Na terceira sessão científica dos seminários avançados, promovida pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente da ENSP, os pesquisadores Josino Moreira, Paula Sarcinelli, Frederico Peres e Armando Meyer falaram sobre a pesquisa realizada na Região do Córrego do São Lourenço, em Nova Friburgo (RJ), que trata da exposição dos moradores da região aos pesticidas. A pesquisa revelou uma realidade preocupante: o Brasil é o quarto maior consumidor de agrotóxicos no mundo.

Josino iniciou a sessão fazendo um breve histórico sobre a realização da pesquisa. Disse que havia grande preocupação com a falta de orientação dos agricultores em relação ao uso de pesticidas e aos seus efeitos na população local. Ele fez um diagnóstico da região, que é a principal produtora de couve-flor do país, para, em seguida, falar das bases do projeto. “Nosso trabalho consistiu na análise do processo de trabalho regional, seguida da avaliação da exposição/contaminação humana e ambiental por agrotóxicos, da comunicação de riscos e estratégias educativas à população e da análise da percepção de riscos”, explicou.

O pesquisador revelou que a região consome cerca de 8,2 toneladas de agrotóxico por ano. Outro fator surpreendente é que os agricultores da região consomem anualmente 56,5 quilos de agrotóxicos por ano, superando o consumo no Estado de São Paulo, com 28 quilos, e do Rio de Janeiro, com 3,2 quilos por trabalhador por ano. As principais conseqüências dessa absorção são dores de cabeça e tremores.

Em seguida, Frederico Peres falou sobre a percepção de risco dos moradores locais. Segundo o pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP/Fiocruz), os trabalhadores tinham alguma informação sobre o uso dos pesticidas, porém essa informação era de má qualidade. Dessa forma, os pesquisadores concluíram que as informações obtidas pelos agricultores deveriam ser analisadas.

Segundo Frederico, as embalagens de agrotóxicos devem conter informações e ilustrações claras. Os pesquisadores fizeram testes com trabalhadores para saber como eles interpretam a frase e a ilustração do fabricante no rótulo do produto. “A maior parte dos agricultores não soube decifrar as ilustrações e muitos se confundiram com as frases emitidas pelo fabricante”, relatou.
(Cedoc - Centro de Documentação e Informação, 24/04/06)