Mais de 100 mil argentinos pedem que fábricas de celulose não sejam abertas
2006-05-02
Cerca de 100.000 pessoas participaramno domingo (30/04) de uma manifestação na Argentina, nas proximidades de uma ponte que liga o país ao Uruguai, para pedir que duas fábricas de celulose não sejam instaladas na cidade uruguaia de Fray Bentos. Levando cartazes com dizeres "Não às fábricas de celulose" e bandeiras da Argentina, os manifestantes caminharam pela cidade argentina de Gualeguaychú até a ponte General San Martín, uma das três que cruzam o rio Uruguai.
A ponte liga Gualeguaychú a Fray Bentos, onde a companhia espanhola Ence e a finlandesa Botnia estão construindo fábricas de celulose com um investimento conjunto de US$ 1,8 bilhão, que são consideradas pelos argentinos um risco ao meio ambiente. A manifestação acontece um ano depois de outra que reuniu 40.000 pessoas pelo mesmo motivo. Este ano, participaram 100.000 manifestantes, segundo os organizadores e as forças de segurança presentes na mobilização.
"Solicitamos aos bancos internacionais e aos Governos da Espanha e Finlândia que não financiem diretamente ou indiretamente" a construção das fábricas de celulose, destaca o documento lido na ponte por membros da Assembléia Ambiental de Gualeguaychú, que organizou a manifestação. Os membros da assembléia que leram a declaração depois de cantar os hinos da Argentina e do Uruguai, rejeitaram a "instalação das empresas Botnia e Ence, autorizada pelo país vizinho, sem considerar as graves conseqüências que causarão na Argentina".
"A construção das fábricas não respeita o Tratado do Rio Uruguai assinado pela Argentina e Uruguai. Estas iniciativas são altamente poluentes no mundo todo. Pedimos aos governantes que respeitem os estatutos para a preservação do meio ambiente", afirma o documento. Organizações sociais, ambientalistas e sindicatos viajaram de Buenos Aires e outras províncias do interior do país para se juntar à mobilização, assim como manifestantes vindos do Uruguai e do Chile.
A manifestação foi acompanhada por cerca de 700 policiais.
Famílias inteiras iniciaram uma carreata no centro de Gualeguaychú e continuaram pela rota 136 até chegar à ponte, que teve sua circulação restringida "para garantir a estabilidade" da via, informou a Direção Nacional de Vias Públicas. Ana Angelini, advogada da assembléia, defendeu que "a população quer um meio ambiente agradável como estabelece a Constituição".
"Esta manifestação é uma demonstração de que as pessoas não querem as fábricas de celulose. É toda uma população que reivindica que não instalem as indústrias. Isto tem que pesar na decisão", afirmou Horacio Melo, integrante da assembléia. Desde o protesto realizado há um ano, habitantes de Gualeguaychú, situada na província argentina de Entre Ríos, realizam bloqueios na estrada que ligam os dois lados da fronteira, em repúdio à instalação das fábricas de celulose.
A construção das fábricas provocou um conflito entre Uruguai e Argentina, que solicita a suspensão das obras por 90 dias para realizar um estudo sobre o impacto ambiental na região. O Governo argentino teme que as fábricas de celulose contaminem a bacia do rio Uruguai, limite natural entre os países, o que as autoridades uruguaias e as empresas envolvidas negam.
Na próxima sexta-feira (05/05), o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, chegará a Gualeguaychú para participar de um ato em defesa do meio ambiente, acompanhado pelos governadores da maioria das províncias argentinas. O ato acontecerá um dia depois da data prevista para que o Governo Argentino faça sua apresentação ao Tribunal Internacional de Haia contra a instalação das fábricas de celulose.
(EFE, 30/04/06)
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