Cuba procura por investimento estrangeiro nas usinas de cana-de-açucar
2006-04-21
Pela primeira vez, Cuba está procurando por investimento estrangeiro em suas usinas e cultivo de cana-de-açúcar desde que nacionalizou a indústria logo após a Revolução de 1959, foi o que disseram os cubanos e algumas fontes estrangeiras nesta semana, conforme nota divulgada pela Agência Reuters, dia 13 de abril. Pelo menos três companhias, todas com grande experiência de negócios em Cuba, fizeram propostas para investir e administrar usinas, plantações e adjacentes de cana. Entretanto, as companhias querem permanecer anônimas enquanto prosseguem as negociações. "Disseram que agora foi dado o sinal verde para a discusão sobre usinas e cultivo”, disse um potencial investidor.
As fontes de informação advertiram que uma negociação muito dura está pela
frente, antes que o primeiro contrato para estabelecer uma usina possa ser
assinado. “Os investidores querem administrar as usinas e mais uma grande
porcentagem de ações, e ainda pagar os trabalhadores”, disse um cubano perito em açúcar.
Teoricamente, a indústria de açúcar esteve aberta ao investimento direto por uma década, mas, na prática não houve nenhum interesse até agora por parte do governo, exceto em alguns derivados e especulações mecânicas, disseram as fontes de informação.
O Ministério do Açúcar recentemente formou a “Zerus”, uma companhia autorizada a assinar empreendimentos conjuntos. O diretor da Zerus, Jose Rivera Ortiz, disse recentemente ao noticiário semanal “Opciones” que Cuba estava interessada em formar empreendimentos para produzir o açúcar, melaço, ethanol, álcool, energia e outros derivados, e que as "negociações obviamente incluem os recursos necessários para o desenvolvimento da cana-de-açúcar."
Um grande obstáculo é a “lei Helms-Burton” dos Estados Unidos, que penaliza o investimento em propriedades norte-americanas desapropriadas e contém ainda um capítulo a ser implementado permitindo que os Cubano-Americanos processem os investidores que "trafeguem" em suas propriedades desapropriadas.
Uma vez que o maior exportador de açúcar bruto do mundo propôs alcançar 8
milhões de toneladas em 1990, a indústria cubana de açúcar esteve em declínio desde que a antiga União Soviética desmoronou, privando-a de um mercado preferencial.
Após séculos sendo uma economia de monocultura, hoje, as exportações de açúcar representam menos de 5% das receitas externas de Cuba. Cuba fechou e desmontou 71 de suas 156 Usinas em 2003 quando os preços do açúcar bruto eram por volta de US$.05 por libra, e relegou 60 por cento das plantações para outros fins.
A desastrosa colheita de 1.3 milhões de toneladas no ano passado, a menor em um século, resultou em mais falência, e apenas 42 usinas foram abertas este ano. As demais continuaram fechadas.
Todas as usinas cubanas, com exceção apenas de 85, foram construídas antes da Revolução e, consequentemente, nacionalizadas, e a maioria das plantações estão em terras desapropriadas.
Mas os preços do açúcar mais do que triplicaram desde 2003 enquanto os preços elevados do petróleo resultaram no aumento de interesse pelo álcool
proveniente da cana como um combustível alternativo para veículos motorizados.
"Os preços estão muito altos e espera-se que irá permanecer assim num futuro próximo, sendo assim, tanto o governo quanto os investidores têm um grande incentivo," disse um economista cubano.
Cuba planeja impulsionar a safra que começa em 2006 aumentando a área de terras, utilizando fertilizante e herbicidas, comprando novos equipamentos e reabrindo umas 30 usinas.
O presidente Fidel Castro, alarmado pelo declínio da indústria e preços tão
elevados, realizou uma reunião de emergência em fevereiro. Castro solicitou
relatórios diários das 42 usinas em operação, um plano de plantio e mais
suprimentos, disse também que as peças-reserva para o equipamento agrícola
deveriam estar circulando na Europa, de acordo com um resumo da reunião
assistida pela Reuters.
As Ilhas Caraíbas consomem no mínimo 700 mil toneladas de açúcar anualmente e 400 mil toneladas são destinadas a uma tarifa especial acordada com a China.
(Reuters, 13/04/06)