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2006-04-24
Depois de vários dias de calmaria, o nordeste soprou forte na tarde de 19 de abril, durante a visita do presidente Lula às obras da usina eólica de Osório, que vai produzir eletricidade aproveitando a força dos ventos do litoral norte do Rio Grande do Sul. Até uma claque petista se misturou aos 500 convidados reunidos debaixo de barracas de lona branca, ao pé de uma das torres da primeira linha de oito aerogeradores, onde o presidente permaneceu por uma hora e meia, cercado por um forte (e muito discreto) esquema de segurança. A visita presidencial rendeu uma folga geral para os 800 trabalhadores do canteiro de obras.

Tão logo chegou ao parque eólico, Lula foi levado a um painel onde apertou um botão. Era o sinal para o acionamento do aerogerador, que imediatamente começou a girar no sentido anti-horário. O vento com rajadas de 20 km/h era suficiente para o gerador chegar ao máximo (22 rotações por minuto), mas a máquina permaneceu girando lentamente, sob controle de uma equipe instalada no interior da sua carenagem, lá em cima, a 100 metros de altura.

Enquanto rolavam os seis discursos que consumiram um total de 52 minutos, o gerador foi travado e em seguida suas pás passaram a girar no sentido horário. Ficou demonstrado que o mecanismo funciona, mas a geração de energia para valer ainda depende do término — prometido para os próximos dias — da subestação que enviará a eletricidade para a base de distribuição da CEEE, a oito quilômetros dali. A usina está para entrar na fase pré-operacional, com testes controlados pelos técnicos da Eletrobrás.

Várias autoridades estiveram no canteiro de obras, mas o destaque foi todo para a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, festejada como a principal responsável pelo deslanche do programa nacional de energias alternativas. Num clima de quase confraternização, os pioneiros da exploração do vento exorcizaram o fantasma do apagão florestal, mas esqueceram a crise política que ronda o governo Lula. A seguir, um resumo das falas.

Romildo Bolzan Jr., prefeito de Osório (falou por 5 minutos):
“Não foi de graça que se chegou aqui. Houve muito planejamento, muito trabalho. Osório deu origem a muitos municípios, perdeu arrecadação e demorou muito tempo para achar sua vocação econômica. A energia eólica é um novo caminho, mas gostaria de lembrar que a duplicação da BR-101 recupera toda uma região. Obrigado, presidente, por esse investimento”.

Guillermo Planas Roca, diretor da Enerfin, sócia da usina (8 minutos):
“O ponto de partida desta obra foi o nosso primeiro encontro com a então secretária de Energia, Dilma Rousseff, em 1999. O vento é uma força usada desde tempos remotos na navegação, na elevação de água e na moagem de grãos. A geração de energia é uma realidade. Hoje há mais de 60 mil MW instalados no mundo. Quero agradecer a colaboração, a confiança e a paciência dos proprietários que aceitaram ser nossos parceiros. Este não é um investimento especulativo que vai produzir energia limpa equivalente a 200 mil barris de petróleo, deixando de gerar 110 mil toneladas de CO2. É um projeto-fronteira de alta cooperação internacional. É globalização da boa.”

Silas Rondeau Cavalcanti da Silva, ministro de Minas e Energia (10 minutos):
“Este empreendimento baseia-se numa lei de setembro de 2002, que criou o programa de produção de energias alternativas. Em dezembro de 2007, o Brasil estará produzindo 3300 MW de novas energias. Com isso, o Brasil estará atendendo o Protocolo de Kyoto. Com a produção de energia hidrelétrica, eólica e o programa de biodiesel, o Brasil vai fazer jus aos créditos de carbono.”

Germano Rigotto, governador do Estado (9 minutos):
“Fui duas vezes à Espanha para ajudar a viabilizar este empreendimento. Na primeira vez, fui conhecer a produção de energia eólica. Na segunda, fui garantir a participação do Banrisul e da CaixaRS no financiamento do projeto. De fato, o Rio Grande do Sul está contribuindo para a diversificação da matriz energética. Além da exploração do vento, nós temos o carvão mineral e a biomassa. Esta semana foram anunciados quatro projetos de geração de energia que aproveitarão a casca de arroz e cavacos de madeira no Estado.”

Lula (15 minutos):
“Quero cumprimentar especialmente os trabalhadores que estão ali de capacete e macacão. Alguns põem o dinheiro, outros trazem o projeto, mas quem faz as coisas acontecer são os trabalhadores (PALMAS). Durante muito tempo, me reuni com muita gente para discutir planos para o Brasil. Geralmente eram homens, pois ninguém pensava em mulher para o ministério. Perdi três eleições. Numa reunião, ela chegou com um lap top e se mostrou muito preparada. Tanto que resolvi colocá-la no Ministério de Minas e Energia. Todo mundo se lembra do apagão de 2001. No Sul os reservatórios estão cheios, mas a energia não podia ser levada para São Paulo por falta de linha de transmissão. E nós resolvemos investir. Esse programa vai terminar em 2007. Em cinco anos, nós teremos construído 22% das linhas de transmissão construídas neste país em 122 anos. Mas não é só isso. Em Piracicaba nós criamos um centro de pesquisas e desenvolvimento. Criamos o Proinfa. Criamos o Biodiesel. E recuperamos o álcool, que era o patinho feio da produção energética. Este ano o Brasil vai exportar 2,5 bilhões de dólares de álcool. Mas não podemos esquecer que a energia hídrica ainda é a mais barata para nós. Quero que a Dilma fale porque foi ela que gerou e colocou esse filho no papel”.

Dilma Rousseff, ministra da Casal Civil (5 minutos):
“Com este projeto da Ventos do Sul (o nome é muito significativo), nós estamos dando mais um passo na diversificação das nossas fontes energéticas. Aqui no litoral norte do Rio Grande do Sul, que se firmou historicamente como área de lazer, ainda faltava energia na década de 90. É bom lembrar que outros países com grandes territórios como a China e a India não têm acesso a fontes energéticas tão diversas quanto o Brasil. Quero aproveitar este momento para lembrar o nome de algumas pessoas que contribuíram para viabilizar a energia eólica como alternativa no Sul: o engenheiro Walter Luiz Cardeal de Souza, a ex-secretária de Energia Claudia Hoffmeister e os engenheiros Claudio Custódio e Anderson Dornelles, que cuidaram da medição dos ventos”.
Por Geraldo Hasse, de Osório, para O Diário dos Ventos, série exclusiva do Ambiente Já e Jornal Já – www.jornalja.com.br.

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