COSMAM RESGATA UMA DAS PRIMEIRAS LUTAS DO AMBIENTALISMO GAÚCHO
2001-10-01
Todos os anos, as árvores de Porto Alegre eram violentamente mutiladas pela Prefeitura. A contestação a esta prática, no início dos anos 70, foi uma das primeiras campanhas da Agapan, Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. Trinta anos depois, a Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara de Vereadores da capital gaúcha resgatou o assunto, promovendo uma discussão sobre a poda das árvores na útlima quinta-feira (27/09). Dois ecologistas que protagonizaram a luta nos primórdios estiveram presentes na reunião: José Lutzenberger e Augusto Carneiro. Além deles, compareceram representantes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam), Fundação Zoobotânica, Batalhão de Policiamento Ambiental, estudantes do Colégio Americano e os vereadores Pedro Américo Leal e Beto Moesch. Nenhum dos debatedores negou a existência da poda irregular na cidade. As diferenças centraram-se na atuação do Órgão Ambiental Municipal. - Na verdade, a poda em Porto Alegre nunca parou. Nos bairros sempre houve pessoas desobedientes, uns mal-intencionados e outros ignorantes, que continuaram podando, denunciou Augusto Carneiro. Se a Smam fosse mais enérgica, a situação poderia ser outra, mas a Secretaria se omite, quase não fiscaliza, disparou. Apesar disso, o ecologista admitiu que a Prefeitura não é mais a principal responsável pelas podas, como ocorria nos seus áureos tempos de ativista. - Hoje 99% das podas são feitas por particulares. Se uma folhinha fica feia eles já acham motivo suficiente para cortar o galho, relatou Carneiro, que levou pilhas de fotos para comprovar sua denúncia. Conforme o agrônomo José Lutzenberger, muitas vezes a poda é feita por ignorância. As pessoas pensam que faz bem para a árvore. Para mudar esta mentalidade, o vereador Beto Moesh propôs a realização de uma campanha através da mídia para que as pessoas possam ser conscientizadas, não somente a respeito da poda, mas também sobre a separação do lixo. O representante da Smam no encontro foi o Diretor da Divisão de Praças e Jardins, Sérgio Luiz dos Reis. Ele respondeu às críticas lembrando que Porto Alegre apresenta uma das melhores legislações do país quanto à arborização. - Se não houver autorização de um técnico da Secretaria, as pessoas não podem podar árvores nem mesmo no pátio da própria casa, informou. Quanto à fiscalização, Sérgio disse que, em média, são feitas cinco autuações por semana. A nota triste do encontro ficou por conta do desentendimento envolvendo José Lutzenberger e o vereador Pedro Américo Leal, que estava mediando o debate e havia estipulado cinco minutos para cada manifestação. Antes da fala do pioneiro do ambientalismo, Pedro Américo acertou seu cronômetro e emendou: - Seu Lutzenberger, o senhor tem cinco minutos. O ecologista mostrou-se contrariado, e disse que não iria falar cinco minutos, mas o tempo necessário para explanar sua tese. Pedro Américo repetiu que seriam somente cinco minutos, desta vez com mais firmeza. Lutzenberger respondeu, já alterado. - Ou vamos fazer as coisas da maneira correta, ou eu vou me embora. - Pode ir, gritou o vereador. Foi o que o ecologista fez, depois de recolher seu material e fazer um breve aceno para a platéia constrangida.