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2006-05-02
Em dez anos, 30% da área no sertão pernambucano foi utilizada para fins energéticos. Durante um seminário sobre Eficiência Energética em Bases Sustentáveis, os fiscais da delegacia do Ibama no Recife reuniram-se com empresários do pólo gesseiro de Pernambuco, na cidade de Trindade (no Sertão do Araripe, a 655 quilômetros de Recife), e apresentaram o novo modelo de fiscalização que será feito através do controle da lenha/carvão consumido pela produção de cada empresa. De acordo com as novas normas ambientais as, empresas terão que utilizar 100% de lenha manejada. Os fornecedores de lenha terão de praticar o replantio, planejado dentro de um cronograma de cortes sazonais. A técnica é exigida para conter a depredação ambiental resultante do processamento da gipsita, e que vem causando danos importantes no ecossistema da caatinga da região do Araripe, onde se concentram empresas gesseiras de Pernambuco.

A partir de agora, a fiscalização será feita por meio da atualização do cálculo de consumo médio de lenha ou carvão por cada tipo de forno das empresas consumidoras. Também serão usadas para o controle, a identificação da produção declarada no Cadastro Técnico Federal e a utilização do ICMS ou IPI recolhido na produção e comercialização do produto especifico do empreendimento.

O encontro de Trindade foi promovido em parceria com os grupos empresariais do segmento, a Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos e Ambientais, o Banco do Nordeste, o programa Gef-Caatinga, o Sebrae e a Rede de Manejo Florestal, além de empresários de representantes de sindicatos, prefeituras e ONG’s. Na oportunidade, foram apresentados também dados sobre a situação do bioma caatinga na área do Araripe e sugeridas soluções e prazos para que a empresas adotem o novo sistema.

Segundo o superintendente do Ibama, João Arnaldo Novaes, cerca de 70 empresas da região são responsáveis pelo consumo de 267 mil caminhões de lenha. Desse total, 97% são de origem insustentável e predatória "Vamos monitorar a procedência da lenha nas empresas, e elas terão um prazo de 90 dias para começarem a utilizar o sistema de manejo florestal".

Segundo levantamentos desenvolvidos pelo Ministério das Minas e Energia em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente, nos últimos 10 anos, a cobertura florestal da caatinga diminuiu 30% de sua área total e o principal responsável por este cenário é a operação de indústrias que utilizam espécies nativas da caatinga como fonte de energia.

Fins energéticos
Em Pernambuco, os principais consumidores de produtos ou sub-produtos florestais para fins energéticos atualmente são: o pólo gesseiro do Araripe, responsável pela produção de 95% do gesso fabricado no Brasil, a Siderúrgica Fergusa , em São José do Belmonte, também localizada no Sertão, a Ondunorte, de papel, na Região Metropolitana do Recife, o pólo têxtil e as calcinadoras do Agreste e as cerâmicas da zona da Mata Norte. O Ibama envolverá na operação mais sete pólos nos próximos três meses e a expectativa é que em um ano todas as áreas tenham adotado o plano de manejo florestal de produtos da caatinga.

O presidente do Sindusgesso, Josias Inojosa, que congrega os grupos de processamento do no Vale do Araripe, Alto Sertão, afirma que agora as empresas do Pólo Gesseiro vão se adequar às exigências do Ibama. Atualmente, das 130 calcinadoras de gypsita existentes na região, cerca de 120 utilizam lenha. Desse total, apenas 20% utilizam lenha legal. O uso mais intenso da lenha teve início em 1999, quando, contraditoriamente, o Ibama iniciou um programa de estímulo ao uso da lenha legal, alegando que o uso do manejo sustentável seria uma forma de gerar emprego e renda ao agricultor.

Contudo, o órgão sediado em Salgueiro possui cinco fiscais, insuficiente para manter o controle da depredação. Em 1994, o Ibama já havia estimulado os produtores a deixarem de usar a lenha em utilizar o óleo BPF. Naquela ocasião, as indústrias fizeram investimentos para adaptar seus fornos ao novo combustível. Mas, o governo federal, interessado em viabilizar o gasoduto Brasil / Bolívia, passou a estimular o uso do gás natural.

Para isso, promoveu um aumento no preço do óleo BPF de 3 mil por cento no período de apenas três anos, inviabilizando o uso dessa matriz energética. E assim a lenha voltou a ser queimada em alta escala pelos calcinadores da gipsita. Segundo Josias Inojosa Filho, esse combustível oferece condições ideais desde que todos operem na legalidade.

Inojosa Filho disse que uma área de 15 mil hectares de eucalipto seriam suficientes para abastecer todo o pólo gesseiro. "Para isso, o governo federal precisa criar estímulos para implantação desse projeto, criando linhas de financiamentos adequadas e dando prazo suficiente para que as adequações possam ser feitas", disse.

No processo de produção do gesso, a primeira etapa é a extração do minério e, em seguida, se faz a britagem do material, que será calcinado nos fornos. A partir daí, se produzem os pré-moldados, como placas e blocos de paredes divisórias, além das misturas utilizadas em massa de revestimento cola, gesso dental ortopédico, entre outros.

Cerca de 600 empresas integram o Pólo Gesseiro do Araripe, sendo 39 mineradoras, 139 calcinadoras e mais 400 produtores de pré-moldados de gesso. A região é hoje responsável pela produção de 3,2 milhões de toneladas/ano, o que gera a movimentação de 500 caminhões/dia. O Sindusgesso conta com um quadro de 61 associados. A capacidade instalada e em operação representa 95% de todo o gesso brasileiro, gerando 12 mil empregos diretos e 60 mil indiretos. No ano passado, as empresas do pólo faturaram US$ 300 milhões.
(GM, 02/05/06)

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