Estudo inviabiliza instalação do Pólo Siderúrgico em São Luís
2006-04-19
Os impactos ambientais que um empreendimento de grande porte causa para o local onde é instalado devem ser avaliados juntamente com o projeto do mesmo. Para que isso ocorra de forma adequada, precisa-se um de estudo detalhado da geologia e geomorfologia do ambiente, estudo este que São Luís não tinha até pouco tempo, e foi alvo da pesquisa que gerou a tese de doutorado da Profa. Dra. Ediléia Pereira, apresentado, ontem, à sociedade e comunidade acadêmica.
No estudo que teve como tema: "Avaliação da vulnerabilidade natural à contaminação do solo e do aqüífero do reservatório Batatã, a também geóloga pode criar um mapa geológico e geotécnico na escala de 1:20.000, isto é, com bastante precisão de detalhes sugerindo cuidados por parte dos gestores estaduais e municipais na escolha do modelo de desenvolvimento da região.
Para Ediléia, a Ilha de São Luís é um ecossistema frágil e suas reservas hídricas devem ser gerenciadas. Na definição dada a nossa ilha, disse que é a mesma é ladeada por água salgada e por falta de conhecimentos ou negligência as reservas aqüíferas estão sofrendo modificações bruscas com a intrusão salina, como aconteceram em vários poços da Caema que foram interditados por salinidade (alto teor de cloreto de sódio na água, ou popularmente chamada de salobra).
O destaque em suas pesquisas é a Bacia do Bacanga, onde o processo de ocupação desordenado das áreas marginais dos rios tem provocado diversos impactos ambientais, tais como assoreamento dos mangues, desmatamentos, aterramentos, impermeabilização do solo, erosão, contaminação da água e outras conseqüências à própria saúde da população.
O estudo dessa área subsidiou à geóloga a afirmar que a instalação da siderúrgica na ilha proporcionará danos enormes a todo ecossistema natural e urbano. Isso porque as condições geológicas e geotécnicas não favorecem a instalação da usina e as conseqüências vão desde o fechamento da reserva do Batatã até o crescimento demográfico desordenado.
Atualmente, segundo o IBGE, a densidade demográfica da ilha é de 800 pessoas por quilômetro quadrado que provavelmente triplique com o empreendimento. "Vai aumentar a capacidade de carga da ilha e tumultuar os serviços públicos que já são deficitários para os que moram aqui", destacou.
A professora deu ênfase para a vertente da ilha que é o turismo e não industrial, caso seja inevitável à instalação da siderúrgica que isso aconteça no continente. Como exemplo, ela cita a siderúrgica de Tubarão, em Vitória/ES, que os resultados negativos foram muitos: engarrafamento, palafitização, marginalidade e aumento do número de casos de câncer.
Os resultados desse estudo foram apresentados ontem no auditório da UFMA e cópias de CDs serão enviadas para o Ministério Público para que sirvam de base para as interferências realizadas no meio ambiente da Ilha de São Luís, e que podem causar sérios problemas a sustentabilidade desse patrimônio natural.
(Jornal Veja Agora, 13/04/06)