Aterro da Gerdau causa polêmica em Guaíba
gerdau
2006-04-20
A Gerdau aguarda licença da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para a construção de uma central própria de armazenamento de resíduos em Guaíba, com o objetivo de gerenciar os subprodutos industriais, serviço hoje terceirizado. A iniciativa, porém, vem sendo objeto de polêmica e já chegou à Câmara de Vereadores do município.
O vereador Caio Larréa é contrário ao empreendimento em função da proximidade com a nascente do arroio Passo Fundo, o mais antigo de Guaíba. "Não sou expert em meio ambiente e ecologia, mas dá pra imaginar que isso pode causar problemas", afirma. De acordo com ele, é inconcebível que o passivo das unidades de Charqueadas e de Sapucaia do Sul seja posto em Guaíba, ameaçando o local e a saúde dos habitantes. A empresa assegura que o risco de prejuízos para o município está controlado. O terreno, de 133 hectares, fica na estrada Ernesto Costa Gama, na localidade de Barão Vermelho.
O perigo desses dejetos, segundo Larréa, já foi mostrado em Sapucaia do Sul. "Houve protestos lá por causa disso, e agora estão trazendo para Guaíba", ataca o vereador, referindo-se a manifestações do Greenpeace contra a empresa em janeiro de 2001. Os ativistas acusaram a Gerdau, na época, de emitir metais pesados e compostos orgânicos altamente tóxicos.
O vereador conta que, em 17 de março, três dias depois de se pronunciar contra o projeto na Câmara Municipal, foi procurado em seu estabelecimento comercial por dois funcionários da Gerdau. Em conversa de pouco mais de uma hora, eles explicaram que a escolha de Guaíba para o empreendimento se deu por questões de localização e que haveria benefícios com o aterro, como empregos para motoristas e o cercamento do terreno, que pode ser realizado por uma empresa do município.
As razões não satisfizeram Larréa. "Isso é muito pouco para colocarem um lixão aqui". A crítica também vai para a falta de visibilidade do projeto. "Parece que nem o prefeito, nem o secretário de Meio Ambiente sabiam disso, só o secretário de Desenvolvimento Econômico e Emprego [Victorio Menegotto]", condena. De posse de adesivos com a inscrição "Gerdau: emprego, sim; lixão, não", o vereador explica que está preocupado com o futuro das próximas gerações. "Esse aterro pode trazer sérios problemas para nossos filhos, só quero que me provem que não acontecerá nada."
Justificativas da Gerdau
A Gerdau entrou com pedido de licença prévia em 19 de agosto do ano passado. De acordo com a assessoria da empresa, o projeto para implantação do aterro está baseado em estudos realizados pela Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), que considera a distância do terreno em relação aos recursos hídricos, as características do solo, a profundidade do lençol freático e a classificação da área conforme a legislação municipal e estadual. A avaliação levou também em conta aspectos sócio-econômicos, como o afastamento da área urbana e a proximidade das rodovias estaduais e federais.
O estudo indicou que a área escolhida apresenta solo com baixa permeabilidade e um grande afastamento dos níveis de águas subterrâneas e superficiais. O terreno terá um sistema de drenagem para captar a água que chega ao local e direcioná-la através de canaletas para uma estação de tratamento. Serão construídos, ainda, poços de monitoramento. A assessoria informa, ainda, que a central receberá os materiais do processo produtivo que não podem ser reutilizados. A armazenagem será realizada dentro de células construídas com materiais impermeáveis dispostas em camadas de geomembranas, que garantem o isolamento total dos materiais.
Quanto às críticas, a empresa afirma que "a definição por Guaíba teve como fundamento as condições geológicas e ambientais. Além disso, o Grupo Gerdau, por todo o seu histórico de seriedade e de qualidade no Rio Grande do Sul, não colocaria o seu nome em um empreendimento danoso a uma comunidade". A estimativa é de que os investimentos fiquem em torno de 9,6 milhões de reais, sendo R$ 4,6 milhões na implantação e R$ 5 milhões anualmente para manter a operação, e sejam gerados 10 empregos diretos e 50 empregos indiretos.
Prefeitura de Guaíba e Fepam em silêncio
Procurado pela reportagem do AmbienteJá, o prefeito de Guaíba, Manuel Stringhini, não quis se pronunciar. Já o secretário de Desenvolvimento Econômico e Emprego, Victorio Menegotto, afirmou que tanto ele quanto a Prefeitura ficaram sabendo do processo de licenciamento pelo próprio grupo Gerdau, antes mesmo de serem comunicados pela Fepam. "Como o projeto não está concluído ainda não vamos emitir nenhuma opinião", afirmou laconicamente. A Fepam também não comenta o assunto, e não há previsão para o fim dos estudos.
Por Patrícia Benvenuti