Mato Grosso vive boom do biodiesel
2006-05-02
A tendência cada vez mais clara de uma contínua alta nos preços do petróleo, aliada à possibilidade de exaustão das reservas mundiais e às ótimas condições para a produção de oleaginosas em Mato Grosso, estão atraindo um boom de investimentos sem precedentes ao Estado. São inúmeras empresas querendo construir usinas de biodiesel -- combustível obtido a partir de óleos vegetais como a soja, o pinhão, a mamona e o girassol, que podem ser produzidas em abundância na região -- para o suprimento local ou para a venda a outros mercados.
Algumas destas indústrias já se encontram em pleno funcionamento e outras estão em fase de construção ou se preparando para instalação nas mais diferentes regiões do Estado.
No total, os investimentos das sete usinas em Mato Grosso -- três instaladas, duas em fase de implantação e dois projetos em andamento -- totalizam investimentos de R$ 80,2 milhões, para uma produção prevista de 217 milhões de litros de biodiesel por ano, maior até mesmo que a atual produção brasileira, estimada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) em 176 milhões de litros anuais.
"Podemos afirmar que o biodiesel é a bola da vez em Mato Grosso pelas oportunidades de investimentos que o Estado oferece nesta área, com retorno certo e garantido", diz o engenheiro José Epaminondas Mattos Conceição, subsecretário estadual de Desenvolvimento da Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme).
O número de empregos gerados por essas indústrias prevê a aberturas de 6,1 mil vagas, sendo 300 diretos e 5,8 mil indiretos.
As três usinas em funcionamento em Mato Grosso localizam-se nos municípios de Dom Aquino, Porto Alegre do Norte e Rondonópolis, com um potencial de 30,96 milhões de litros de biodiesel/ano e investimentos totais da ordem de R$ 12,6 milhões.
A primeira, de propriedade da Adequim Comercial e Indústria Química, com investimentos de R$ 3 milhões, possui capacidade para produzir 15 milhões de litros de biodiesel/ano. A empresa já vendeu toda a produção das safras 2006 e 2007 -- 30 milhões de litros de biodiesel -- no último leilão da ANP.
A usina de Porto Alegre do Norte, da Araguaçu Óleos Vegetais (investimentos de R$ 8 milhões), também pode produzir 15 milhões de litros por ano, enquanto a de Rondonópolis, da Sociedade Salles Indústria, no valor de R$ 1,5 milhão, possui capacidade de produção de 960 mil litros de biodiesel por ano.
Além dessas três plantas industriais que já estão em operação, existem mais duas em fase de implantação, sendo uma em Barra do Bugres (Barrálcool), com investimentos de R$ 27 milhões, e outra em Sorriso (Agrosoja), no valor de R$ 10 milhões.
A usina de biodiesel da Barrálcool -- a primeira do mundo anexa a uma destilaria de álcool -- entra em operação no próximo mês de agosto, com previsão de produzir 57 milhões de litros anuais.
A Agrosoja deve produzir 20 milhões de litros de biodiesel, devendo entrar em funcionamento até o final deste ano.
Outros dois projetos encontram-se em fase de elaboração e aprovação em Mato Grosso. O maior deles é o do consórcio Aprosoja/Ampa/Coabra (consórcio formado pela Cooperativa Agroindustrial do Centro-Oeste -- Coabra -- e pelas associações de produtores de soja e algodão em Mato Grosso), orçado em R$ 30 milhões. A meta é produzir 100 milhões de litros de biodiesel/ano.
O sétimo projeto em fase de andamento é o da Biobrasil, que deverá ser instalada no Distrito Industrial de Cuiabá, com previsão de produzir três milhões de litros de biodiesel este ano e nove milhões de litros em 2007.
Toda a produção prevista de Mato Grosso, somada, ultrapassa o que é produzido atualmente pelo Brasil. "Temos grande potencial para produzir a matéria-prima e as nossas condições climáticas favorecem. Mato Grosso poderá ser o novo eldorado para investimentos em projetos de biodiesel", arremata Epaminondas.
