Universidade de Mato Grosso tem escritório de advocacia ambiental sobre Amazônia
2006-04-25
Começou a funcionar na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) o primeiro
escritório modelo de advocacia ambiental na Amazônia. A iniciativa é cercada
de nobres motivações. A principal é entender o que acontece com os milhares de
processos decorrentes de infrações de desmatamento, que quase nunca geram
algum resultado num período razoável. O desafio: reduzir o tempo de tramitação
desses casos em um terço do habitual.
Essa situação de morosidade e relaxamento na cobrança de responsabilidades nos
diversos processos abertos por crimes na Amazônia não é exclusividade de um ou
outro estado. E já foi comprovada por estudos recentes do Instituto do Homem e
Meio Ambiente na Amazônia (Imazon). Os pesquisadores Paulo Barreto e Brenda
Brito, por exemplo, já mostraram que de todas as multas aplicadas pelo Ibama
no Pará, entre 2000 e 2003, apenas 2% delas foram pagas.
O estudo serviu também para mostrar que vale mais a pena dar prioridade aos
maiores processos em vez de se amontoar em pequenos casos, já que 84% do valor
total das multas equivalem a 16% das infrações. Ou seja, é muito mais
importante resolver pontualmente os maiores processos, pois são eles os grandes
responsáveis pelo desmatamento, multando menos e mais assertivamente. “Para o
sistema funcionar melhor, a estratégia de fiscalização deve estar voltada aos
maiores. Não adianta focar as ações em batidas nas estradas, fazer volume de
multas em centenas de caminhoneiros, diversos pequenos casos difíceis de
encontrar o verdadeiro responsável”, diz Barreto.
Os 60 mais
Com base nisso, os coordenadores do escritório modelo decidiram inaugurar os
trabalhos acompanhando e agilizando os processos dos 60 maiores desmatamentos
ocorridos em Mato Grosso nos últimos três anos. E o estado não foi escolhido
para sediar o escritório por acaso. “Desde que a lei de crimes ambientais foi
regulamentada, notamos um aumento na aplicação de multas”, diz Barreto. Além
disso, Mato Grosso tem um sistema de licenciamento único que mostra, através de
imagens de satélite, a situação florestal das propriedades, o que permite
estabelecer termos de ajustamento de conduta (TACs) e promover a aplicação de
multas com mais facilidade, caso seja necessário. “Já que o número de multas é
alto e existe sistema de informação, temos oportunidade de monitorar o que está
acontecendo”, sugere o pesquisador do Imazon.
Doze estudantes de direito da UFMT já estão trabalhando no escritório,
inaugurado no dia 6 de abril com o apoio do Instituto Centro Vida (ICV) e do
Imazon. Sob a coordenação dos professores Carlos Irigaray e Lafayette Novaes
Sobrinho, eles terão acesso a processos administrativos no Ibama e da
Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), além dos que já estão tramitando
em esfera criminal no Ministério Público. “Às vezes os processos ficam parados
dependendo de uma providência, um despacho, uma manifestação. Vamos tentar
cobrar por agilidade, e resolver esses pontos que estejam faltando”, explica
Irigaray. “Essa é uma necessidade concreta do MP, que tem estrutura pequena
para o tamanho de sua demanda”.
Além da conclusão desses processos que se arrastam há anos, Irigaray está
otimista quanto ao aumento do interesse e na capacitação de seus alunos para
atuarem na advocacia ambiental, com viagens às comarcas do interior para
entenderem melhor por que esses casos custam tanto a serem concluídos. “A
partir desses 60 maiores processos decorrentes de multas por desmatamento
vamos ampliar a atuação do escritório, sempre dando prioridade aos crimes mais
importantes”.
Os primeiros resultados na interferência do escritório nos processos são
esperados para outubro deste ano. “Antes de começarmos os trabalhos, vamos
fazer um levantamento para saber como os processos ficaram depois que o
escritório modelo se envolveu”, explica Brenda Brito, advogada do Imazon. Ela
espera que, com o sucesso da experiência, haja ainda mais incentivos para que
a iniciativa se expanda para os demais estados amazônicos.
(Andreia
Fanzeres, O Eco, 20/04/06)
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