Sociedade civil entrega carta de protesto à construção do gasoduto do Sul
2006-04-19
Organizações da Sociedade Civil de diferentes países, mas principalmente do Brasil, Venezuela e Argentina, entregarão uma carta dirigida aos presidentes Néstor Kirchner (Argentina), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Hugo Chávez (Venezuela), chamando atenção destes governos para a execução do projeto "Gasoduto do Sul". A carta será entregue hoje (19/4) aos presidentes, que estarão reunidos em Assunção (Paraguai) para discutir a construção do Gasoduto.
A carta chama atenção para os impactos na Amazônia resultantes da construção do mega gasoduto que partiria desde a desembocadura do rio Orinoco (Venezuela), atravessando o coração da Amazônia no Brasil ate chegar a Buenos Aires (Argentina) com o objetivo de transportar 150 milhões de metros cúbicos de gás Venezuelano por dia para a Argentina e Brasil e possivelmente Uruguai. Segundo as organizações responsáveis pelo documento, a construção do gasoduto de oito mil quilômetros trará conseqüências ambientais desastrosas, atravessará áreas ecológicas importantes, comprometendo o futuro do país. O projeto orçado em 20 bilhões de dólares percorrerá 522,5 quilômetros de uma região quase intocada da Amazônia, com biodiversidade desconhecida e onde vivem 22 populações indígenas.
O projeto "Gasoduto do Sul" não leva em consideração o grave impacto para a Amazônia, considerada o maior reservatório de água doce, de biodiversidade e habitat natural de muitos povos indígenas e tradicionais. Segundo a carta, esta mal chamada integração não conduziria nem a unidade, nem ao bem-estar dos povos do sul já que está fundamentada na exploração dos recursos naturais e na destruição do patrimônio biodiverso que existe nesta região. A obra pode causar ainda problemas no regime dos rios que serão atravessados pelo gasoduto, impactos como barreamento, poluição das águas e erosão. Para os ambientalistas, este projeto acrescentará à dívida ecológica e social da região.
A simples apresentação do projeto, sem consultar a sociedade civil, parlamentares e outros Ministérios como o do Meio Ambiente, que além dos impactos socioambientais carece de coerência econômica, financeira e estratégica, viola Convênios e Acordos de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (DESC) e outros Tratados Internacionais assinados por nossos países, e tem sido elaborado por meios oficiais sem contar com estudos prévios necessários em termos de factibilidade e impacto ambiental, sociocultural e econômico, denunciam as ONGs.
Os ambientalistas alertam ainda que o “atual modelo de desenvolvimento, baseado em combustíveis fósseis, está destruindo nossa diversidade socioambiental, sendo irresponsável continuar tendo uma visão de desenvolvimento baseado nesta fonte de energia. É necessário fomentar o desenvolvimento de fontes renováveis de energia, com base ecológica, que possam fornecer um combustível seguro, duradouro e socioambientalmente, economicamente, e politicamente responsável. Tais fontes incluem energia solar, eolica, mare-motriz, biocombustível e mini barragens. São nessa fontes de energia renováveis que deveria estar baseada a integração latino-americana”.
(Informações do Núcleo Amigos da Terra / Brasil, Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais e AMIGRANSA)