Cronologia da polêmica das papeleiras
2006-04-28
2002
A espanhola Ence, que deixou em 2001 de ser empresa pública para torna-se sociedade anônima em 2002, apresenta ao Governo uruguaio o projeto para a instalação de uma planta de pasta de celulose em Fray Bentos, com um investimento de US$ 600 milhões.
2004
A finlandesa Botnia apresenta ao governo uruguaio o projeto para instalação de uma fábrica de celulose com um investimento de US$ 1,2 bilhão. A notícia gerou resistência em Gualeguaychú e em organizações civis e ambientais do Uruguai por conta da eventual contaminação que as fábricas provocariam.
Abril de 2005
Cerca de 40 mil pessoas bloqueiam por 24 horas a ponte internacional Gualeguaychú-Fray Bentos em protesto às instalações das duas fábricas de celulose no Uruguai. Formou-se em seguida a Assembléia Ambiental de Gualeguaychú.
Maio de 2005
Os presidentes Néstor Kirchner e Tabaré Vázquez resolvem criar uma comissão binacional para analisar o impacto ambiental das papeleiras.
Agosto de 2005:
O presidente argentino reúne-se com um grupo de ambientalistas da cidade de Gualeguaychú. Os ecologistas querem a suspensão construção das duas fábricas de papel que estão sendo erguidas na fronteira uruguaia. Integrantes da Assembléia Cidadã Ambiental de Gualeguaychú entregaram ao presidente um documento assinado por 35 mil pessoas que se opõem à instalação das plantas de celulose em Fray Bentos. Para o chefe de Gabinete, Alberto Fernández, o governador de Entre Ríos, Jorge Busti e o intendente de Gualeguaychú, José Irigoyen, o ministro das Relações Exteriores, Rafael Bielsa, a construção das papeleiras é uma questão nacional. “A obrigação da Chancelaria é preservar a relação com todos os países, mas conservando o espaço físico, explicou. Por este motivo, disse que o governo reiterou seu pedido para o Uruguai a fim de que se descontinue a instalação das plantas de celulose em Fray Bentos. Ao menos, assinalou o funcionário, até que se conheçam os resultados dos estudos ambientais elaborados pela comissão binacional”, disse Rafael Bielsa.
Setembro de 2005
A ombudsman Meg Taylor, da Corporação Financeira Internacional (IFC) do Banco Mundial – responsável por parte das verbas destinada à construção das fábricas – recebe do governador de Entre Rios Jorge Busti (PJ) e do vice-governador Guillermo Guastavino, solicitação para que seja auditado o processo de outorga dos créditos solicitados para o empreendimento.
Novembro de 2005
A guerra das papeleiras entra em um novo capítulo. O processo de outorga dos créditos de US$ 200 milhões por ano, solicitados pelas empresas de celulose à Corporação Financeira Internacional (IFC) do Banco Mundial para a construção das plantas em Fray Bentos congela e permanecerá desta forma até que se completem os estudos de impacto ambiental. A entidade adianta que comissionará uma organização independente e imparcial com um processo de consulta das partes interessadas para oferecer aos cidadãos e a outras instâncias, em ambos os lados do Rio Uruguai, a oportunidade de revisar o estudo e proporcionar seus comentários. Estes comentários serão incorporados às conclusões do estudo de impacto, o que ajudará a determinar se a IFC outorgará financiamento às plantas.
Dezembro de 2005
O Banco Mundial opta por respaldar instalação de papeleiras no Uruguai. Com base em um estudo preliminar, a entidade sustenta que o projeto cumpre os requisitos técnicos e que não vai piorar a qualidade da água nem do ar. “De uma perspectiva técnica, em termos de emissões das plantas, dizemos claramente em nosso estudo que as análises que fazemos demonstram que as fábricas cumprem nossos requisitos de melhores práticas”, afirma Bill Bulmer, diretor adjunto do Departamento Socioambiental ligado à corporação mundial. Deve-se, contudo, levar em conta que se trata de um informe preliminar, pois o BM vai iniciar uma rodada de consultas durante dois meses, entre vizinhos da região e especialistas em meio ambiente, a fim de emitir um parecer definitivo.
Janeiro de 2006
Bloqueio de acessos de fronteira por tempo indeterminado marca a intensificação dos protestos contra construção de fábricas de papel no Uruguai. A rota entre Fray Bentos no Uruguai, e Gualeguaychú na Argentina, foi interrompida pelos ambientalistas argentinos. Oscar Bargas, integrante de um dos grupos ambientalistas locais declarou que esse foi apenas o primeiro. "Vamos seguir com esta modalidade. Vamos cortar o trânsito sem prévio aviso ou comunicando o protesto apenas algumas horas antes". O Deputado provincial argentino Juan José Bahillo apoiou o protesto, pois "as outras formas de diálogo com o governo uruguaio não deram resultado". "Aos cidadãos de Gualeguaychú não restou outra saída para que suas preocupações sejam ouvidas", avalia ele.
O Uruguai decide, após reunião com o embaixador argentino Hernán Patiño Mayer, avançar construção de fábricas de celulose. De acordo com governo, “as obras das papeleiras não serão interrompidas porque elas não contaminam o meio ambiente”.