Biobrasil se instala no Distrito
A Biobrasil deverá ser a primeira fábrica de biodiesel a se instalar no em Cuiabá. O investimento, no valor de aproximadamente R$ 1 milhão, prevê a produção de três milhões de litros de biodiesel no primeiro ano de funcionamento da usina e nove milhões a partir do segundo ano (final de 2007).
"A Biobrasil nasce para preencher uma lacuna no promissor setor de energias renováveis. Acreditamos que o biodiesel não será apenas o combustível do futuro, mas o combustível do presente, pois o seu uso e a sua viabilidade já estão comprovados", afirma o diretor executivo da empresa, Glauco Ninomiya.
Além da produção do biodiesel, a empresa tem como objetivo a pesquisa e o desenvolvimento de outros biocombustíveis. "Atuaremos na produção de matérias-primas, inclusive álcool etílico e na construção de equipamentos e desenvolvimento de novas tecnologias".
Com tecnologia própria, a Biobrasil Indústria e Comércio de Biodiesel será implantada no Distrito Industrial de Cuiabá, gerando emprego e renda, com foco principal na produção de biodiesel e seus derivados, obtido a partir das mais variadas matérias-primas, como gordura animal e óleos vegetais, ou até mesmo de graxa de esgoto doméstico.
Segundo Ninomiya, Mato Grosso consome atualmente dois bilhões de litros de óleo diesel por ano. A partir de 2008, Mato Grosso obrigatoriamente consumirá no mínimo 40 milhões de litros de biodiesel, que será adicionado ao óleo diesel mineral.
"O Estado possui características ímpares, que são atrativos para a implantação da indústria de biodiesel. É o maior produtor de soja e produz em larga escala outros tipos de oleaginosas, que fazem parte da cadeia de matéria-prima para o biodiesel. Além disso, tem o maior rebanho bovino do país, com possibilidades de produzir uma grande quantidade de gordura animal que também é utilizado como matéria-prima do biodiesel", ressalta Ninomiya.
De acordo com o executivo da Biobrasil, essas características foram primordiais para a escolha de Cuiabá como sede da planta industrial. "Outra particularidade é o menor custo de produção em função da temperatura média local, bem como a sua ótima localização", destaca.
Colíder ganhará primeira usina integrada
Será implantada no município de Colíder (650 quilômetros ao Norte de Cuiabá), a primeira usina de biodiesel do País com produção totalmente integrada, com capacidade para produção de 133 mil litros/dia de biodiesel (47,88 milhões de litros por ano), utilizando como matérias-primas a soja, o girassol e o pinhão-manso.
O Grupo Fischer, sediado em Cuiabá, possui uma rede de oito empresas no ramo de autopeças e diversas agropecuárias, pretende diversificar suas atividades para o segmento de biocombustíveis renováveis.
Segundo a consultoria da empresa Orplase -- Consultoria Empresarial Ltda., contratada para desenvolver o projeto --, "o biodiesel é um combustível similar e alternativo ao diesel de petróleo, produzido por meio de óleos vegetais ou gorduras animais. Trata-se de uma energia limpa e renovável, que gradativamente substituirá o diesel".
A Fischer - Indústria e Comércio de Biodiesel e Derivados Ltda, interessada em fechar a cadeia produtiva e o destino de seus subprodutos, integrará à usina uma fábrica de ração animal, que utilizará o farelo de soja e girassol, resíduos da cadeia produtiva do biodiesel, assim como a montagem de uma indústria de fertilizantes agrícolas que pretende usar a torta do pinhão-manso como matéria-prima principal.
Adição de 2% de biodiesel acrescenta R$ 40 mi em MT
O subsecretário de Desenvolvimento da Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme), José Epaminondas Mattos Conceição, acredita que o biodiesel poderá reverter o quadro da economia regional, pois boa parte do diesel comprado em São Paulo para movimentar indústrias, grupos geradores, máquinas agrícolas e automóveis -- com ganho de impostos para aquele estado e perdas para Mato Grosso -- seria substituído pela nova matriz produzida na região.
