Telemetria por satélite esclarece rota migratória das baleias jubarte no Atlântico Sul
2006-04-25
As hipóteses científicas sobre a área de migração das baleias jubarte que vivem no Atlântico Sul estão deixando de ser vagas. Tudo porque um grupo de pesquisa internacional acaba de concluir o primeiro trabalho de telemetria por satélite da espécie Megaptera novaeangliae. Os resultados, que serão apresentados na próxima edição do periódico Marine Ecology Progress Series, são fundamentais para que a preservação da espécie possa ser mais bem conduzida.
“Tínhamos uma pergunta em mente bastante importante”, conta Alexandre Zerbini, pesquisador brasileiro sediado hoje na Universidade de Washington, Estados Unidos, e o primeiro autor do estudo. “Se as jubarte estão aumentando no Brasil e continuam raras nas Ilhas Geórgia do Sul (Antártida), onde já foram abundantes, para onde elas estão indo?”
A resposta agora está clara, depois que 11 exemplares da espécie (três fêmeas e quatro machos) foram monitorados durante o verão de 2003. “O estudo mostrou que as baleias se alimentam cerca de 300 a 500 quilômetros ao nordeste da Geórgia do Sul e próximo às Ilhas Sandwich do Sul”, explica o pesquisador.
Ao longo do período analisado, os animais nadaram, em média, 1.673 quilômetros em 39,6 dias. Um dos exemplares, uma fêmea, navegou em 205 dias longos 7.258 quilômetros. Todo eles partiram do litoral do Brasil entre outubro e final de dezembro. Praticamente todas as baleias seguiram quase que em linha reta para o sul, em direção às áreas de alimentação.
“Esses dados obtidos da telemetria são muito importantes para definição das rotas migratórias de todo o grupo. A partir disso, é possível propor áreas de proteção. Ainda não se sabe se todo o Atlântico Sul precisa tornar-se um santuário, ou apenas parte dele”, explica Zerbini.
Além disso, como a empresa Shell é uma das patrocinadoras do projeto, os dados também serão utilizados para medir o impacto da exploração petrolífera em águas nacionais sobre as populações baleeiras. “Outra aplicação interessante será verificar se os exemplares brasileiros estão misturando-se com animais de outras populações, como da África, por exemplo."
Toda a tecnologia usada para o estudo das baleias jubarte que vivem na costa do Brasil foi desenhada pela equipe de Mads Peter, pesquisador do Instituto da Groenlândia para os Recursos Naturais e também um dos autores do artigo. “O transmissor é implantado por meio de uma vara de carbono na camada de gordura da baleia. O marcador fica preso na proa de um bote inflável. É feita uma aproximação, então, para a instalação do equipamento”, explica Zerbini.
Os mapas gerados agora pela tecnologia instalada nos animais são as ferramentas essenciais para que a recuperação da população de baleias na região do Atlântico Sul possa continuar. Os cientistas já sabem que as jubarte, por volta de 1900, alimentavam-se muito próximo da Geórgia do Sul, em um raio de até 100 km. Mas tudo mudou depois da captura de 20 mil indivíduos na região em um prazo de 15 anos.
“Atualmente a população está em aparente recuperação”, explica Zerbini. A estimativa é que existam 6 mil baleias vivendo no Brasil. “O problema é que isso representa apenas de 25% a 30% do tamanho inicial da população. Isso indica claramente que precisamos ter cuidado e que os esforços de conservação precisam ser mantidos”, defende o cientista.
Por Por Eduardo Geraque, Agência FAPESP