Mais de 8 mil russos morreram por causa de Chernobyl
2006-04-25
Mais de 8 mil russos morreram em decorrência do desastre nuclear em Chernobyl há 20 anos, segundo autoridades sanitárias disseram na segunda-feira (24/04), em meio a uma disputa sobre o número de mortes e efeitos a longo prazo na saúde causados pelo acidente. Vladimir Demidov, representante do Ministério da Saúde responsável pelos assuntos ligados a Chernobyl, disse que entre 7 mil e 8 mil russos morreram por causa do acidente, e cerca de 60 mil foram declarados inválidos, devido aos danos prolongados causados à saúde.
A explosão no reator número 4 de Chernobyl liberou uma nuvem de radiação pela norte da Ucrânia, oeste da Rússia, Bielo-Rússia e grande parte do norte da Europa durante um período de dez dias. O número de mortes ligadas à explosão, que liberou 400 vezes mais radiação do que a bomba atômica americana sobre Hiroshima, continua sendo muito debatido, ainda que pelo menos 31 pessoas tenham morrido como resultado direto, na tentativa de conter o fogo.
Os números do Ministério da Saúde aparentemente contradizem outras estimativas, incluindo dois estudos das Nações Unidas. Um relatório feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado na semana passada, disse que cerca de 9.300 pessoas em todas as áreas afetadas estavam suscetíveis a morrer de cânceres causados pela radiação. Um estudo feito pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e muitos outros grupos das Nações Unidas, conduzido no ano passado, chegou a uma conclusão similar, predizendo que o desastre causaria cerca de 9 mil mortes.
Organizações ambientais descartaram os números das Nações Unidas como sendo muito minimizados. Alguns grupos, incluindo o Greenpeace, instituíram números até dez vezes maiores. Vladimir Chuprov, um especialista do Greenpeace da Rússia, chamou os números das Nações Unidas de "uma ordem política do lado da indústria nuclear, que está tentando se reabilitar e superar o maior obstáculo diante do renascimento nuclear do qual todos estão falando".
Vyacheslav Grishin, presidente da União de Chernobyl da Rússia, também descartou os números das Nações Unidas e do Ministério da Saúde russo. Ele disse que aproximadamente 30 mil trabalhadores russos envolvidos na limpeza das áreas atingidas, e que morreram desde o acidente, pereceram como resultado de doenças físicas e psicológicas. Ele exigiu que o governo pague US$ 73 milhões aos trabalhadores de limpeza de Chernobyl como compensação. "Eles precisam receber cuidado e compaixão", disse Grishin.
Enquanto isso, o chefe de saúde pública da Rússia expressou preocupação com os cerca de 1,5 milhões de russos vivendo em áreas contaminadas pela radiação do Chernobyl que consomem regularmente alimentos radioativos. Gennady Onishchenko disse em uma declaração que por volta de 4.300 cidades e vilas em 14 províncias russas estão localizadas em áreas contaminadas pelo acidente.
(AP, 24/04/06)
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