Uruguai volta a pedir apoio brasileiro para discutir celulose
2006-05-02
A diplomacia uruguaia pedirá ao Brasil que tente evitar um conflito entre o
governo de Montevidéu e a Argentina por causa da construção de duas fábricas de
celulose no Uruguai. "O Brasil precisa mostrar liderança na região, e essa
será uma boa oportunidade de fazê-lo", afirmou um alto funcionário de Montevidéu.
Buenos Aires afirmou que no dia 4 vai levar o caso à Corte Internacional de
Haia, na Holanda. Para a chancelaria uruguaia, está na hora de o Brasil passar
a lidar com o tema. A esperança dos uruguaios é que o Itamaraty convença os
argentinos de que também contam com fábricas similares às dos uruguaios e,
portanto, não teriam por que bloquear a construção com tecnologias finlandesa e
espanhola.
"Somos reconhecidos em várias instâncias internacionais como um país que respeita
o meio ambiente e o investimento que seria feito no Uruguai seria fundamental
para a economia do país", justificou o alto funcionário. Segundo cálculos do
governo uruguaio, o investimento de 1 US$ bilhão na cidade de Fray Bentos
representa tudo o que o país recebe em quatro anos em investimentos
estrangeiros. Além disso, equivale a 2% de todo o PIB uruguaio. "Essa disputa
não é ambiental, mas econômica e sobre a localização do investimento."
O governo uruguaio vai tratar do tema nos próximos dias com o chanceler Celso
Amorim, que está em Genebra. Em janeiro, representantes de Montevidéu
aproveitaram a passagem de Amorim pelo Fórum Econômico de Davos para tentar
convencer o Brasil a mediar o conflito que até agora não ocorreu. "É de interesse
de todo o Mercosul que esse problema seja resolvido, pois cria um ambiente
negativo para investimentos na região", afirma a fonte, que prefere manter o
anonimato.
Para a Argentina, a instalação da fábrica às margens do Rio Uruguai, na
fronteira dos dois países, poderá causar sérios danos ambientais. Na avaliação
de Buenos Aires, os uruguaios desrespeitaram o Estatuto do Rio Uruguai ao
autorizar a instalação da fábrica sem consultar o governo argentino, como prevê
o acordo entre os dois países. O principal argumento dos argentinos é quanto
à poluição que vai afetar Gualeguaychú, a cidade argentina que fica em frente
à uruguaia Fray Bentos.
Moradores de Gualeguaychú fizeram ontem (01/05) uma assembléia e decidiram
suspender o bloqueio da Rodovia 136, que leva ao Uruguai e estava fechada desde
o dia 4 de abril. O objetivo é aguardar a apresentação que o governo argentino
vai fazer na quinta-feira (04/05) na Corte Internacional de Haia.
(JC,
02/05/06)