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2006-05-03
A proximidade da temporada de furacões nos EUA, que "oficialmente" começa em 1º de junho, já ajuda a sustentar as cotações médias do suco de laranja no mercado internacional. Em abril, a commodity registrou a maior valorização entre os produtos agrícolas negociados na bolsa de Nova York, conforme cálculos do Valor Data baseados no preço médio dos contratos futuros de segunda posição de entrega, que normalmente têm maior liquidez. Na bolsa de Chicago, o milho foi o grande destaque.

"A proximidade da temporada de furacões e o enfraquecimento do dólar deram suporte aos preços do suco, mesmo com o movimento de realização de lucro [na bolsa de Nova York] por parte de fundos", disse Michael McDougall, vice-presidente da Fimat Futures para América Latina. Em abril, a cotação média dos contratos de segunda posição do suco alcançou US$ 1,4454 por libra-peso, 5,17% mais que em março. Em 2006, a alta acumulada chegou a 14,2%; nos últimos doze meses, a 49%.

O açúcar, que liderou os ganhos em Nova York nos últimos meses, manteve-se firme, mas começou a ceder com as vendas dos fundos de investimentos, que refletem a recuperação da safra da Índia e o início da safra brasileira de cana, lembrou Fernando Martins, da Fimat. Em abril, a cotação média alcançou 17,46 centavos de dólar por libra-peso, 3,9% mais que em março.

A oferta de países produtores, sobretudo do Brasil, tiraram parte do suporte dos preços do café no exterior em abril, afirmou Rodrigo Costa, da Fimat. "Os produtores brasileiros começaram a vender para reduzir seus estoques por conta da entrada da safra nova de café arábica [com colheita a partir de maio]". No mês passado, as cotações médias do grão ficaram em US$ 1,1091 por libra-peso, alta de 2,1% sobre março. No ano, acumula valorização de 10%; nos últimos 12 meses, há retração de 10,4%.

Já os preços médios do cacau ficaram praticamente estáveis no mês de abril - em US$ 1.491,21 -, com ligeiro aumento de 0,02% em consequência da ausência de notícias de conflitos da Costa do Marfim, principal produtor mundial.

Entre as commodities negociadas em Nova York, o algodão foi o único produto a registrar variação negativa em abril. A cotação média ficou em 53,59 centavos de dólar por libra-peso, recuo de 2,14% sobre março. Segundo Fernando Martins, da Fimat, os preços estavam firmes no início de abril por conta da seca nas lavouras americanas, mas a chegada das chuvas e os bons estoques de algodão nos EUA tiraram essa sustentação.

Na bolsa de Chicago, os efeitos do clima sobre as lavouras americanas e a forte demanda por óleos vegetais para biodiesel ajudaram a conferir volatilidade aos preços futuros da soja, do milho e do trigo.

Nesse início de temporada de "mercado de clima" no mercado dos EUA, o milho foi o único grão a registrar alta em abril, de 6,1%. No ano, os contratos de segunda posição acumulam alta de 16,59% e, em 12 meses, de 14,8%. Segundo Paulo Molinari, da Safras&Mercado, a alta foi resultado da previsão de queda de 5% da área plantada americana na 2006/07, para 23,12 milhões de hectares. "O atraso do plantio em algumas regiões e a alta demanda pelo produto para produção de biodiesel também influenciaram", afirmou.

A Associação de Combustíveis Renováveis (RFA) dos EUA informou na última sexta-feira (28/04) que a produção de etanol no país bateu recorde em fevereiro, atingindo 302 barris por dia (12,7 milhões de galões), ante 13 mil em janeiro.

Seneri Paludo, da Agência Rural, observou que o plantio naquele país está mais acelerado que em anos anteriores e é possível que a área aumente se a demanda por etanol continuar firme. "O desempenho da commodity em maio dependerá das cotações do petróleo e das condições da lavoura americana", disse.

No complexo soja, os preços do óleo ajudaram a dar sustentação aos grãos em abril, também graças à demanda pelo produto para biodiesel, segundo Molinari, da Safras. Os contratos do óleo subiram 0,66% no mês e 11,72% no ano. Os preços do grão, por sua vez, recuaram 1,48% no mês e 2,82% no ano.

Antonio Sartori, da Brasoja, notou que os preços seguem pressionados pela safra recorde na América do Sul e pela intenção dos EUA em elevar a área plantada em 6,6%. Como fator de sustentação, ele destacou, além do petróleo e da demanda por biodiesel, a grande liquidez dos fundos. "Maio será uma caixinha de surpresas. Os preços dependerão da política da Opep para o petróleo, dos juros da China e do clima nos EUA", disse.

Os preços do trigo registraram pouca variação em abril. No mês, os contratos de segunda posição recuaram 0,83%. No ano, o preço acumula valorização de 10,86% e, em 12 meses, de 13%. Vinicius Ito, analista da Fimat, observa que o aumento dos índices de umidade na região do Kansas ajudou o desenvolvimento das lavouras americanas, funcionando como fator de pressão nos preços do cereal. "Chicago registrou rolagens recentemente, o que também pressionou as cotações". Segundo o analista, os contratos seguirão com alta volatilidade em maio.
(Valor Econômico, 02/05/06)

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