Projeto prevê monitoramento das águas subterrâneas do Rio das Velhas (MG)
2006-04-28
A porção metropolitana da Bacia do Rio das Velhas, na área de Belo
Horizonte e Contagem, terá, em breve, monitoramento de suas águas
subterrâneas feito pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Os
recursos necessários ao desenvolvimento do projeto, cerca de R$ 300 mil,
serão liberados pelo Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento
Sustentável das Bacias Hidrográficas de Minas Gerais (Fhidro).
A exemplo do projeto piloto desenvolvido pelo Igam no Norte de Minas,
onde 39 pontos de monitoramento constataram pequenas áreas contaminadas,
o estudo no Rio das Velhas vai mostrar se o lençol freático da região
apresenta contaminação ou não. “As águas subterrâneas podem ser
contaminadas por água da chuva, por sedimentos do solo, sujeira carreada,
metais pesados e lançamento de esgoto sanitário nos cursos d´água. As
águas subterrâneas são as que apresentam maior possibilidade de uso para
consumo humano. Em Minas Gerais, milhares de pessoas usam águas
subterrâneas para abastecimento, por cisternas e poços artesianos e tubulares”,
explica o diretor-geral do Igam, Paulo Teodoro de Carvalho.
Não existe em Minas um cadastro de quantas pessoas usam as águas
subterrâneas. “Muita gente vê a água, límpida, e acha que está pura, mas
muitas vezes mesmo a água do lençol freático está contaminada. Por isso,
antes de ser consumida, precisa ser analisada”, complementa Carvalho.
O Igam deu início no ano passado a uma grande verificação das outorgas
no estado – licença para captação de água –, para checar quem tem
licença, se está vencida, e quem anda captando água sem autorização.
“De um universo de cerca de 15 mil outorgas concedidas, calculamos que
metade esteja vencida. Temos 1 milhão de usuários captadores de água
em Minas, sendo que desses 200 mil precisam de autorização para captar.
Temos um mundo de trabalho pela frente”, reconhece o diretor do Igam.
Dependem de outorga de água pessoas que captam acima de 1 litro/segundo
e, no semi-árido mineiro, quem capta meio litro por segundo.
O monitoramento das águas subterrâneas, ou lençol freático, foi
discutido esta semana em Belo Horizonte durante o 1º Simpósio Latino-Americano
de Monitoramento de Águas Subterrâneas, promovido pela Associação
Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas), que terminou ontem. Segundo o
presidente da entidade em Minas, o engenheiro e hidrogeólogo Antônio
Tarcísio de Las Casas, em torno de 50% do abastecimento público da população
vem de águas subterrâneas. “Não existe normatização sobre esse
monitoramento no Brasil e é sobre isso que estamos debatendo. As águas
profundas podem estar desde 10 metros de profundidade do solo, até mais de
1,5 mil metro. É impossível falar em gestão de recursos hídricos sem
conhecermos as águas que temos debaixo da terra. É ela que vai garantir o
abastecimento no futuro”, diz.
Legislação - Durante os quatro dias do evento, vários especialistas
debateram o tema e também formas de sensibilizar legisladores para que
leis específicas sejam criadas e aplicadas para garantir o controle dos
volumes extraídos nos pontos de captação, bem como de seus padrões de
qualidade. “Essa prática já é usada em países da Europa, no Canadá e
Israel. O Brasil não tem regulamentação sobre este procedimento”, explica
Las Casas.
Ele enfatiza que o monitoramento de águas subterrâneas é uma das formas
de se evitar um problema sério de escassez e contaminação, com mais
facilidade e custos reduzidos. “A nossa expectativa é de que antes que o
problema se agrave ainda mais, os responsáveis pelo uso e manejo dos
recursos hídricos, especialmente os subterrâneos, se conscientizem de que
sem monitoramento adeqüado da captação e qualidade das águas
subterrâneas, estaremos excluindo o direito das futuras gerações de usufruírem
deste bem natural.”
Vazamento - A usina de asfalto pertence ao consórcio Sagendra/Asteca,
contratada pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER/MG) para o
recapeamento da MG-428, não possui licenciamento ambiental, confirmou ontem
a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). A empresa, sendo culpada
pelo vazamento de 18 mil litros de piche que atingiram o Córrego do
Peão, no último sábado, em Araxá, no Alto Paranaíba, pode receber uma
multa que varia de R$ 1 mil a R$ 50 milhões. Hoje, o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deve
definir o valor e aplicar o auto de infração.
(Estado de Minas,
27/04/06)