Chegada do vento sul complica montagem da usina eólica de Osório
2006-05-02
O vento sul que passou a soprar a partir de 1 de maio, gelando o nariz e as orelhas dos trabalhadores do canteiro de obras da usina eólica de Osório, promete agravar o atraso na montagem dos aerogeradores no topo das 75 torres do empreendimento. O mês de abril chegou ao fim com 13 cata-ventos prontos – ou 14, se for contado aquele que ficou sem as pás no final de sábado, dia 29/4, quando o céu do litoral norte do Rio Grande Sul começou a se virar para receber a segunda frente fria do ano.
Nos dez dias seguintes à visita de Lula ao canteiro de obras, os técnicos conseguiram montar apenas um aerogerador – a lentidão não foi só por causa das rajadas de vento que ameaçam a estabilidade dos guindastes-gigante, mas porque está havendo uma concentração de esforços para concluir a subestação elétrica e o cabeamento desta com os oito primeiros aerogeradores prontos para produzir.
É grande a cobrança pelo cumprimento de prazos, pois a Ventos do Sul quer iniciar o quanto antes o fornecimento de eletricidade à Eletrobrás, já que a linha de transmissão está pronta — e energizada pela CEEE, que garantiu a corrente para o acionamento do primeiro aerogerador pelo presidente da República no dia 19/4.
Por isso é bastante tenso o relacionamento entre os fornecedores e os contratantes de serviços e equipamentos para o parque eólico. Todo dia chovem ameaças de cobrança de multas por atraso nas entregas. Os que sofrem pressões mais intensas — como a empreiteira responsável pelo prédio da subestação elétrica, uma construção bastante complexa, contratada por 1,1 milhão de reais — cobram compensações por dias de chuva ou por atrasos vindos em cadeia de fornecedores vizinhos.
No tiroteio entre espanhóis e alemães, quem mais leva chumbo são os brasileiros. Se os alemães reclamam da “politicagem” em torno da obra, os espanhóis alegam que receber autoridades — e gastar somas consideráveis com isso — faz parte do negócio.
A tensão no canteiro aumentou após a tragédia de quinta-feira passada (27/4), quando um fornecedor morreu após cair de uma escada, no primeiro acidente fatal no perímetro da obra, onde é ostensiva a cobrança pelo uso de equipamentos e cuidados com a segurança.
Na realidade, fora o tempo e o vento, os principais responsáveis pelos atrasos são os alemães, que estão sobrecarregados de pedidos para atender encomendas principalmente da própria Alemanha, onde a energia eólica caminha para passar de 14% para 25% da eletricidade produzida no país. Mas na obra de Osório, como em toda obra dependente de favores públicos, não há culpados absolutos. No entanto, se alguém puxar o fio do primeiro atraso, pode acabar botando a culpa na tecnoburocracia governamental, que deu uma canseira nos brasileiros responsáveis pelo projeto, entre 1999 e 2005.
Por Geraldo Hasse, de Osório, para O Diário dos Ventos, série exclusiva do Ambiente Já e Jornal Já – www.jornalja.com.br.