Fiscalização dos agrotóxicos não acompanha expansão agrícola
2006-04-28
O Brasil consumiu em 2005 cerca de R$ 10 bilhões em agrotóxicos,
segundo o Sindicato Nacional das Industrias de Defesa Agrícola. Com o ritmo
de crescimento da agricultura brasileira, o desafio é saber como os
órgãos públicos acompanham a fiscalização da utilização de veneno em larga
escala.
Segundo o professor César Koppe Grisólia, do Departamento de Genética e
Morfologia da Universidade de Brasília (UnB), existe um descompasso
nessa relação. "Os órgãos de fiscalização não têm uma estrutura que
acompanhe a expansão das fronteiras agrícolas. Tem ocorrido uma fiscalização,
mas muito aquém do problema do uso do agrotóxico no Brasil."
Autor do livro Agrotóxicos: mutações, câncer e reprodução, Koppe
explica que são três os órgãos públicos responsáveis pela fiscalização
nacional dos agrotóxicos. Compete ao Ministério da Agricultura a fiscalização
do uso agrícola adequado dos agrotóxicos. Ao Ministério da Saúde e à
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cabem a questão de
saúde ocupacional do trabalhador e da exposição humana ao veneno. O
Ministério do Meio Ambiente e seu órgão executivo, o Ibama, são responsáveis
pela questão dos impactos ambientais e efeitos sobre os meio ambiente.
Segundo o pesquisador, a maioria dos agrotóxicos faz algum mal para a
saúde: pode ser neurológico, reprodutivo, ou até causar câncer. "Nem
todos causam câncer, mas aumentam o risco de causar câncer", disse. A
contaminação crônica por agrotóxico por inalação pode levar em longo prazo
a problemas pulmonares como a fibrose pulmonar. A intoxicação crônica
por inseticidas tipo organofosforados pode levar mais tarde a pessoa a
desenvolver uma espécie de mal de Parkinson, com tremedeiras, com
efeitos neurológicos. "Dependendo do tipo de agrotóxico, você vai ter um tipo
de lesão no organismo, característico da molécula de agrotóxico",
explicou.
Existem estudos mostrando que determinadas formulações de agrotóxico
causam alterações até no material genético. "Nós trabalhamos aqui na
Universidade de Brasília com pesquisas sobre os efeitos dos agrotóxicos
sobre os peixes. Nos peixes, os agrotóxicos alteram as células sanguíneas,
modificam o formato dos glóbulos vermelhos, alteram o comportamento
natatório e provocam mortalidade", acrescentou.
Ele alertou que "se os peixes estiverem contaminados com inseticidas
organoclorados que se acumulam nos organismos aquáticos, essa
contaminação pode ser transmitida ao homem que consome o peixe contaminado".
Para ele, a pulverização de agrotóxicos causa muitas perdas para o meio
ambiente: "Através da nuvem de agrotóxico que se espalha além do campo
da agricultura, as pessoas se contaminam por meio da ingestão de água,
pela pele e através da respiração de partículas de agrotóxicos no ar. O
excesso de agrotóxicos nos alimentos deixa resíduos na casca ou em
produtos que são consumidos in natura como as folhas verdes. A pele é muito
permeável aos agrotóxicos que entram e atingem a corrente sanguínea
causando dores de cabeça, tremores, intoxicação intestinal e no
fígado".
(Agência Brasil, 27/04/06)