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2006-04-24
Apesar do esforço do governo para assegurar um conteúdo nacional mínimo de 60% nas encomendas da Petrobras, a indústria nacional de serviços de petróleo não terá capacidade de atender todas as obras previstas no programa de investimentos da companhia e parte das plataformas que irão sustentar a auto-suficiência do país em petróleo até 2010.

O resultado é que boa parte dessas obras serão feitas no exterior, contrariando promessa feita em 2002 pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

"Temos algumas plataformas previstas para serem construídas fora do Brasil, porque não há capacidade [da indústria nacional] provável no tempo que nós precisamos [das plataformas para garantir a sustentabilidade da auto-suficiência]. A nossa rapidez e o nosso volume cresce mais rápido do que a indústria", afirmou José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, em entrevista à Folha.

Mesmo explicitando a falta de capacidade da indústria em atender os pedidos da estatal, Gabrielli ressaltou que os preços das grandes encomendas, diferentemente do que previam os críticos às regras de conteúdo nacional, não subiram. Pelo contrário: hoje uma plataforma construída no Brasil sai mais barata do que uma similar adquirida no exterior.

"O conteúdo nacional, ao contrário do que se previa, tem hoje uma situação de custos menores do que em outros países. A P-51 e P-52, grandes plataformas de 150 mil barris que estão sendo construídas na ótica do conteúdo nacional, têm custos menores do que outras plataformas que temos neste momento sendo construídas para uso no exterior", disse.

O que aconteceu, afirma, foi um aumento generalizado nos preços provocado pela alta da cotação do petróleo e do aço (um dos principais insumos empregados nos equipamentos) e o aquecimento no volume de encomendas: "Aconteceu em todo mundo, mas no Brasil em menor intensidade".

Apesar de rejeitar a idéia de aumento de custos decorrente da nacionalização, Gabrielli afirmou que ainda falta "o teste do prazo" às recentes encomendas de plataformas feitas no Brasil. Disse, porém, que tal problema é mundial: "São operações complexas que precisam ser muito bem coordenadas. O problema de prazo mão é um problema de conteúdo nacional. É um problema mundial".

Na avaliação de Gabrielli, o conteúdo nacional foi um acerto da gestão do PT. "Foi um posicionamento correto porque com isso melhorou a capacidade de barganha e de negociação da Petrobras com seus fornecedores. Além do mais, [isso] aumenta a capacidade de supervisionar a execução dos projetos", declarou.

No futuro - Gabrielli traçou ainda planos para o futuro da companhia. Para o executivo, diferentemente da maior parte dos países do mundo, nos quais as reservas de petróleo estão em fase de declínio, o horizonte do fim da era do petróleo "é muito mais longo" para o Brasil.

É que metade das reservas provadas brasileiras (13 bilhões de barris) ainda não foram desenvolvidas. Por uma questão de estratégia, o presidente da Petrobras não diz quanto tempo o país terá para usar suas reservas.

Do lado da demanda, diz Gabrielli, a companhia se prepara para entrar com força na biomassa, tanto no álcool como no biodiesel. "Estamos projetando construir fábricas de biodiesel. Biomassa e é uma vocação da Petrobras e do Brasil."

Produzir hidrogênio para movimentar veículos --uma alternativa já testada por algumas petrolíferas--, no entanto, ainda não está nos planos da Petrobras, segundo Gabrielli.
(Folha de S.Paulo, 23/04/06)

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