Invasões colocam eucalipto em xeque
2006-04-27
A produção de eucalipto voltou ao centro das discussões, com as invasões de grupos ligados ao Movimento dos Sem-Terra (MST) a empresas do setor de celulose e papel. O plantio em grandes extensões tem sido criticado por ser agressivo ao meio ambiente nas regiões onde predomina a monocultura.
Os produtores de eucalipto são acusados de causar esgotamento das águas nas áreas de plantação e também de prejudicar a biodiversidade no local - tanto que um movimento de mais de cem organizações não governamentais (ONGs) cunhou a expressão "deserto verde" para denominar as áreas de cultura do eucalipto. Especialistas afirmam, porém, que o eucalipto em si não traz impactos ambientais, e sim o modo como é plantado.
"O problema não é o eucalipto, e sim a monocultura em grande escala associada ao monopólio. É quando uma empresa planta 200 mil hectares em uma só área e não gera empregos, não movimenta a economia local", explica Ventura Barbeiro, engenheiro agrônomo do Greenpeace. Segundo ele, o problema é recorrente tanto nas culturas de eucalipto quanto de soja, cana ou café. "É esse modelo agrícola que traz impactos."
Ao mesmo tempo, a cultura do eucalipto tem características próprias que são exacerbadas quando o modelo adotado é o do plantio em grandes áreas. Uma delas é a perda da biodiversidade - por ser uma árvore estéril (não gera frutos), não atrai animais para as áreas em que é cultivado. O plantio próximo a cursos d´água pode levar ao esgotamento dos recursos hídricos, pois a planta consome muita água nos primeiros dois anos do seu ciclo de crescimento.
ESFORÇO
Diante dessas discussões, no entanto, as empresas do setor de celulose e papel têm investido para reduzir os impactos ambientais e sociais da cultura, em um esforço para lapidar a imagem do setor, hoje um dos mais competitivos fora do País. As empresas investem em tecnologias para aumentar a produtividade das plantações, em sistemas de plantio integrados a matas nativas e também em programas de fomento florestal, com o objetivo de inserir o pequeno produtor rural na cadeia de negócios - a empresa fornece mudas e insumos, e o produtor vende a madeira de volta para a empresa.
Para Luiz Cornacchioni, gerente de Recursos Naturais da Suzano Papel e Celulose - que amargou recentemente uma invasão de ativistas do MST -, a expansão do agronegócio de florestas plantadas é o que tem trazido à tona as discussões sobre os impactos da cultura do eucalipto. "O fato é que o eucalipto é um ícone do agronegócio que vem crescendo, e esse crescimento chama a atenção", diz. "O que temos feito é minimizar os impactos dessa monocultura, com investimentos de US$ 1,5 milhão anuais em pesquisas e conservação ambiental."
Segundo ele, as empresas têm planejado os plantios, ao intercalar o eucalipto com matas nativas, modelo conhecido como plantio em mosaico. "Hoje 40% da área de uma propriedade destinada ao plantio de eucalipto é ocupada com áreas de preservação."
A Klabin, maior exportadora de papel do País, também adota o sistema de plantio em mosaico - intercalando eucalipto, pinus e mata nativa - nas suas áreas de cultivo. "Temos feito um esforço no sentido de aprimorar as técnicas de plantio e ao mesmo tempo mudar práticas", afirma José Totti, gerente de Planejamento e Pesquisa Florestal da Klabin.
A Aracruz Celulose, que no mês passado sofreu o ataque das integrantes da Via Campesina, grupo ligado ao MST, diz que são exageradas as críticas às plantações de eucalipto.
"O que existe é um exagero muito grande. Hoje o plantio de florestas corresponde a 3,2% da área disponível para agricultura no País", afirma Carlos Alberto Roxo, diretor de Meio Ambiente da Aracruz.
Para o consultor ambiental Cláudio Guerra, as empresas avançaram no manejo do eucalipto nas áreas que hoje são conhecidas. No entanto, o avanço da cultura em novas frentes é um fator que preocupa, por repetir um modelo de plantio - em grande escala e sem cuidados ambientais - que as empresas mais preocupadas com a responsabilidade social estão banindo. Segundo ele, a expressão "deserto verde" foi um exagero criado para chamar a atenção para o tema. "Foi uma grande sacada de marketing das ONGs."
(O Estado de S. Paulo, 26/04/06)