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2006-04-24
No início da década, só os mais persistentes conseguiam achar madeira certificada para usar como estrutura e piso ou decorar a casa com móveis feitos com ela.

Passados seis anos, a boa notícia para quem quer fugir da extração e do comércio ilegais que abocanham a maioria absoluta do mercado é que já há mais florestas e revendedores tanto de madeira certificada como de móveis, pisos e outros itens feitos com ela.

Desde 2000, a área de florestas certificadas mais do que quadruplicou no país: foi de 0,86 milhão de hectare para 3,65 milhões de hectares -em 2003, era de 1,44 milhão de hectare. Mesmo assim, só 3% do volume de madeira explorada na Amazônia - que tem no mercado paulista seu maior consumidor- é certificado.

"Ainda é pouco, mas o crescimento tem sido exponencial", confirma Luís Fernando Guedes Pinto, secretário-executivo da certificadora brasileira Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).

A diferença da madeira certificada para a legal (extraída e transportada com autorização federal) é que a primeira é obrigatoriamente plantada ou retirada de áreas onde a extração é controlada e há um intervalo para a mata se recuperar do desflorestamento.

Uma tática é dividir a área em 30 lotes e explorar apenas um por ano -assim, o terreno sofre retiradas uma vez a cada 30 anos. A certificação também indica que as empresas não utilizam trabalho escravo, infantil ou irregular.

Mais produtos certificados Segundo especialistas, o selo de certificação do FSC (Forest Stewardship Council), que tem uma árvore estilizada com um sinal de "visto", é a única maneira de ter certeza de que a madeira não é retirada nem vendida ilegalmente.

"Para saber se a origem é legal, pode-se pedir ao revendedor que mostre a ATPF [Autorização de Transporte de Produtos Florestais] do lote", explica Leonardo Sobral, gerente da Cikel. O problema é que não é fácil obter esse dado, nem se assegurar de que a ATPF não é "fria".

Outra diferença é que a madeira legal nem sempre indica a preservação da floresta. Há dois tipos de autorização de exploração -uma delas é a de desmatamento.

Nos últimos anos, também aumentou o número de empresas que conseguiram a certificação de cadeia de custódia, que checa de onde vem a madeira processada por serrarias, fabricantes e designers. Em 2000, apenas 21 tinham essa certificação; em 2005, eram 183. Há uma lista delas no site www.fsc.org.br. A madeira certificada é até 30% mais cara que a sem certificação.

Um dos principais entraves ao comércio em São Paulo é a concorrência com o preço baixo da madeira ilegal

Legalidade aumenta custo de certificada
Apesar do aumento da oferta, a expansão do uso de madeira certificada na construção esbarra na ponta final: o consumidor. Os depósitos de madeira -em especial os do Estado de São Paulo- são os que mais consomem as toras que vêm da Amazônia. Vendem para indústrias, construtoras e para o consumidor final, mas ele raramente sabe que pode optar pelas que levam o selo da certificação.

Outro gargalo é que ainda não há uma grande cadeia revendedora de madeira certificada. E, em muitos casos, ela é de 20% a 30% mais cara do que uma que não tem certificação. "É o custo da legalidade", pondera Mauro Armelin, 36, coordenador de políticas do WWF Brasil (World Wildlife Fund). "Deve-se levar em conta que, para baixar o preço, muitos operam irregularmente, exploram áreas alheias de modo predatório e usam mão-de-obra irregular", completa. "O paulista está acostumado ao preço menor porque o Estado recebe muita madeira ilegal", concorda Leonardo Sobral, da Cikel.

Em alguns casos, a diferença de preço quase inexiste. "Uma chapa de MDF certificado custa o mesmo que a comum", exemplifica Karla Aharonian, gerente de produtos ecológicos da Ecoleo (www.ecoleo.com.br).

Por outro lado, quem processa a madeira começa a partir para a certificação da cadeia de custódia, que traça todo o percurso da matéria-prima usada para fazer móveis, pisos e outros produtos e confirmar que é certificada.

"Aumentou o interesse por esse selo porque a demanda por produtos certificados vem crescendo. Com o aumento do consumo consciente, até pequenas empresas começam a se interessar", conta Karina Tagata, gerente de desenvolvimento de negócios da certificadora SGS do Brasil (www.br.sgs.com). "A certificação não onera o custo do produto", comenta Guido Otte, 56, presidente da Butzke, que vende móveis de eucalipto e é certificada desde 1998.

Diversidade - Um dos pilares da certificação, o manejo florestal também prevê que se explore boa diversidade de espécies para impedir a extinção.

"Devem-se evitar espécies exaustivamente exploradas, como mogno, peroba-rosa, pinho-do-paraná, ipê e aroeira", recomenda Geraldo José Zenid, do laboratório de madeira e produtos derivados do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo).

"Podem ser substituídas por madeiras alternativas e de reflorestamento", completa.

Em São Paulo, a estrutura do telhado é onde mais se consome madeira amazônica na construção. O costume faz muitos preferirem usar a peroba-rosa, e a exploração excessiva fez com que ela entrasse no rol das madeiras a serem poupadas. "Existem madeiras melhores, mas os profissionais muitas vezes não sabem disso", diz Zenid.

Plástico reciclado substitui madeira
Outra opção sustentável para a construção é a "madeira plástica". Além de poupar a madeira de verdade, dá um uso para sobras de plásticos como PET, polipropileno e polietileno.

A falsa madeira é produzida com esses plásticos, aliados a fibras vegetais, e geralmente é usada para fazer deques, cercas e estruturas leves.

Alguns designers e artesãos também começam a usar o material para fazer mobiliário, especialmente para áreas externas, como bancos e mesas, já que ele é bastante resistente a intempéries e também dispensa proteção com vernizes ou seladoras.

Outra vantagem é que, ao contrário da madeira, não há problema com cupins, muito sol ou umidade. Apesar de não possuir as diferenças de tonalidade das toras, tem várias opções de cores. Não há diferença entre o modo de trabalhar com a "madeira plástica" e a de verdade. As chapas podem ser cortadas, pregadas e aparafusadas.

ONDE ENCONTRAR
Idhea (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica): www.idhea.com.br;

Policog: www.cogumelo.com.br.
(Folha de S.Paulo, 23/04/06)

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