Cientistas sugerem produzir óleo a partir do carvão
2006-04-19
Cientistas americanos aperfeiçoaram um sistema para produzir petróleo sintético a partir do carvão, que pode ser uma alternativa viável à matéria-prima convencional no futuro se os preços continuarem subindo. Em um estudo publicado na revista "Science", na semana passada, um grupo de cientistas da Universidade da Carolina do Norte e da Universidade de Nova Jersey sugere que a criação desse tipo de petróleo pode ser a solução diante do fim das reservas de hidrocarboneto.
A pesquisa é apresentada no momento em que os preços do combustível se aproximam dos US$ 70 por barril, em um mercado volátil influenciado pelas crises políticas do Oriente Médio e pelo conflito gerado com as ambições nucleares iranianas. Segundo os cientistas, o processo feito em duas fases melhora um método já existente, que permite produzir um combustível alternativo mais limpo a partir do carvão através da transformação de seus resíduos em combustível diesel.
A viabilidade do método ganha força com o perfil das reservas energéticas dos Estados Unidos, que atualmente são formadas por apenas 2% de petróleo, 3% de gás e 95% de carvão. "Muitas pessoas no setor energético acham que, quando o petróleo começar a se esgotar, o carvão será uma fonte para o combustível destinado ao transporte antes de aperfeiçoarmos as fontes energéticas que têm como base a luz solar e o hidrogênio", afirmam os cientistas das duas universidades.
Por enquanto, a produção de combustíveis diesel é especialmente atrativa, porque os motores movidos a diesel são mais eficientes que os que operam com gasolina. O método "Fischer-Tropsch" de criar combustíveis sintéticos a partir do carvão existe desde a década de 20, e esse tipo de combustível já é usado por veículos de grande porte na África do Sul. De acordo com os cientistas, as empresas norte-americanas já manifestaram seu interesse nesse tipo de combustível que, além disso, emite menos partículas poluentes e menos monóxido de carbono que os a diesel convencionais.
"Já há empresas refinadoras interessadas, e o sistema pode ter competitividade se os níveis de preço chegarem aos US$ 100 por barril", afirmou Maurice Brookhart, professor de química do Colégio de Artes e Ciências da Universidade da Carolina do Norte e um dos autores do estudo. O problema do método "Fischer-Tropsch" é que, até agora, é considerado inviável devido a seu alto custo. "No entanto, com o alto preço do combustível, acho que em breve será um processo competitivo para fabricar combustíveis líquidos", disse Brookhart.
A reação "Fischer-Tropsch" cria compostos de hidrocarbonetos saturados com cadeias abertas chamados alcanos, como o metano e o etano. Alguns desses alcanos podem ser usados como combustível, mas há outros cujo peso molecular é muito baixo. Mas o processo desenvolvido pelos cientistas permite transformar um maior número de materiais que podem ser usados como combustíveis diesel, de acordo com o professor de química da Carolina do Norte. "Isto é feito através de um sistema catalítico duplo que nos permite pegar alcanos de baixo peso molecular e aumentá-lo a um nível adequado para o combustível diesel", disse.
O cientista disse que o sistema pode combinar um peso molecular muito baixo com alcanos de alto peso e conseguir hidrocarbonetos saturados de cadeia aberta, para produzir alcanos na categoria dos combustíveis diesel. Contudo, Brookhart advertiu que, apesar de o aperfeiçoamento do sistema ser promissor, a pesquisa está em fase inicial. "É preciso melhorias consideráveis nos sistemas catalíticos antes que sejam verdadeiramente práticos. Estamos trabalhando nisso", acrescentou.
(Carbono Brasil, 18/04/06)
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