Falta de água prejudica agricultura no interior de Santa Cruz do Sul
2006-05-03
Temperatura baixa, tempo nublado e até uma garoa fina em nada lembram a estiagem, mas depois de trabalhar ontem na companhia de um vento gelado em Capela dos Cunha, na divisa de Passo do Sobrado com Santa Cruz do Sul, o agricultor Elcio Cunha Lopes, de 51 anos, mal conseguiu lavar as mãos. Em pleno outono, o poço que abastece a propriedade está vazio, e a família depende de cargas d água levadas pela Prefeitura até para fazer comida. Desde dezembro não chove forte na localidade.
Com pouca água na caixa ontem à tarde, o agricultor e outros quatro moradores da vizinhança esperam para a manhã de hoje a distribuição do produto pelo trator de Passo do Sobrado. “Uma carga dura mais ou menos uma semana. Temos que economizar”, salientou Lopes, que além de ver as torneiras quase secas, acaba de contabilizar as perdas provocadas pela estiagem na lavoura.
De acordo com o agricultor, o problema não existiria mais se a tão sonhada rede hídrica da localidade já estivesse em operação. O investimento também é aguardado pela família da agricultora Judith Silveira, 55, que mora no lado santa-cruzense de Capela dos Cunha. Ela calcula que ontem conseguiu tirar em torno de 30 litros da cacimba. “É quase nada. Vou ter que pedir socorro a Passo do Sobrado”, disse, reclamando que a região não é atendida por Santa Cruz.
Reivindicada há mais de uma década, a obra começou há duas semanas. Parou ontem por problemas mecânicos em uma retroescavadeira, mas deve ser retomada ainda hoje. A rede atenderá 70 famílias dos dois municípios e, por isso, está sendo executada em parceria pelas prefeituras. A água será captada de um poço no território de Passo do Sobrado, e a previsão é que comece a ser distribuída em 30 dias.
Conforme o prefeito Elto Dettenborn (PDT), a instalação e ampliação de redes são a estratégia para livrar os passo-sobradenses da estiagem. Num investimento de R$ 16 mil, o município começou ontem a ampliar o sistema em Passo da Mangueira. Lá, 40 famílias serão beneficiadas. Enquanto as obras não ficam prontas, porém, a Secretaria de Agricultura recebe cada vez mais pedidos de cargas d’água. “O número vem crescendo nos últimos dias. Já temos 12 solicitações para esta quarta”, disse no meio da tarde o secretário Alfredo Hermes.
Em situação de emergência desde o mês passado, a Prefeitura de Passo do Sobrado já começa a calcular as perdas na arrecadação que serão sentidas em 2007 por causa da seca. Nesta safra, cerca de 1,2 mil produtores foram atingidos, e o prejuízo chega a R$ 10 milhões. “Fatalmente teremos menos dinheiro para investimentos. Para compensar isso estamos buscando recursos fora”, disse o prefeito.
O comércio também sente as conseqüências da estiagem, agravadas com os baixos preços pagos pela produção agrícola. “Em função de ser o auge da comercialização da safra de fumo, abril era um dos melhores meses para o comércio. Mas este ano não foi bem assim”, garantiu o comerciante Gilberto Weber, um dos coordenadores do grupo que reúne 50 empresas de Passo do Sobrado.
(Gazeta do Sul, 03/05/06)