Açude virou solução para problema de abastecimento na região de Santa Maria
2006-05-04
A estiagem que atinge a região central do Rio Grande do Sul desde dezembro do ano passado provocou uma situação curiosa em Silveira Martins. Todo o abastecimento de água está dependendo de uma açude particular. Nenhum morador da cidade estaria sem água, mas a falta de chuva já deixou praticamente seca a única barragem da cidade. A alternativa foi contar com a boa vontade do produtor rural Jairo Luiz Dalla Corte, que está cedendo o líquido para o município. A Companhia Rio Grandense de Saneamento (Corsan) instalou na terça-feira (02/05) uma bomba para levar a água do açude para a estação de tratamento. Uma repetição do que já ocorreu no ano passado.
Jairo construiu o açude há cerca de 15 anos para criar peixes e enfeitar a propriedade. Na época, não podia imaginar que, por duas vezes, sua obra salvaria a cidade.
- Na estiagem do ano passado, eu já cedi água. Não me importo em ajudar, mas acho que a Corsan não poderia deixar as coisas chegarem a este ponto para tomar uma providência - critica Jairo.
Parte da água de Júlio vem de Silveira
Para a servente Cirlei Cielo, 35 anos, a origem da água é o que menos importa. Ela mora no distrito de Três Mártires, em Júlio de Castilhos, na casa mais longe abastecida pela rede de Silveira. Na casa dela, as torneiras estão secas desde a quinta-feira passada (27/04). A solução foi buscar água na casa do pai, que tem poço artesiano.
- Estamos só com esta água para usar na cozinha, no banheiro e até para lavar roupa - explica Cirlei.
A poucos metros dali, a escola onde Cirlei trabalha e onde estuda a filha dela, Carla, 8 anos, também teme o desabastecimento. Como os alunos não tiveram aula no feriadão, a caixa de água está cheia. Mas a torneira da rua já está seca.
- Pedimos aos alunos que tragam água de casa - conta a supervisora Marlova Ana Anversa Venturini.
A situação é alarmante até para Moacir Tolfo. Ele trabalha na estação de tratamento de água de Silveira Martins há 16 anos e garante que nunca viu a barragem tão vazia:
- Em dias normais, costumo fazer o tratamento da água durante oito horas por dia. Agora, só tem água para, no máximo, quatro horas de tratamento.
Mesmo diante da situação alarmante, o superintendente adjunto e engenheiro da Corsan em Santa Maria, José Viegas, garante que Silveira Martins não vai ficar sem água. Ele explica que, além do açude de Jairo, três açudes comunitários (construídos pela prefeitura para uso dos moradores na irrigação) podem servir como fonte de água para a cidade.
- Temos um projeto para ampliar a barragem de Silveira Martins mas, por enquanto, os açudes vão garantir que ninguém fique sem água na cidade - diz Viegas, que não deu previsão para uma solução definitiva para o problema.
(Diário de Santa Maria, 03/05/06)