Miniusinas de mamona serão instaladas no Interior do Ceará
2006-05-02
O Instituto Centec está construindo com empresas do Interior do Ceará, de
Tabuleiro do Norte e de Limoeiro do Norte, as duas miniusinas de biodiesel que
o Dnocs vai colocar em Piquet Carneiro e Tauá, para funcionar em maio. Outra
empresa de Missão Velha já concluiu todos os equipamentos de duas unidades
esmagadoras de mamona para extração de óleo, que vão ser instaladas junto às
miniusinas nos dois municípios.
A montagem dos equipamentos, orçados em R$ 1,2 milhão, está sendo acompanhada
por consultoria da TecBio, de Expedito Parente, autor da primeira patente
mundial do biodiesel. Os recursos são oriundos de emenda do deputado Ariosto
Holanda colocada no orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e
repassada ao Dnocs. Em emenda para o orçamento do MCT em 2006, o parlamentar
assegurou ainda recursos para a construção e instalação de miniusina e
esmagadora de mamona em Itapipoca.
Cada unidade tem capacidade para a produção de 100 litros de biodiesel por
hora. Uma está sendo feita pela metalúrgica Itamaq, de Tabuleiros do Norte, e
outra pela metalúrgica Aureliano, de Limoeiro do Norte. Em Missão Velha, na
metalúrgica Linard, foram construídas as duas unidades esmagadoras de bagas de
mamona para extração do óleo a ser transformado em biodiesel. Uma delas foi
transportada na última terça-feira para Piquet Carneiro, onde foi instalada
na quinta-feira (27/04), e a outra seguirá na próxima semana para Tauá.
Quatro alunos do curso de Eletromecânica da Faculdade de Tecnologia Centec
acompanham a construção das miniusinas, dois em cada uma delas, para assimilar
e replicar a tecnologia. Na sede do Centec, em Limoeiro do Norte, estão sendo
construídos os quadros de comando das miniusinas e todas as instalações
elétricas, com o acompanhamento pelo professor Paulo Jorge Freire e quatro
alunos do curso de Eletromecânica da Faculdade de Tecnologia.
O assessor da presidência do Centec, José Façanha Gadelha, informa que está
previsto para maio o início de operação das miniusinas. Segundo Ariosto
Holanda, a miniusina é uma forma de agregar valor à produção de mamona, uma
vez que a cooperativa dos agricultores, com apoio da Prefeitura e do Dnocs, não
vende apenas as bagas ou o óleo, mas já pode comercializar o produto final, o
biodiesel.
Segundo Façanha, o Centec também está plantando sementes selecionadas de
mamona em diversos municípios. O presidente do Instituto Centec, Amaury Oriá,
informa que o programa de miniusinas é uma parceria com o Dnocs, com
consultoria da TecBio. A Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão
Social do MCT já liberou recursos para cinco miniusinas de biodiesel no
Nordeste, duas no Ceará, com capacidade para mil litros por dia, que vão
agregar valor à produção dos pequenos agricultores.
Com a miniusina, a agricultura familiar participa não apenas com a venda de
matéria-prima, mas também no esmagamento da semente para fazer o óleo e na
transformação do óleo em biodiesel, gerando uma fonte permanente de renda na
atividade agrícola no interior rural. A Petrobras deve comprar este biodiesel
de diversos produtores e fazer a retificação da qualidade antes de distribuir
o produto para adição na bomba de combustível.
Mamona é isenta de impostos
O programa de biodiesel, lançado em 2004 pelo presidente Lula, se apoia no
tripé formado pela sustentação ambiental, custo compatível com a realidade
brasileira e inclusão social, disse Arnoldo de Campos, coordenador do Programa
de Biodiesel do Ministério do Desenvolvimento Agrário. A meta de produção para
quando for obrigatória a adição de 2% de biodiesel ao óleo diesel em 2008 é de
1 bilhão de litros por ano e de 2,4 bilhões em 2013, informou.
Os empreendimentos industriais abastecidos por sistemas de produção de
agricultura familiar com a produção de mamona e dendê têm isenção de impostos,
conforme concessão do Selo Combustível Social, informa Arnoldo de Campos.
“Queremos que o produtor de biodiesel tenha no agricultor familiar ou assentado
da reforma agrária um parceiro de produção de oleaginosas ou óleo ou
biodiesel”, disse ele.
Já foram realizados dois leilões de biodiesel pela Agência Nacional de Petróleo,
Gás e Biocombustíveis (ANP) com a aquisição de 240 milhões de litros pela
Petrobras. Do total, 60% foram produzidos da soja; 25% da mamona e o restante
de girassol, nabo forrageiro e outras oleaginosas. Aí estão incluídos grandes,
médios, pequenos produtores e assentados da reforma agrária. Arnoldo de Campos
estima que Petrobras terá de pagar R$ 1,5 bilhão por 700 milhões de litros
até dezembro de 2007. A agricultura ficará com R$ 700 milhões.
Oito indústrias já têm o Selo Social para a produção de biodiesel no País – o
cearense Nutec, Agropalma, Biolix, BR Biodiesel (duas plantas), Fertibom,
Renobras e Soyminas - distribuídas nas diversas regiões. Há 17 outros pedidos
de registro. O coordenador assinala que hoje o Brasil detém um quarto da
produção de biodiesel da Alemanha, maior produtor mundial, e deverá chegar a
ser nos próximos anos a ser líder mundial no segmento.
Ainda em maio, segundo ele, com o terceiro leilão da ANP, serão adquiridos 400
a 500 milhões de litros, envolvendo cerca de 90 mil famílias no programa. Em
2006, o governo tem como meta já ter engajado 100 mil famílias na produção de
biodiesel. No final do próximo ano, pretende tem envolvidas 200 famílias na
cadeia produtiva, assinala Campos. Hoje, cerca de 40 mil famílias participam
da cadeia produtiva.
Conforme Arnoldo de Campos, o modelo tributário montado com base nas leis do
biodiesel procura fazer com que a produção passe pela pequena propriedade,
pela agricultura familiar e assentados da reforma agrária. “Se muda o modelo
tributário, haverá grande concentração industrial em apenas uma ou duas regiões
e de uma oleaginosa apenas em produtores de grande escala”, alertou.
Arnoldo de Campos disse que outros países estão mudando os seus programas de
biodiesel, copiando os do Brasil. Como exemplo, citou o caso do Estado de
Washington (EUA), que aprovou medida para estabelecer obrigatoriedade de 2%. A
Alemanha está mudando o seu programa, hoje voluntário com redução de tributos,
para trabalhar a obrigatoriedade, acrescentou.
(Diário do Nordeste,
28/04/06)