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2006-04-27
“O consumo brasileiro de papel não está crescendo a tal ponto que justifique uma nova fábrica de celulose no país”, admitiu nesta quarta-feira (26/04) o vice-presidente da Stora Enso para a América Latina, Otávio Pontes. De acordo com o representante da gigante sueco-finlandesa, que palestrou sobre “Florestamento – a nova fronteira de desenvolvimento da Metade Sul”, esta nova unidade a ser implantada no Rio Grande do Sul “seria uma fábrica mais para exportação do que para o mercado interno”. A palestra foi realizada na Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul), em Porto Alegre, durante o evento semanal “Tá na Mesa”.

Na avaliação de Pontes, não há motivos para alarde no que se refere ao possível passivo provocado pela monocultura de árvores. “Há alguns itens que são muito atacados por algumas Ongs ambientalistas em relação ao eucalipto. O consumo de água, a questão de nutrientes e da biodiversidade são alguns exemplos”. Conforme o vice-presidente da multinacional, a quantidade de água utilizada pelo eucalipto não é diferente de nenhuma outra espécie vegetal. “Até usa menos do que muitas das culturas que estamos acostumados, como a soja, o milho e a cana de açúcar”, assegura.

Embora admita que este tipo de árvore, para se desenvolver, necessita de uma boa quantidade de água, afirma que os problemas ambientais causados em decorrência do alto consumo deste líquido dependem muito da região onde estão inseridas essas plantações, ou seja, se há ou não recursos hídricos disponíveis. “Em regiões que tem água, como a que temos aqui no Rio Grande, nós não vemos nenhum problema. Lá na Bahia nós temos plantações grandes de eucaliptos que não causaram prejuízo algum. Até gostaria que o eucalipto consumisse mais água, porque o barro que tem lá nas estradas... ajudaria a gente a andar”, ironiza.

Quanto à degradação da terra, afirma que as tecnologias de plantação, principalmente de eucalipto, evoluíram muito de uns anos para cá. “Hoje, quando se colhe o eucalipto, deixam-se todas as folhas, os galhos e a casca no campo. Antigamente queimávamos para obter biomassa. Percebe-se que com essa medida a necessidade de repor os nutrientes caiu muito”. Além disso, acrescenta que esse método de deixar a casca no próprio local de corte aumenta a proteção da terra contra os danos causados pela exposição ao sol. “Se você deixa essa casca protegendo o solo, melhora de forma considerável as condições para plantações futuras”.

Não há poluição, afirma vice-presidente
Segundo Pontes, essas críticas de Organizações Não Governamentais estão muito relacionadas ao passado, quando havia realmente alguns problemas envolvendo fábricas de celulose. “A fábrica em si não é mais um problema de poluição. Você não sente cheiro, o rio está tranqüilo, os peixes estão direitinho”. Sobre impacto em longo prazo, diz não conhecer antecedentes. “Na Bahia, onde temos a Veracel – fábrica em parceria com a Aracruz – dispomos de controle mensal. A licença ambiental do Estado faz a gente monitorar 65 itens todo mês. A água, a fauna, a flora... não temos reclamações”.

O vice-presidente da Stora Enso afirma ainda que “hoje essas técnicas conhecidas como distúrbio mínimo do solo, onde se procura perturbar o menos possível a natureza, já são implantadas na Bahia e serão usadas aqui também. Temos fotos de satélite da Bahia provando que onde há plantação de eucalipto há regeneração de Mata Atlântica. Onde não há, conseqüentemente não há regeneração. Ou seja, a gente cumpre as leis ambientais, conseguindo trazer a vegetação nativa de volta”.

Quanto à dioxina – um composto clorado que se acumula na gordura e pode provocar câncer –, Pontes afirma que até 20 anos atrás o processo de branqueamento da celulose produzia grande quantidade desta substância. “Hoje, temos o método de branqueamento a partir de dióxido de cloro. Produzimos dioxina, mas em quantidades tão reduzidas que não conseguimos nem detectar. Há outro processo também que é chamado de TCF, o processo com ozônio, onde produzimos menos ainda”, declara, ressaltando que já há “dioxina na madeira, é um produto natural, é questão apenas de quantidade. Embora haja produção de dioxina, não conseguimos nem saber quanto, de tão pouco que é”.

