Indústria nuclear contrata lobistas e ambientalistas para defender novos reatores
2006-04-26
A indústria nuclear contratou Christie Whitman, ex-administradora da Agência de Proteção do Meio Ambiente (EPA ou Environmental Protection Agency), e Patrick Moore, co-fundador do Greenpeace, a organização ambiental, para liderarem uma campanha de relações públicas por novos reatores. A energia nuclear é “ambientalmente amiga, acessível, limpa, confiável e segura”, disse Whitman em uma conferência jornalística na segunda-feira (24/04).
Whitman comandou a EPA quando esta publicou regras para a proposta de um repositório de detritos nucleares de alto nível em Yucca Mountain, Nevada. Depois de ter abandonado o cargo, tribunais se desfizeram das leis por estas cobrirem apenas os primeiros 10 mil anos de lixo armazenado, enquanto comunicados de radiação eram esperados para depois deste tempo.
Organizadores publicaram uma lista de 58 empresas e instituições, além de 10 indivíduos, que disseram ser membros de uma nova coalizão pela Energia Limpa e Segura, sobre a qual Moore afirmou que trataria “da defesa de seus fundamentos”. Um porta-voz do Instituto de Energia Nuclear (Nuclear Energy Institute), a associação comercial das operadoras dos reatores, admitiu o fornecimento de todo o financiamento, mas não disse o valor do orçamento.
Moore afirmou ser a favor da energia eficiente e renovável, mas acrescentou que as baterias solares, que geram eletricidade a partir da luz solar, começavam a “receber muita ênfase e a tomar muito dinheiro”. Um dólar gasto na energia geotérmica, disse, era de “10 a 12 vezes mais eficiente na redução da emissão de gases estufa”. Moore é diretor de uma empresa que distribui sistemas geotérmicos no Canadá.
Moore, que deixou o Greenpeace em 1986, é a favor de muitas tecnologias a que alguns ambientalistas se opõem, inclusive a engenharia genética de safras, e se referiu a seus antigos colegas como “extremistas ambientais” e “anti-humanos”. Moore disse que o Greenpeace estava errado em se opor à energia nuclear, que afirmou ser essencial para a redução dos gases que causam o aquecimento global.
Coincidentemente, o Greenpeace publicou uma nota na segunda-feira sobre 200 falhas em usinas de energia nuclear nos Estados Unidos, que descreveu como “quase fracassos”, desde 1986. A nota simbolizou a comemoração do 20º aniversário da explosão da usina nuclear de Chernobil, na antiga União Soviética.
(The New York Times, 26/04/06)
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