Sociedade mobilizada contra projeto do governo federal no Rio Madeira
2006-05-03
Mais de 200 pessoas, representando grupos ambientalistas e sociais, povos
indígenas, e especialistas independentes estarão reunidos de 3 a 6 de maio em
Porto Velho, para o debate público da campanha "Viva o Rio Madeira Vivo",
promovido pelo Fórum de Debates de Energia da Rondônia (FOREN), Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB) e GT Energia do Fórum Brasileiro de ONGs e
Movimentos Sociais (FBOMS), com o apoio de diversas entidades, entre elas,
Núcleo Brasil Amigos da Terra - Brasil e Amigos da Terra - Amazônia Brasileira.
O objetivo é debater a implementação do projeto, tendo em vista as graves
conseqüências ambientais e sociais que a obra acarretaria e a incerteza em
relação à viabilidade econômica. O empreendimento vem sendo defendido pelo
governo brasileiro como a melhor maneira de garantir energia para a próxima
década. No entanto, a iniciativa sofre a oposição de grupos distintos como o
empresariado do setor de energia, os movimentos indígenas, sociais,
ambientalistas e pesquisadores.
"Queremos exigir do governo federal uma discussão ampla para que mais uma vez
não tenhamos a construção de uma obra onde os lucros são para beneficiar uns
poucos ficando para o povo e para o meio ambiente a conta da destruição", afirma
Sergio Leitão, ativista do Greenpeace.
Equilíbrio ambiental ameaçado e prejuízos sociais
A região é uma das mais ricas da região amazônica em biodiversidade, com 650
espécies de peixes e 700 espécies de aves. O represamento do rio prejudicaria a
migração de peixes, impedindo sua reprodução e trazendo impactos na fauna da
região. Além disso, a construção das represas também traria perdas para diversos
grupos indígenas e comunidades ribeirinhas que têm na pesca sua principal fonte
de alimentação.
É grande também a preocupação com a ocupação desordenada que esse tipo de
empreendimento pode ocasionar, a começar pela afluência de milhares de
trabalhadores remanejados de outras regiões do país para trabalhar nas obras.(*)
A especulação fundiária resultante do mesmo processo é comprovadamente um dos
principais vetores do desmatamento na floresta amazônica. (**)
"É impressionante que a invenção de questionáveis necessidades de
infra-estrutura, sem a discussão profunda pela sociedade, crie esse monstro
para convencer a todos nós brasileiros de que podemos dormir tranqüilos, pois o
futuro está assegurado", afirmou Telma Delgado Monteiro, representante do GT
Energia do FBOMS s na discussão regional sobre IIRSA.
Inviabilidade econômica
As usinas do rio Madeira devem ter um custo de US$ 1.400por kW instalada de,
40% maior que o das usinas que estão sendo construídas no sudeste do Brasil. E
este valor não inclui o custo da linha de transmissão. O assoreamento do rio
na área alagada deve levar a uma queda de 53% do potencial energético da usina
nos 28 primeiros anos de funcionamento.
Para o presidente da Câmara Brasileira de Investidores em Energia Elétrica
(CBIEE), Cláudio Salles, trata-se de um projeto megalômano. Segundo declarou ao
jornal Valor Econômico, "já há concessões para 5 mil MW na região, de projetos
mais avançados na análise ambiental e mais próximos aos centros de consumo. Há
soluções mais econômicas para o consumidor brasileiro".
Roberto Smeraldi, diretor de Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, complementa:
"O licenciamento de um projeto tão complexo leva anos, enquanto se tenta
iludir o mercado de que isso seria possível em poucas semanas".
Debate e aprimoramento
O evento oferecerá à população local debates com especialistas das áreas de
meio ambiente e energia, além da apresentação de estudos inéditos que
questionam diversos aspectos ainda não contemplados no EIA/Rima. Também será
oferecida por técnicos do MMA uma capacitação em licenciamento ambiental.
* - Casos análogos desse tipo de ocupação na Amazônia resultaram em aumento da
incidência de doenças infecto-contagiosas, como malária, hepatite e hanseníase,
além do agravamento das taxas de mortalidade infantil e aumento da ocorrência
de alcoolismo e consumo de drogas.
** - A energia produzida pelas hidrelétricas será transmitida ao Sistema
Integrado Nacional por meio de uma Linha de Transmissão de 1.500 km que irá
impactar 45 municípios, 22 terras indígenas e unidades de conservação. Segundo
estimativas dos empreendedores, 3.000 pessoas devem ser remanejadas com a
construção das barragens.
(Assessoria de imprensa Amigos da Terra -
Amazônia Brasileira, 01/05/06)