Efeito estufa é responsabilidade de todos, diz ex-presidente da AEB
2006-04-28
O Projeto Quintas Ambientais trouxe ontem (27) à sede do Ibama, o
engenheiro Luiz Gylvan Meira Filho, professor do Instituto de Estudos
Avançados da USP. Em sua palestra, o professor defendeu que, por menor
que seja a emissão de poluentes de um determinado país, ele não pode se
eximir da responsabilidade de mitigar os efeitos do aquecimento global.
Meira Filho é uma autoridade do assunto. Ex-presidente da Agência
Espacial Brasileira, foi um dos negociadores do Protocolo de Kyoto. É dele a
idéia de repartir as responsabilidades no aquecimento global pela
quantidade de gases que cada país emite.
O evento foi aberto pelo presidente do Ibama, Marcus Barros, que
elogiou a formação sólida de Meira Filho. Para Barros o professor é um
“orgulho da academia brasileira”.
Didática, a palestra abordou o problema do efeito estufa pela ótica da
física, mas não deixou de fora os aspectos éticos e econômicos. Segundo
ele o Brasil, que tem 3% da população mundial, é responsável por 3,5%
das emissões de poluentes (Os Estados Unidos emitem 40%), “mas isso não
exime o Brasil das responsabilidades quanto à mitigação das
conseqüências” afirma.
CO2 - Na exposição, Meira Filho apresentou os principais gases que,
pela atividade humana, têm se acumulado na atmosfera, provocando o
aquecimento do planeta. O mais problemático deles, segundo o professor, é o
CO2, que, ao ser liberado no ar, acumula-se na atmosfera e tem pouca
capacidade de dissipação. Com isso, vai sendo formada uma camada densa
desse gás em redor da Terra, formando uma estufa em seu interior.
Contestada por alguns, desde de que foi publicada, em 1977, essa teoria
tem, no entanto, ganhado força nos últimos anos. Segundo o professor
“já há comprovação científica de que está havendo acumulação de CO2 na
atmosfera”.
Dados coletados pelo observatório de Mauna Loa, no Havaí, ligado à
Universidade da Califórnia, mostram que, em 1960, havia na atmosfera uma
concentração de Dióxido de Carbono na ordem de 320 partes por milhão. Em
2005 - 45 anos depois - a concentração subiu para 380 partes.
Essa concentração, segundo o professor, é causada diretamente pela ação
do homem, tanto na queima de combustível fóssil, como em incêndios
florestais - entre outras atividades.
O professor explicou ainda que esse aquecimento concentra-se menos na
terra do que nos oceanos, uma vez que o aquecimento na primeira é
superficial, enquanto no segundo a perda de calor acontece em menor escala.
“Isso sugere que os recentes furacões que observamos em Santa Catarina e
no Caribe podem estar, sim, ligados ao aquecimento global”.
Curiosidade – Entre os pontos que chamaram a atenção na palestra de
Meira Filho, uma curiosidade pode gerar bastante discussão nos estudos
sobre a relação da Floresta Amazônica com as mudanças climáticas.
Segundo o professor – por dedução lógica – se houver maior oferta na
atmosfera de CO2 (gás utilizado pelas árvores para seu crescimento),
maior será o desenvolvimento delas. E, realmente, estudos laboratoriais têm
comprovado essa tese: plantas confinadas a ambientes enriquecidos com
CO2, apresentam um desenvolvimento maior que o normal.
Então, se aumentarmos a queima de combustível fóssil, teremos uma
floresta amazônica maior, mais densa?
Disso Meira Filho não está bem certo. “Talvez um crescimento mais
rápido das árvores, quem sabe...” Uma coisa é um experimento fechado em
laboratório; outra é a realidade a céu aberto, onde inúmeras variáveis
atuam no sistema.
O fato, segundo ele, é que o planeta está aquecendo e ainda ninguém
encontrou a solução. A discussão está sendo travada num campo econômico, e
muitas vezes, a parte ética fica de fora. Para Meira Filho,
economicamente, é difícil de calcular o preço de um beneficio que virá em 40 anos,
mas, se levarmos para o campo ético, veremos a importância de se
distribuir responsabilidades.
Meira Filho foi um dos especialistas que, nas discussões do protocolo
de Kyoto, apresentaram a idéia segundo a qual os esforços de cada país
teriam que ser medidos pela quantidade de poluentes emitidos. A idéia
pegou. Hoje, nos fóruns de discussão, esse tema está sempre presente.
“Isso, como bem diz a ministra Marina Silva não significa que compartilhar
responsabilidade é não ter responsabilidade alguma”, finaliza.
Quintas Ambientais – O Programa “Quintas Ambientais” é um projeto da
Assessoria de Comunicação do Ibama/Sede, realizado quinzenalmente, no
auditório do Instituto, em Brasília, e é aberto à comunidade. O próximo
painel está marcado para o dia 25 de maio. Maiores informações pelos
telefones: (61) 3316.1015 ou 9994.9025 ou no email:
ascom.sede@ibama.gov.br.
(Ibama, 27/04/06)