Lançado inventário da flora nativa e reflorestamento de Minas Gerais
2006-05-04
Lançado na semana passada, o “Mapeamento e Inventário da Flora Nativa e dos
Reflorestamentos de Minas Gerais”, um estudo inédito realizado por equipe
de pesquisadores da Universidade Federal de Lavras, traz alguns resultados
surpreendentes. Indica, por exemplo, que Minas ainda tem 33,7% de seu
território coberto por vegetação de Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. O
que não é nada mal para um estado fincado no Sudeste, região mais
desenvolvida do país. Em São Paulo, por exemplo, a mata nativa não cobre
mais do que 8% do território.
O trabalho mostra ainda que a destruição dessa flora nativa mineira é menor
do que o professor José Roberto Scolforo, coordenador da pesquisa,
imaginava. A comparação de imagens de satélites capturadas entre 2003 e de
2005 aponta para uma perda de apenas 0,26% da cobertura nativa mineira. As
imagens mostram também os focos de pressão sobre essa flora, indicando onde
as autoridades devem agir para reduzir ainda mais o seu desmatamento.
Extremamente detalhado, o estudo, lançado na semana passada, foi
encomendado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) e baseia-se numa
seqüência de fotografias satélite tiradas durante a primavera, verão e
inverno, para captar as variações provocadas nas plantas por fatores
climáticos durante o ano. “Há uma mudança nítida da flora durante os
períodos, por isso usamos uma série temporal, que diminui imensamente
qualquer margem de erro”, diz Scolforo. Foram feitas também investidas em
campo para confirmar o que os satélites estavam fotografando lá de cima.
O trabalho também contém um inventário inicial da flora estadual que estará
completo em setembro. “Já chegamos a catalogar 1,8 mil espécies, mas
acredito que vamos ultrapassar 2,2 mil espécies”, diz Scolforo. A intenção
do IEF é dar continuidade ao mapeamento e ao inventário para ter uma base
de dados de comparação a cada dois anos.
Cerrado preocupa
A cobertura nativa mineira corresponde a 33,7% de uma área total do estado
de 58 milhões de hectares, abrangendo a Mata Atlântica, o Cerrado e
Caatinga. As áreas mais degradadas, estão localizadas no Triângulo Mineiro,
ao leste e ao sul do Estado. “Elas foram bastante modificadas por causa de
pastagem”, explica Scolforo. Mas nelas a degradação é antiga. Preocupante é
a situação do Cerrado mineiro, que ainda ocupa 10,8 milhões de hectares, de
uma extensão original de mais de 30 milhões de hectares.
Ele hoje é o alvo preferencial dos desmatadores estaduais. A perda se
concentra no noroeste do Estado, onde a expansão da soja lhe roubou entre
2003 e 2005, 70 mil hectares. O segundo maior foco de pressão está
localizado em área de Mata Atlântica, que ainda representa 17,26% da flora
nativa estadual, no nordeste mineiro. Lá, as carvoarias funcionaram como o
principal motor da devastação de 30 mil hectares registrada de 2003 a 2005.
O documento, divulgado durante o Congresso Mineiro de Biodiversidade
(Combio), realizado durante esta semana em Belo Horizonte, também mostra a
“fisionomia da flora nativa” por bacias e sub-bacias hidrográficas, o que
aumenta em muito as chances de medidas localizadas de proteção.
Segundo Scolforo, com a continuidade da pesquisa será, cada vez mais,
possível criar mecanismos de defesa do patrimônio natural. “Eu acredito que
os índices de preservação estão bons, bem acima da média nacional, porém
não podemos nos contentar com isso. Temos que perseguir índices muito
melhores”, assinala Scolforo, lembrando que ainda não foi possível definir
a porcentagem legal e ilegal das áreas nativas perdidas .
Caatinga redimensionada
Entre as três principais floras nativas existentes em Minas Gerais, a
caatinga é a que sofreu menor alteração nos últimos anos em relação à
cobertura registrada nas imagens tiradas em 2003. Scolforo explica,
entretanto, que não dá para afirmar que ela está melhor preservada do que
seus pares porque ela se espalha por área bem menor. Portanto, o eventual
desaparecimento de espécies da sua flora pode ter tido impacto bem mais
significativo.
A caatinga que ainda viceja em solo mineiro deverá ser redimensionada junto
ao Instituto Brasileiro de Geoestatística (IBGE). A área detectada pela
pesquisa é o dobro da apontada pelo IBGE. “Isso é natural. Estamos com os
olhos totalmente voltados para Minas, ao contrário do IBGE. Vamos sugerir a
mudança dos índices a partir da constatação da pesquisa”, conta Scolforo.
Sobre florestas plantadas, o trabalho dos pesquisadores identificou que
elas se espalham por 1,13 milhão de hectares do estado. A maioria é
dominada por eucaliptos. “Nas estatísticas oficiais, o estado surge como
aquele que contém a maior área reflorestada no Brasil com espécies do
gênero Eucalyptus”, diz o professor. As regiões com maior volume de
florestas plantadas de eucalipto são as das bacias dos rios São Francisco,
Doce e Jequitinonha. Entretanto, o reflorestamento ocupa percentualmente a
maior parte da bacia dos rios Piracicaba e Jaquari, com 6,97% da área.
Para Scolforo, é imprescindível continuar com o monitoramento das florestas
nativas e plantadas porque isso permite ao estado o desenvolvimento de uma
política ambiental e florestal, além de gerar inúmeras pesquisas e
programas ligados à conservação. “Com o Mapeamento, temos condições de
conhecer o estoque de madeira da cobertura do estado, estimar o estoque de
carbono, fornecer listas de espécies mais abundantes e as mais raras, dar
subsídios para estudos de sementes, produção de mudas e melhoramento
genético de espécies, e muito mais”. Bom para as matas de Minas.
(Roselena Nicolau, O Eco, 29/04/06)
http://arruda.rits.org.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.Navigati
onServlet?publicationCode=6&pageCode=67&textCode=16585&date=currentDate&con
tentType=html