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2006-05-03
O Rio Grande do Sul já ocupa a quinta posição no ranking dos estados brasileiros com maior plantio de florestas comerciais, com cerca de 350 mil hectares de área cultivada. Desse total, 150 mil hectares são de pinus, 100 mil de eucalipto e 100 mil hectares de acácia. O avanço da silvicultura no Estado deu-se de forma rápida e equilibrada, representando hoje R$ 3,5 bilhões de faturamento e 250 mil empregos diretos. O crescimento do setor está levando especialistas e o governo gaúcho a fazerem projeções de que, em dez anos, o Rio Grande do Sul poderá tornar- se um novo pólo industrial de papel e celulose no Brasil.

O especialista em negócios florestais, Leonel Freitas Menezes, diz que nesse período o Estado avançará para R$ 10 bilhões de faturamento e criará empregos, em especial na Metade Sul. "Hoje o florestamento é responsável pela geração de milhares de empregos e, em uma década, deve criar mais 200 mil vagas", garante. "Somente o setor moveleiro emprega 33 mil pessoas diretamente e 150 mil indiretamente. Ligadas às atividades florestais temos 40 mil famílias, as serrarias empregam 15 mil diretamente e 50 mil indiretamente e as mercenarias e outras atividades empregam em torno de 10 mil pessoas."

Para o presidente da Associação Gaúcha de Empresas de Florestamento (Ageflor), Roque Justen, esse avanço é resultado do engajamento entre governo e as empresas do setor que vêm desenvolvendo novos projetos de modernização e ampliação. "Ambas as partes reconheceram o grande potencial do Estado para a silvicultura e o desenvolvimento econômico e social que esta atividade propiciará aos gaúchos", diz. Segundo a Ageflor, a produção gaúcha de celulose deve subir das atuais 430 mil toneladas para 3 milhões de toneladas em 10 anos, adicionando US$ 500 milhões à Receita gaúcha. Nesse período, o plantio de florestas no Estado deve chegar a quase 1 milhão de hectares.

As instalações de fábricas de celulose e a ampliação de bases florestais reanimará a economia da Metade Sul, diversificando a produção que gira em torno da pecuária, da cultura do arroz e de uma indústria de pouca expressãqo. A região destacou-se pela sua aptidão ao cultivo de florestas, tornando-se, hoje, o principal foco desse mercado. O coordenador do comitê da Indústria de Base Florestal e Moveleira da Fiergs, Walter Christmannm, acredita que a silvicultura vai gerar uma revolução capaz de duplicar o PIB da região a médio prazo. "A Zona Sul tem uma vocação muito forte para o florestamento e essa atividade vai ocasionar grandes transformações econômicas. Foi justamente esse potencial que nos levou à criação de um comitê para tratar do assunto", diz Christmannm. O Comitê tem representantes do governo do Estado, da Fiergs, da Ageflor e dos produtores.

O envolvimento dos produtores rurais ligados à agricultura e à pecuária com a silvicultura, vista como uma importante alternativa econômica, também vem contribuindo para impulsionar o setor, principalmente no que se refere à sobrevivência de serrarias, fábricas de móveis, fogões a lenha, cercados, além da extração de resinas e essências. "As empresas sozinhas não seriam suficientes para atender a demanda da cadeia produtiva da madeira, que é bastante ampla", revela Christmannm.

Produtores aderem e prevêem bons lucros
Em Sertão Santana, a 90 quilômetros de Porto Alegre, uma pequena propriedade rural faz integração entre o plantio de florestas e outras culturas. Desde o ano passado, o bancário aposentado Zenar Eckert, 50, em sociedade com o irmão Alberto Eckert, 55, implantou o sistema agrosilvipastoril nos 76 hectares de terras herdados do pai. Por meio de programa de fomento florestal da CaixaRS e da parceria com a Aracruz, os dois produtores plantaram eucalipto em 42 hectares da área. Os 34 hectares restantes permanecem com o cultivo de fumo, verduras, legumes e algumas cabeças de gado.

O objetivo do novo negócio foi o aproveitamento de terras ociosas. "Nesse meio tempo, ficamos sabendo do projeto da Aracruz", diz Zenar. "Ficamos ainda mais motivados ao saber que a empresa parceira iria nos dar toda a orientação técnica, garantia de compra do produto e apoio no financiamento", completa. Os Heckart têm boas expectativas de rendimento com o cultivo de eucalipto, onde investiram R$ 45 mil, adquiridos por meio de financiamento. Daqui a seis anos a produção deve atingir cerca de 10 mil m³ de madeira e garantir uma renda de R$ 176 mil (cerca de R$ 30 mil ao ano), o equivalente ao incremento de 24% no fluxo de caixa. "O plantio de florestas com a parceria das empresas está sendo um bom negócio para nós. Não tivemos que injetar recursos próprios e a empresa, além de nos dar orientação e comprar todo o nosso eucalipto, fornece as mudas e os insumos necessários", finaliza o produtor.

Proflora já financiou 322 projetos com 28,5 mi
Com o objetivo de contribuir para a redução do déficit no plantio de árvores e diversificar as atividades rurais com geração de emprego e renda, o governo federal criou o Proflora – Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas – com financiamento do BNDES. No Estado funciona desde 2004 o Proflora Caixa RS, que já financiou R$ 28,5 milhões em 322 projetos para plantio de 20 mil hectares de florestas de pinus, eucalipto e acácia negra. A maioria delas está localizada na Metade Sul, envolvendo investimentos totais de R$ 90 milhões. O valor máximo de financiamento anual por safra é de R$ 150 mil, e o prazo de amortização, 12 anos. A carência máxima é de oito anos, e os encargos financeiros, de 8,75 ao ano. O presidente da Agreflor, Roque Justen, diz que esses programas servem para incentivar a atividade agrosilvipastoril, integrando floresta, lavoura e pecuária em uma mesma área. "É mais uma alternativa de renda para o produtor rural, que, muitas vezes, tem sua lavoura ou gado prejudicados pelo clima ou variações ambientais. O plantio de florestas é uma atividade mais segura porque é menos vulnerável a esses fatores", explica Justen.
(Caderno Especial Reflorestamento, JC, 02/05/06)

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