Brasil e Uruguai
A Stora Enso está com um projeto para implantar duas novas fábricas de celulose na América Latina: uma no Brasil, que seria a base de eucaliptos, outra no Uruguai, a partir da plantação de pinus. A empresa – que na América Latina conta apenas com a Veracel, instalada na Bahia – dispõe atualmente de 40 mil hectares de terras na região de Alegrete, Rosário, Manuel Viana, cidades localizadas na Metade Sul do Estado. A meta é adquirir ao total 140 mil hectares. “Nós identificamos a região como área boa, tem solo de boa qualidade, são terras, em geral, que estão sendo usadas na pastagem. Estamos comprando fazendas já existentes, onde existe produção de gado”, afirma Pontes.

A plantação de eucaliptos ainda não foi iniciada por não haver licença da Fepam. “Estamos negociando para ver se conseguimos plantar ainda em 2006 cerca de 5 mil hectares”, afirma Pontes. “Precisamos fazer experiência para ver se o tipo de eucalipto que a gente selecionou se adapta ao solo. Depois sim será possível começar a produzir maciçamente”.

No Uruguai, a extensão de terra adquirida é um pouco menor, cerca de 25 mil hectares. Lá já existem florestas plantadas, mas com outros fins, principalmente para o mercado de móveis, conta Pontes, citando como exemplo o norte do país, onde há grandes plantações de uma empresa norte-americana. “Se a gente conseguir economicamente adquirir essas plantações, podemos até começar a implantar a fábrica no Uruguai antes do que aqui no Brasil”. Ele lembra que há 10 anos ocorreram no país vizinho um movimento com grandes incentivos fiscais para a produção destas monoculturas, o que aumentou a quantidade de proprietários de terras plantando eucaliptos e pinus.

A multinacional admite já ter iniciado na região o plantio de pinus – espécie com ciclo maior e que dispõe de mais recursos para ser processada. Enquanto o eucalipto precisa entre 7 a 8 anos para se desenvolver, o pinus necessita de 12. O lugar escolhido para a unidade “corresponde às imediações do Rio Negro, devido à parte de logística e de proximidade com a água. Aqui no RS estamos estudando. Não é muito fácil, porque não há rios de grande porte como no Uruguai. Mas estamos com técnicos investigando seis lugares do Estado”, conta o vice-presidente.

Demanda mundial
Segundo cálculos de Otávio Pontes, a demanda mundial de celulose está na faixa de 180 milhões de toneladas por ano. A celulose obtida através do eucalipto corresponde a aproximadamente 27 milhões de toneladas deste total. “Os maiores consumidores de celulose do mundo são os Estados Unidos e o Canadá (absorvem quase 1/3 da produção), depois está a Europa. A produção lá é muito mais cara do que aqui. Há estimativas de que na América do Norte o custo esteja cerca de 50, 70 % acima do valor conseguido aqui. Por isso que estas fábricas estão se desenvolvendo de forma mais acentuada na América do Sul”.

No que se refere aos investimentos, de acordo com o representante da Stora Enso, “faz-se necessário pelo menos 1,2 bilhões de dólares para produzir 1 milhão de toneladas de celulose. O mesmo valor resultaria na quantia de 700 mil toneladas de Pinus. Ou seja, a produção de pinus é um pouco mais cara que a do eucalipto”.

A Stora Enso conta atualmente com 25 fábricas de celulose. “A base de eucaliptos há duas: uma na Bahia, com produção aproximada de 900 mil toneladas de celulose por ano, destinadas para o abastecimento de duas fábricas de papel da Empresa localizadas na Finlândia e na China – e outra em Portugal. Essas 25 fábricas juntas têm produção de cerca de oito milhões de toneladas de celulose”, afirma.

Consumo crescente
Do ponto de vista técnico, a celulose de eucalipto é aquela que chamamos de celulose de fibra curta: utilizada para papel de escrever e papel sanitário. Conforme o vice-presidente da Stora Enso, o consumo desse produto no mundo cresce de 800 mil a 1 milhão de toneladas por ano. Há também a celulose de pinus, conhecida como celulose de fibra longa, voltada para a produção de papéis de embalagens industriais e tem um acréscimo de 600 mil a 700 mil toneladas por ano. O preço varia de US$ 680 a US$ 700 a tonelada.
Por Tatiana Feldens

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