Dólar baixo derruba renda de recicladores
2006-04-26
Há cerca de três anos, Lizonete Fagundes, de 38 anos, trocou a profissão de doméstica pela reciclagem de lixo na Associação de Recicladores Esperança, atraída pelo bom rendimento. Hoje, se tivesse que fazer a mesma opção, continuaria onde estava. Motivo? A baixa repentina nos preços dos papéis, papelões e outros produtos reciclados pagos aos que coletam esses materiais nas ruas da cidade ou os recebem diretamente da Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap).
O drama que Lizonete enfrenta é um reflexo direto da crise no setor. O quilo do papel misto, que valia R$ 0,70, caiu para R$ 0,03. O mesmo ocorreu com o papel branco, que valia R$ 0,37 o quilo e hoje está em R$ 0,26. Com o papelão o problema é semelhante - chegou a render R$ 0,27 o quilo e agora está em R$ 0,13, assim como as caixas de embalagens de leite longa-vida, que estava cotado a R$ 0,13 o quilo e caiu para R$ 0,07.
"Isso acontece por causa do baixo valor do dólar, que reduziu as exportações, alimentado pelo gripe aviária, responsável por uma redução ainda maior nas vendas externas", explica o assessor técnico da Comcap Luiz Carlos Leotílio de Mello, preocupado com a crise no setor. Outro agravante é o comunicado dos compradores de papel de Santa Catarina informando sobre a suspensão dos negócios, "o que está nos obrigando a buscar mercados no Paraná e São Paulo, para não deixar esse pessoal na mão", explica.
Atualmente existem 475 recicladores cadastrados em Florianópolis, atuando ao lado de outros cerca de 350 a 400 que atuam informalmente, vindos de outros municípios da região, responsáveis pela coleta mensal de aproximadamente 400 toneladas, volume maior que a coletiva seletiva promovida pela Comcap - entre 120 e 130 toneladas mês.
Somente a Associação dos Coletores de Materiais Recicláveis que funciona nas proximidades das cabeceiras das pontes Pedro Ivo Campos e Colombo Salles, na Ilha, reúne 90 associados, coletando papelão (78 toneladas), plásticos (50 toneladas), metáis em geral (12 toneladas) e alumínio (duas toneladas), todos os meses. A situação preocupa, pois vai representar uma queda no rendimento que eles vinham alcançando.
"Com essa atividade eu consegui uma boa casa, um bom carro e uma boa televisão", conta o presidente da entidade, Luiz Carlos Rodrigues dos Santos, 43 anos, natural de Chapecó e residente em Vila Aparecida, no Continente. Um número ainda mais preocupante é dado pelo assessor técnico da Comcap, Luiz Mello: há cerca de dois anos, uma família conseguia levantar entre R$ 1,2 mil e R$ 1,8 mil de renda mensal e hoje esse valor está na casa dos R$ 250.
(A Notícia, 26/04/06)