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2006-05-02
No Dia Nacional da Caatinga (28/4), os ambientalistas cearenses não tiveram muito o que comemorar. Um dos principais biomas do País, a caatinga, corre sério risco de desaparecer. A cada ano, as queimadas e o mau uso do solo degradam cerca de 350 mil hectares desta formação vegetal. Se nada for feito para barrar a degradação ambiental , a caatinga nordestina pode chegar ao ano de 2010 com apenas 30% de sua área total. O alerta é da presidente do Grupo de Interesse Ambiental (GIA), Cláudia Bezerra. Segundo ela, o bioma é o segundo mais degradado do País. Dos 800 mil quilômetros — que abrangem de forma contínua os estados do Nordeste e parte do Norte de Minas Gerais — apenas 15% estão intactos. Os outros 85% já sofreram degradação.

Dentro da programação do Dia da Caatinga, membros do GIA, a ONG Associação dos Proprietários de Reservas Particulares de Patrimônio Natural no Bioma Caatinga (Asa Branca), integrantes do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga e do Comitê do Previna e da Comissão Inteinstitucional da Educação Ambiental do Estado do Ceará (Ciea) participaram de solenidade, no Palácio Iracema, onde o governador Lúcio Alcântara entregará à Associação Caatinga o Prêmio Joaquim Feitosa. É o reconhecimento das ações voluntárias da entidade desde 1988.

De acordo com Kelma Nunes Rodrigues, ambientalista e membro da Asa Branca, 117 municípios, ou seja, 92% do território cearense, estão dento de área da caatinga. Este bioma, explica a ambientalista, é único e exclusivamente brasileiro. Sua biodiversidade é única no mundo e a vegetação diversificada compreende cerca de 932 espécies, sendo que 380 são endêmicas, ou seja, exclusivas da reserva. A fauna, por sua vez, conta com 148 espécies de mamíferos, das quais 10 são endêmicas.

Ser exclusiva não é credencial para impedir a devastação ambiental. A ação criminosa do ser humano — caça predatória, queimadas e desmatamento — conforme Cláudia Bezerra, “já modificou uma área bastante significativa da reserva, causando desaparecimento de espécies, animal e vegetal, e desertificação. Entretanto, pouco se discute no meio acadêmico. Hoje só se fala em mata atlântica e, Amazônia, enquanto que a caatinga está sendo transformada em carvão, levando ao desaparecimento de diversas espécies da flora e da fauna”, denuncia.

Para ela, o que barra as ações voltadas para a preservação ambiental são os poucos conhecimentos dos professores e da sociedade em geral com relação ao bioma. “Os trabalhos desenvolvidos pelas ONGs estão centralizados e não houve, até então, uma preocupação em integrar outros setores da sociedade, no caso, as escolas e universidades, no trabalho de educação ambiental”, observa Cláudia Bezerra, ressaltando que a Associação Caatinga, por exemplo, atua desde 1998 em Crateús. Já a Asa Branca, desde 2003; e o GIA, desde 1998. Hoje, estas entidades estão unidas com trabalhos voltados à capacitação de agentes multiplicadores — educadores e estudantes — de forma que as ações ganhem corpo e cresçam junto à sociedade.

Ações incentivam a preservação ambiental
Promover a conservação da biodiversidade, o desenvolvimento sustentável e incentivar o conhecimento científico do bioma da Caatinga. Estas são ações que fazem parte do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga (RBCA), criado, pioneiramente, pelo Ceará, em 28 de abril de 2004.

O Comitê é um órgão colegiado, que serve de apoio ao Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga, com caráter consultivo. O RBCA é composto por sete representantes dos órgãos e entidades governamentais e sete representantes da sociedade civil, composto por organizações não governamentais (ONGs), comunidade científica e o setor produtivo.

Dentre as suas principais ações está a entrega do Prêmio Ambientalista Joaquim Feitosa, publicação do livro “Aves da Caatinga”, elaboração do Plano de Ação Estadual da RBCA, propondo prioridades, metodologias e áreas de atuação, entre outros.

A criação do Comitê integra uma das ações do Programa Estadual de Florestas (PEF), que além do RBCA tem como outras metas, entre outras, palestras; o controle de queimadas (até fevereiro deste ano foram realizados 350 controles); e o projeto de reflorestamento da Colina do Horto do Padre Cícero.

A idéia de preservação também é repassada por meio do curso de multiplicadores, realizado pela Semace. Toda semana, de dois a três municípios são visitados. Durante o curso, que existe há 11 anos, são transmitidas informações sobre desmatamento, meio ambiente, legislação, resíduos sólidos, convivência etc.

“Queremos mostrar que a Caatinga é tão importante quanto qualquer outra floresta, pois também é uma floresta, com espécie diferenciada”, comentou a coordenadora de extensão e educação ambiental da Semace, Maria José Holanda.

Dos 184 Municípios do Estado, 78 já foram visitados. Um plano de ação é elaborado durante o curso e depois os profissionais da Semace voltam ao local para saber o seu andamento. Os resultados, segundo ela, são constatados: “Há uma modificação das pessoas em relação à preservação do ambiente. A gente percebe como eles se modificam”.

Cursos vão capacitar educadores
Enquanto as entidades ambientais lutam para vencer os desafios de manter preservado o bioma caatinga, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vai fazendo o que pode para impedir as ações predatórias do ser humano.

José Ribeiro Neto, chefe de gabinete do Ibama no Ceará, explica que o órgão mantém a Estação Ecológica de Aiuaba, uma das maiores reservas de caatinga do Nordeste.

Segundo ele, a preservação desse e de outros biomas é uma das grandes preocupações do órgão. “Tanto que a gente tem procurado atender a todos os chamados e reivindicações das ONGs que atuam na área, principalmente da Associação Caatinga, em Crateús.

Conforme José Ribeiro, uma das propostas do Ibama será transferir o escritório localizado na cidade de Granja para Crateús. “A idéia é realizar um trabalho junto com a Associação Caatinga. Por outro lado, a região dos Inhamuns está localizada totalmente dentro da caatinga”, justifica o chefe de gabinete.

Além da transferência do escritório para Crateús, o Ibama pretende ainda criar escritórios em Sobral e Iguatu, para garantir uma cobertura maior na região Norte e Centro-Sul.

Junto às ações do Ibama, o GIA e a Asa Branca realizarão cursos de capacitação no Interior do Ceará. O objetivo é realizar simpósios de capacitação e educação ambiental sobre o bioma caatinga no Interior cearense. A idéia é treinar educadores, estudantes e representantes de entidades, entre outros seguimentos da sociedade, para que ajudem na luta pela preservação ambiental.

Conforme Cláudia Bezerra, a idéia dos simpósios surgiu após uma pesquisa realizada pelos alunos das universidades Federal e Estadual do Ceará, e Vale do Acaraú, onde ficou constatada a necessidade de capacitação e esclarecimentos sobre a importância da preservação da caatinga e o combate à desertificação.
(Diário do Nordeste, 28/04/06)

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