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2006-05-02
Apesar dos desafios técnicos e políticos, o projeto do gasoduto Venezuela-Brasil-Argentina é viável, já que o gás chegará a Buenos Aires a no máximo US$ 30 o barril equivalente ao do petróleo, cifra competitiva até mesmo com os cenários mais otimistas traçados para o preço futuro do petróleo, avalia Ildo Sauer, diretor de Gás e Energia da Petrobras.

Idealizador do projeto, Sauer disse, em entrevista à Folha, que o maior desafio será o "político", e não o técnico, embora existam dificuldades como cruzar o maciço das Guianas e o rio Amazonas.

Já especialistas ouvidos pela Folha apontam ao menos três entraves: a viabilidade econômica do projeto, os problemas ambientais e a dificuldade atual em precisar as reservas de gás da Venezuela.

Além disso, dizem, o gasoduto criará uma forte dependência do Brasil (ainda maior do que com a Bolívia) e da Argentina em relação à Venezuela.

Sauer nega, no entanto, que o governo boliviano rejeite o projeto, que tem como principal avalista político o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aliado do presidente Evo Morales. Anteontem, o vice-ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Julio Gómez, disse que o projeto do gasoduto gigante "é uma maluquice" que não "tem nem pé nem cabeça".

Sauer disse que apresentou a idéia ao vice-presidente da Bolívia, Alvaro García Linera, que se mostrou favorável ao projeto, que também conta com a aprovação do presidente Evo Morales. Com mais de 7.000 km de extensão, o gasoduto terá capacidade para transportar 1 milhão de barris equivalentes/dia de gás, consumindo US$ 23 bilhões em investimentos.

A idéia é abastecer com gás venezuelano os mercados de Brasil, Argentina, Uruguai e, numa segunda fase, Chile (que já está conectado à rede argentina de dutos) e Paraguai, além de interligar Peru e Bolívia à rede sul-americana de gasodutos.

Para Sauer, a grande vantagem do gasoduto é a "interiorização" do gás, o que promoverá o desenvolvimento de novos eixos econômicos no Brasil. Citou como exemplos pólos de mineração e siderurgia no Pará e no Amapá, o desenvolvimento da agroindústria no Centro-Oeste e o avanço da geração de energia termelétrica no Nordeste, cuja capacidade de abastecimento chega ao limite.

Se a opção fosse comprimir o gás e transportá-lo por navios na modalidade de GNL (Gás Natural Liquefeito), o insumo chegaria ao litoral, onde já existe o acesso ao gás natural, avalia. Sauer afirma que o tamanho do projeto do gasoduto traz um "ganho de escala" que permite preços competitivos. Além disso, o gasoduto, diz, trará "independência" entre fornecedores e compradores, já que um produtor não dependerá de só um único mercado e vice-versa.

O secretário de Estado de Energia, Petróleo e Indústria Naval do Rio, Wagner Victer, discorda. Diz que haverá uma "forte relação de dependência". "O projeto, além de ser inviável, um sonho, criará uma fragilidade maior do que com a Bolívia", disse. Para ele, a integração energética deve ocorrer por meio de plantas de GNL, o que reduz o "risco político", já que o gás pode ser importado de outras fontes em caso de instabilidade na Venezuela.

Victer disse ainda que o preço do gás, "mesmo que saísse a US$ 1 da Venezuela", não chegaria a Buenos Aires com preço competitivo, "a menos que o Brasil subsidiasse o gás fornecido à Argentina". Outro erro do projeto, afirma, foi alijar a Bolívia.

Para o especialista Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), a maior dúvida é quanto ao tamanho das reservas da Venezuela. "Ninguém sabe quanto gás existe lá. Não é possível fazer um gasoduto com investimentos de US$ 23 bilhões sem essa informação. Nenhuma estatística da Venezuela é confiável."

Analista argentino aponta chance de integração
O economista e sociólogo argentino Aldo Ferrer, professor da Universidade de Buenos Aires e ex-ministro da Economia e do Trabalho da Argentina, disse que o projeto do gasoduto Venezuela-Brasil-Argentina, se for viável, será uma grande oportunidade de integração sul-americana.

"Quanto mais nos integramos na economia, mais integração política vamos ter. E, quanto mais entendimento tivermos área política, mais integração vamos ter", disse Ferrer em entrevista à Folha, depois de proferir palestra no Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro).

O economista fez a ressalva de que o projeto ainda está em fase de estudos.

Para Ferrer, os países da região tem outro desafio à integração: a Bolívia. É preciso, diz, "ajuda, compreensão e muita tolerância" com o país, que tem graves problemas sociais.

Com auxílio dos vizinhos, o economista crê que "o governo boliviano adote políticas que defendam o interesse da Bolívia e do povo boliviano e que, ao mesmo tempo, sejam realistas, permitindo investimentos, comércio e integração".

Indagado sobre os problemas que a EBX, de Eike Batista, e a Petrobras enfrentam na Bolívia, Ferrer disse que falta "diálogo e entendimento" para "colocar em marcha ações concentras" entre Bolívia e vizinhos nas áreas de gás, petróleo e investimentos estrangeiros.

Sobre a disputa entre Argentina e Uruguai em relação à instalação de duas fábricas de papel, o economista afirmou que o "tema é bilateral" e que não cabe intervenção do Brasil. Tal conflito, diz, só foi possível porque a política industrial foi esquecida no Mercosul.

Guinada à esquerda
Na avaliação de Ferrer, as eleições de governos de esquerda na América do Sul -e a provável eleição de outros tantos- refletem "o descontentamento" dos povos, que "buscam novos caminhos". Para ele, "as novas orientações têm de dar resultados em termos de desenvolvimento e de bem estar". "Esse é o grande desafio", disse.

A convergência à esquerda só facilita a integração sul-americana "se as políticas que os governos desenvolverem forem realistas". E será só com um choque de realismo, segundo ele, é que o Mercosul se desenvolverá. "Temos de construir o Mercosul possível", disse.
(Folha de S.Paulo, 29/04/06)

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