Fábricas de celulose no Sul seguem a "Lógica do capital", diz jornalista alemão
guerra das papeleiras
2006-04-28
Há muito o que esclarecer sobre a febre de investimentos da indústria da celulose na América do Sul. A questão ambiental é apenas um dos aspectos. O jornalista alemão, Gerhard Dilger, que vem acompanhando o caso para o jornal Die Tageszeitung (www.taz.de) acredita que a falta de informações consensuais dificulta a análise. "A Ence e a Botnia realizaram estudos de impacto ambiental, mas não têm fornecido informações adequadas. Por fora, os ambientalistas apresentam relatórios com resultado diferente. É muito difícil se posicionar sobre essa questão", admite. O alemão também tem dúvida se os custos ambientais seriam os mesmos na América do Sul e em um país como a Alemanha, por exemplo, em função da diferença dos ecossistemas. "As condições são diferentes, ainda não se tem estudos suficientes para fazer essa análise."
O repórter atribui a razão dos investimentos à lógica do capital, com lógica ambiental sendo conseqüência disso. "As empresas querem o melhor do ponto de vista do negócio, não querem simplesmente poluir, como se tem idéia às vezes", destaca. A briga dos ambientalistas, porém, se fundamenta no fato de que são as fábricas de pasta de celulose que vêm para o Sul – a parte mais poluente e cara do processo, feita a partir da mistura de pedaços de madeira com soda cáustica e grandes quantidades de água a altas temperaturas (energia).
As próprias empresas admitem que a produção em países como o Brasil é até 70% mais barata que em países desenvolvidos. Sem falar que aqui as árvores usadas como matéria prima crescem até o ponto de corte na metade do tempo que em países como a Finlândia ou o Canadá. Soma-se a isso os incentivos recebidos para os investimentos. As fábricas de Fray Bentos, por exemplo, estão em uma zona franca, isenta de impostos e alíquotas de importação, mais a garantia de financiamento por organismos internacionais. Só o Banco Mundial acenou com um crédito de US$ 400 milhões.
A pergunta que fica é: por que só agora eles decidiram investir pesado na América do Sul? A perspectiva histórica em nível internacional dá uma pista para entender uma questão disputada argumento por argumento. A espanhola Ence foi condenada em 2002 por "delito ecológico continuado" em seu próprio país. Especificamente pela instalação de uma fábrica de celulose na cidade de Pontevedra em 1960. A planta foi julgada culpada por provocar chuva ácida, danos diversos a recursos hídricos, alteração da composição do solo e doenças pulmonares na população do seu entorno.
Por Mariano Senna da Costa, Patrícia Benvenutti e Tatiana Feldens com informações do Clarín, La Republica, e Die Tageszeitung.