Fevereiro de 2006
A justiça internacional parece ser a nova estratégia para solucionar o conflito das papeleiras. Com o anúncio do governo argentino de levar o conflito sobre as plantas de celulose à corte de Haya, inicia aqui uma nova fase do conflito entre os dois países. A das escaramuças políticas. Em Montevidéu a oposição pediu a Vázquez que se reúna com Kirchner. Do lado argentino o diretor de assuntos ambientais da chancelaria do país considerou que uma cúpula entre os presidentes seria factível e que as portas de uma solução consensual estão abertas. Por outro lado, testemunhos do encontro entre Vázquez e seus opositores dentro do Uruguai para definir a posição consensual do país, indicam qual a estratégia adotada pelos uruguaios. "Agora temos que ganhar a batalha da opinião pública", teria dito o presidente. A idéia, segundo analistas, é apresentar os argentinos como responsáveis pelo fracasso diplomático. O Uruguai planeja se apresentar totalmente disposto ao diálogo, desde que não implique em renunciar ao seu credo fundamental: as fábricas serão feitas no lugar onde foram inicialmente planejadas e sem troca de tecnologia.
Kirchner apóia protestos e paralisações das vias de acesso argentino com o país vizinho.
Fábricas estrangeiras rompem o silencio e garantem contar com tecnologia moderna que não provocam danos ao ambiente. “Construímos um projeto com muito esforço, de acordo com a melhor tecnologia, e com isso podemos oferecer garantias aos argentinos e aos uruguaios” assegura o engenheiro Bruno Vaun, chefe da área elétrica da finlandesa Botnia. A espanhola Ence, por outro lado, assegura que “estão estabelecidas todas as condições necessárias para que sua fábrica opere respeitando o meio ambiente”. Frisa também que a tecnologia e a maquinaria utilizada nas fábricas cumpre com todas as normas aprovadas pela União Européia.
Os ambientalistas argentinos seguem os protestos contra as papeleiras bloqueando 2 das 3 pontes que ligam Argentina e Uruguai: em Gualeguaychú y Colón.
Deputados argentinos apóiam governo no processo contra papeleiras no tribunal de Haia.
Março de 2006
Kirchner propõe ao Uruguai suspender por 90 dias a construção das papeleiras, com a intenção de realizar um estudo de impacto ambiental independente. Do outro lado, Vázquez e seu governo rechaçam o pedido.
Bloqueio das pontes que ligam o país à Argentina começa a causar prejuízos para os empresários de transporte de carga uruguaios, passando dos 5 milhões de dólares. Eles sustentam que se a paralisação durar outras duas semanas (já estava na terceira), 30% dos caminhoneiros uruguaios terão de recorrer ao seguro-desemprego para sobreviver. Os piquetes também causaram a queda de 70% do transporte internacional por via terrestre de passageiros do Uruguai.
Justiça uruguaia solicita provas de ambos os países de que as papeleiras contaminam o meio ambiente.
Diante do contínuo bloqueio de estradas pelos argentinos, Kirchner e Tabaré acertam, no Chile, trégua por papeleiras. A fórmula acordada responde pelos pontos propostos anteriormente por Kirchner: pausa de 90 dias na construção das plantas de celulose. Conseqüentemente, pedir aos ativistas da província argentina de Entre Rios que suspendam por esse mesmo tempo o bloqueio das estradas.
Botnia anuncia que irá suspender obras por 90 dias. Ence, por outro lado, não se manifesta.
Pela segunda vez é suspensa a reunião entre Vázquez e Kirchner com a intenção de apaziguar a briga envolvendo a construção das empresas de celulose.
Abril de 2006
O Brasil entra em jogo e intervém, mais para o lado uruguaio, na "guerra das papeleiras", antecipando desde já os respingos da crise em seu próprio território. Há planos de investimentos de mais de US$ 3 bilhões em novas usinas de celulose no Sul e Sudeste do país até o fim da década. O recrudescimento da crise diplomática entre Uruguai e Argentina nos últimos dias fez Brasília procurar os sócios do Mercosul para tratar do tema e tentar destravar a crise. Embora a diplomacia brasileira repita que se trata de um problema bilateral, e não do Mercosul, o chanceler Celso Amorim conversou com os envolvidos na questão. Telefonou duas vezes para o colega uruguaio, Reinaldo Gargano. Falou do assunto com o chanceler argentino, Jorge Taiana. Também ouviu Leila Rachid, chanceler do Paraguai, o outro sócio do bloco que assiste à disputa.
A Igreja é convocada a mediar conflito das papeleiras.
Governo de Entre Rios, província argentina, sugere realizar plebiscito em Gualeguaychú e Colón para resolver questão das papeleiras.
Mas, o Uruguai se antecipa à Argentina e apresenta nota com todos os antecedentes sobre o conflito envolvendo as papeleiras no tribunal de Haia. No texto, o governo uruguaio explica as razões do conflito, os prejuízos provocados no país pelos constantes bloqueios de estradas pelos argentinos, bem como a atitude do governo argentino ante os bloqueios realizados nas pontes internacionais.
Botnia volta atrás e anuncia que só parará as obras por dez dias. A decisão causou reação em Gualeguaychú, que voltou a fazer os bloqueios por tempo indeterminado. Em pleno feriado da Semana Santa (13, 14, 15, 16 de abril), apenas uma passagem terrestre entre os vizinhos ficou liberada.
O Banco Mundial divulga novo informe no qual descarta dano catastrófico das papeleiras no Uruguai, mas admite falhas graves no EIA/Rima (Estudo de Impacto Ambiental). Dentre as falhas, afirma que deveria haver “uma lista completa das emissões atmosféricas e descargas de efluentes de todas as substancias mencionadas que dizem respeito às plantas de celulose”. Menciona também “escassez de dados com relação à qualidade da água e dos recursos biológicos do Rio Uruguai”.
Com informações do Clarín, La Republica, OESP, JC, FSP e Eco Portal.