MST ameaça resistir à desocupação de fazenda da Suzano no Bahia
2006-04-27
Após três horas de reunião com representantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) sem chegar a acordo, o governo da Bahia autorizou ontem a Polícia Militar a cumprir a decisão da Justiça e reintegrar à Suzano Papel e Celulose uma fazenda de 975 hectares invadida há dez dias, em Teixeira de Freitas (820 km de Salvador), por cerca de 3.500 sem-terra.
A ação da PM está prevista para hoje e os sem-terra anunciaram que estão dispostos a resistir. De acordo com o governo, a reunião realizada ontem em Salvador serviu apenas para dar ciência ao MST da ação policial --até a última hora, dirigentes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) tentaram negociar com o governo federal a possibilidade de atender às reivindicações dos agricultores, mas não tiveram êxito.
Além da liberação de créditos agrícolas, os sem-terra querem 10 mil hectares de terra (cada há tem 10 mil metros quadrados) para deixar a área, mas não abrem mão de ficar com a fazenda da Suzano. "A Suzano quer as terras, e nós também. Então, não vamos sair e resistiremos à ação da PM", disse o deputado estadual Walmir Assunção (PT), representante dos sem-terra na Assembléia Legislativa da Bahia. O comandante-geral da PM da Bahia, coronel Antonio Jorge Santana, alegou "questões estratégicas" para não dizer o número de policiais que foram mobilizados para executar a decisão judicial.
Na última quarta-feira, o juiz Roney Jorge Cunha Moreira, de Teixeira de Freitas, determinou a reintegração de posse à Suzano, uma das maiores empresas de celulose do Brasil. Durante os dez dias de invasão à fazenda da Suzano, os sem-terra destruíram pelo menos 200 mil pés de eucalipto e ergueram 800 barracas.
Em nota, a Suzano, que não enviou nenhum representante para a reunião, informou que "ao longo destes últimos dias, a empresa vem tratando esta questão com as autoridades baianas, com o objetivo de exercer seu direito legal e legítimo sobre aquelas terras, respeitando os invasores e seus familiares, para que não haja qualquer situação de descontrole".
Segundo a nota, a "empresa deu início no final do ano passado a um ambicioso programa de expansão de sua produção de celulose, o que deve gerar muitos empregos diretos e indiretos, seja durante a construção (já em curso), seja com a nova linha em operação, e que para que este aumento de produção ocorra, é fundamental que haja florestas de eucaliptos suficientes para o abastecimento, o que implica que a empresa não possui um hectare sequer de terra improdutiva". (Agência Folha, 26/4)