Farelo transgênico é exportado desde 2003 no Paraná
2006-04-26
Um dos principais argumentos usados pelos terminais privados para obter na
Justiça Federal a liminar que permitiu o escoamento de soja transgênica pelo
Porto de Paranaguá foi o fato de a estrutura portuária ser usada desde 2003
para a exportação do farelo feito com esse tipo de grão. Os armazéns recebem
essa carga sem restrições e podem embarcá-la por qualquer uma das áreas de
atracagem (berços) do corredor de exportação – que atende a sete empresas e ao
silo público.
Segundo a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), o escoamento
de farelo contendo material geneticamente modificado foi autorizado no fim de
2003. O produto, obtido após o esmagamento da soja para a obtenção de óleo, é
exposto a um alto risco de mistura entre grãos convencionais e transgênicos.
O óleo “herda” porcentuais muito baixos de transgenia. “Já no farelo as
características dos grãos transgênicos se mantêm e são facilmente
identificáveis”, diz Marcelo Malaghini, responsável pela área de biologia
molecular do laboratório Frischmann Aisengart – empresa habilitada pelo
Ministério da Agricultura para fazer testes em organismos geneticamente
modificados. O especialista diz que pode-se detectar a presença de transgênico
em quantidades muito pequenas, de até 0,1% de uma carga.
Os exames também são capazes de detectar a mistura entre grãos convencionais e
farelo feito com soja transgênica. “Alguns países, como Estados Unidos e
Argentina, permitem qualquer nível de mistura”, diz Malaghini. No Brasil, a
lei determina a rotulagem quando a composição de um produto tiver mais de 1%
de transgênicos.
Para evitar o risco de mistura, a Appa restringe a movimentação de farelo aos
silos particulares e faz o embarque de forma separada. Nada impede, porém, que
os mesmos berços sejam usados para escoar os dois tipos de mercadoria. “Depois
de cada embarque é feita a higienização das correias”, diz Carlos Albuquerque,
assessor da presidência da Federação da Agricultura do Paraná (Faep).
Ele destaca que em 2004 a versatilidade do porto foi testada com a exportação
simultânea de soja, farelo e milho, e com a importação de fertilizantes. Por
isso, os terminais privados podem continuar a briga na Justiça para eliminar a
única restrição imposta pela Appa para o embarque de soja transgênica: só uma
área de atracação será usada para esse tipo de produto no corredor de
exportação.
Terminais estudam seguir com disputa
Os terminais portuários interessados em escoar soja transgênica decidem em
reunião marcada para a manhã de hoje se insistirão na disputa judicial para
liberar a exportação desse tipo de grão por todos os três pontos de atracagem
(berços) do corredor de exportação. “É fato que a liminar não foi completamente
atendida porque ela não dá abertura para qualquer tipo de restrição”, diz o
advogado Marcelo Teixeira, que representa a Associação Brasileira de Terminais
Portuários (ABTP), entidade que obteve a liminar que autoriza o escoamento da
soja modificada.
Teixeira afirma que a liberação de apenas um berço para a soja transgênica
reduz em um terço o potencial de exportação do produto. “Mas é preciso
convencer a Justiça de que há prejuízos com isso”, completa. Representantes
dos terminais disseram que são a favor da continuação da briga jurídica.
(Gazeta do Povo, 24/04/06)
http://canais.ondarpc.com.br/gazetadopovo/economia/conteudo.phtml?id=557704