Energia geotérmica, um recurso inesgotável de energia
2006-05-03
O aproveitamento da energia térmica do interior da terra, até a década de oitenta, só era possível em locais onde a rocha no estado de fluido incandescente fica perto da superfície da terra, como, por exemplo, na cidade de Reykjavica, capital da ilha vulcânica da Islândia, e da cidade italiana Larderello. A população destas duas localidades agradece o ar puro às condições geológicas locais que permitem o aproveitamento da energia térmica do interior da terra que aflora naquelas localidades, via fontes de água quente que acionam as caldeiras e turbinas há mais de cem anos, produzindo energia elétrica.
O interior da terra possui um potencial energético incomensurável, ainda não aproveitado porque faltava uma tecnologia adequada a furos de grande profundidade na crosta terrestre, atingindo, assim, as camadas aquecidas. Só para se ter uma idéia, a energia geotérmica acumulada a uma profundidade de oito a dez quilômetros de profundidade, numa área equivalente ao estado do Rio de Janeiro, corresponde a uma potência calorífica equivalente a vinte bilhões de toneladas de carvão.
A fim de criar condições de aproveitamento da energia do interior da terra, cientistas dos Estados Unidos utilizaram o processo seguinte:
A uma determinada distância, algumas centenas de metros, dois furos foram abertos na crosta terrestre até uma profundidade de cinco mil metros, com um diâmetro aproximado de um metro cada furo, atingindo, na parte mais profunda dos furos, a temperatura de quinhentos graus centígrados e, sob pressão, forçava-se a passagem da água de um dos furos, através das fissuras da rocha, para o outro furo, havendo assim uma troca térmica, onde a água aquecida, subindo pelo segundo furo, será recebida, na superfície, em caldeiras ou captadores de vapor que irão acionar as turbinas geradoras de energia elétrica.
Esta metodologia fracassou pelo fato de ser praticamente impossível realizar perfurações até esta profundidade, utilizando-se brocas convencionais de vídia ou diamantes que rapidamente se desgastam e se danificam devido ao calor a tal profundidade, além da dificuldade na troca de hastes, brocas, barriletes e retirada do entulho proveniente da perfuração. Este projeto foi inviabilizado devido ao custo e as dificuldades operacionais. Na década de 80, foi proposto um método que veio, finalmente, criar condições de aproveitamento da energia térmica do interior da terra, método proposto por um cientista alemão. Na prática, o método se parece muito com o dos americanos, variando apenas, o equipamento perfurante das rochas que consiste no seguinte:
Uma cabeça de broca, formada por uma liga de tungstênio, em forma de um projétil ou cone, com aproximadamente um metro de diâmetro por cinco de comprimento que funciona como maçarico, alimentado por uma chama de hidrogênio/oxigênio, sob pressão, capaz de produzir uma chama de três mil graus centígrados, temperatura capaz de fundir qualquer tipo de rocha.
O equipamento, o maçarico, é pressionado por um sistema hidráulico em direção à chama, contra a crosta da terra em inicio de fusão. Durante a operação, o equipamento é alimentado com hidrogênio e oxigênio a alta pressão que têm a função de combustível e comburente, respectivamente. A refrigeração do maçarico é feita por nitrogênio líquido que circula internamente no equipamento.
Apesar do calor de três mil graus centígrados, da fusão da rocha, da alta pressão dos gases de combustão, cerca de mil atmosferas, uma penetração contínua, sem falha de material, em profundidade de mais de dez mil metros, através da alta temperatura de fusão do raio focal do hidrogênio/oxigênio, a rocha será fundida com grande velocidade de perfuração, quase dez vezes a velocidade de perfuração pelos processos convencionais, quase duzentos metros por dia, caindo os gastos e custos na mesma proporção.
O produto da combustão do hidrogênio/oxigênio, vapor de água, produz no processo de fusão da rocha uma diminuição do ponto de fusão da rocha e causa, por isso, uma economia de energia porque o vapor de água será absorvido pela massa fundida ou deslocada durante o processo de perfuração. O maçarico é refrigerado internamente com nitrogênio líquido, sob pressão, que além de aumentar a vida útil do equipamento, por ser um gás não combustível, protege-o contra possíveis vazamentos que poderiam causar acidentes com o combustível.
O sistema é capaz de agüentar o efeito corrosivo da massa fundida de rocha super aquecida. Assim, é possível realizar em qualquer subsolo uma perfuração contínua, mesmo com um diâmetro grande de furo, com alta velocidade de penetração, com qualquer seção ou forma de furo e, conforme a necessidade, vertical, horizontal ou inclinada, sempre apresentando, como produto final, um revestimento no furo, não corrosível ou desgastável pelo tempo ou pelo uso, perfeitamente impermeável, formado pela vitrificação da própria rocha fundida e cravada, sob pressão, nas fissuras e reentrâncias da própria rocha.
a) Aplicações da Tecnologia:
- Exploração da abundante e inesgotável energia do interior da terra como já demonstrado:
- Exploração de minerais pelo método fluido;
- Túneis de alta velocidade como sistema de transporte;
- Túneis de abastecimento de água onde a canalização seria formada pela própria rocha fundida;
- Construção de depósitos permanentes e finais para lixo nuclear;
- Ciência e Pesquisa. Programas continentais de sondagem profunda para pesquisa de terremotos, vulcões, estratificações de matéria prima, etc;
b) Vantagens na Aplicação da Tecnologia:
- Não há produção de material escavado na perfuração, não havendo formação de detritos, poeira, etc;
- Não há contaminação ambiental. Tecnologia absolutamente limpa;
- O furo não precisa de revestimento, pois a própria rocha fundida reveste o furo de forma definitiva com uma perfeita vedação, dispensando qualquer tipo de manutenção futura;
- Grande velocidade de perfuração atingindo duzentos metros por dia;
- Menor custo;
c) Vantagens da Exploração da Energia Geotérmica:
- A energia geotérmica é inesgotável;
- Não é poluente;
- Não ocupa grandes áreas como, por exemplo, a hidroelétrica com suas represas inutilizando grandes áreas com suas represas;
- As usinas geotérmicas serão construídas nos grandes centros, dispensando as redes de transmissão de energia elétrica;
- Mais segura e de muito mais fácil manutenção.
Concluímos do que foi dito acima que temos, bem sob os nossos pés, recursos inesgotáveis de energia, sendo desnecessária a busca de outras soluções mirabolantes, pouco convincentes e perigosas à vida sobre a terra. Esta tecnologia, se adotada, seria indubitavelmente agraciada por todos os créditos carbono imagináveis pela sociedade e pelos políticos!
Por Antonio Germano Gomes Pinto
É bacharel em Química, licenciado em Química, químico industrial, engenheiro químico, especialista em Recursos Naturais com ênfase em Geologia, especialista em Tecnologia e Gestão Ambiental, professor universitário e autor de duas patentes registradas no INPI e em grande número de países.
(Ambiente Brasil, 03/05/06)
http://www.ambientebrasil.com.br/rss/ler.php?id=24460