Para se ter uma idéia, só de diesel Mato Grosso consome o equivalente a dois bilhões de litros, com uma evasão de divisas para São Paulo da ordem de R$ 3 bilhões anuais (excluindo o que se perde por meio da não-tributação do combustível com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, o ICMS).
"Se substituíssemos uma parte deste combustível pelo biodiesel produzido aqui, teríamos um efeito multiplicador expressivo em nossa economia pela movimentação financeira gerada pela nova matriz", acentua.
Só com a adição de 2% de óleo vegetal ao diesel, o impacto seria de R$ 40 milhões anuais na economia de Mato Grosso. E, quando esta mistura estiver na proporção de 5%, num prazo de quatro anos, esta cifra saltaria para R$ 100 milhões/ano.
"Isto sem considerar o consumo de óleos vegetais na lavoura, que é bem mais significativo e pode alcançar até 70% da mistura ao diesel", observa Epaminondas.
Feito à base de mamona, soja, dendê, girassol, pinhão e outras oleaginosas, o novo combustível poderá ter 2% adicionado ao diesel de petróleo para o uso em veículos automotivos.
A determinação do governo Federal é de que a partir deste ano todo o diesel seja comercializado com adição mínima de 2%. Essa mistura é chamada de B2.
A partir de 2008, este percentual sobe para 5% e terá a nomenclatura de B5.
As autoridades acreditam que o uso do novo combustível trará ganhos sociais, econômicos ambientais para o País, ao privilegiar a participação da agricultura familiar, gerando emprego e renda no campo, permitindo a redução das importações de diesel de petróleo e melhorando a qualidade do ar nos centros urbanos.
Consórcio vai implantar usina de biodiesel
Produtores de soja e algodão de Mato Grosso acabam de criar uma comissão que irá estudar a viabilidade técnica e econômica para a implantação de uma usina de biodiesel com capacidade para produzir até 100 milhões de litros de biocombustível por ano.
O resultado do estudo será apresentado dentro de 30 dias por técnicos contratados pelas associações de produtores de algodão (Ampa), soja (Aprosoja) e Cooperativa Agroindustrial do Centro-Oeste (Coabra).
O investimento deverá consumir cerca de R$ 30 milhões e a previsão é de que a fábrica entre em operação dentro de um ano.
O objetivo, segundo o presidente da Ampa e coordenador do projeto, João Luiz Ribas Pessa, é reduzir os custos de produção a partir da utilização do biodiesel nas máquinas, tratores e colheitadeiras nas lavouras de soja e algodão do Estado, aproveitando-se as matérias-primas disponíveis, como o caroço do algodão, a soja e até mesmo milho.
"Seria uma forma de estarmos fornecendo matéria-prima para nós mesmos produzirmos o combustível que é um dos principais fatores de custo para nossa produção", explica Pessa.
Mato Grosso consome cerca de dois bilhões de litros de óleo diesel por ano. Deste total, cerca de 800 milhões de litros são utilizados no processo produtivo apenas nas lavouras de soja (720 milhões de litros) e algodão (80 milhões de litros), totalizando uma área plantada de aproximadamente 6 milhões de hectares.
Pelos cálculos da Ampa, a produção prevista atenderia 5% da demanda dos produtores, que reduziriam de 8% para 4% o custo total de combustível em uma lavoura.
Com a economia gerada com a utilização do biodiesel, os agricultores poderiam economizar até duas sacas de soja de 60 quilos em cada hectare cultivado. "A principal idéia do projeto é reduzir os custos de produção para o produtor", justifica Pessa.
O biodiesel produzido pelo consórcio Aprosoja/Ampa/Coabra atenderá apenas aos produtores associados.
(Diário de Cuiabá, 01/05/06)