Amazônia é a derruba e queima da vegetação para o plantio. Isso resulta na perda de nutrientes, emissão nociva de gases na atmosfera e riscos de incêndios florestais. Diante desta situação, a Embrapa vem pesquisando e desenvolvendo alternativas sustentáveis como proposta para substituir o método de derruba e queima.
A demonstração do uso da máquina Tritucap para plantio direto na capoeira faz parte do Projeto Tipitamba, que visa a geração, adaptação e validação de tecnologias para a melhoria dos sistemas de produção da agricultura familiar com base no manejo de capoeiras na Amazônia, com ênfase em alternativas ao uso do fogo. O termo Tipitamba vem da língua dos índios Tiriyó, do norte do Estado do Pará, e quer dizer ex-roça ou capoeira.
O projeto foi inicialmente concebido com o nome SHIFT-Capoeira e executado no Pará pela Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA) e as universidades alemãs de Göettingen e Bonn, ao longo dos últimos 13 anos. Neste período foram gerados trabalhos com aporte significativo de recomendações técnicas sobre alternativas ao uso do fogo, com ênfase no plantio direto na capoeira. Em 2004, o projeto ganhou a dimensão regional contando com a atuação em rede da Embrapa Acre (Rio Branco-AC), Embrapa Amapá (Macapá-AP), Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus-AM), Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA). Embrapa Roraima (Boa Vista-RR), Embrapa Rondônia (Porto Velho-RO) e Embrapa Meio Norte (Teresina-PI).
Benefícios para o meio ambiente e para o agricultor
As vantagens já demonstradas pelo projeto Tipitamba é que ao substituir o fogo pela trituração da capoeira, se evita a perda de nutrientes acumulados na vegetação; reduz-se a incidência de poluição atmosférica; protege-se o solo contra os efeitos da lixiviação e erosão; reduz-se os gastos com adubação; permite maior flexibilidade para o período de preparo da área já que o produtor não precisa esperar a estiagem, além de melhorar as condições físicas, químicas e biológicas do solo.
O pesquisador Haron Xaud, coordenador do projeto na Embrapa Roraima, informa que é possível aplicar a tecnologia em áreas de região de mata anteriormente desmatadas e queimadas para execução de cultivo agrícola, que estejam em pousio (descanso), regenerando gradualmente sua biomassa vegetal. Essas áreas são chamadas regionalmente de capoeira ou juquira.
Xaud explica que as áreas mais adequadas para o uso da tecnologia são as que possuem três a quatro anos de descanso, com boa quantidade de massa verde e árvores de até 20 cm de diâmetro (medido na altura do solo). Outro fator importante para a adequada trituração reside na quantidade de tocos e troncos presentes nas áreas. Quanto menos obstáculos, maior é o rendimento do triturador.
Ao invés de ser roçada e queimada como de costume, a vegetação é triturada mecanicamente. O material esmagado é usado como cobertura morta e fonte de nutrientes, para proteção e adubação do solo. O plantio das sementes é feito sob a palhada, sem necessidade de revolvimento do solo. A tecnologia preconiza, além da trituração, a correção e adubação do solo, o uso de cultivares adequadas e consórcio de culturas, visando utilização intensiva, porém sustentável das áreas alteradas.
Por Síglia Regina Souza, Área de Comunicação e Negócios - Embrapa Roraima